Os principais vestibulares do Brasil têm se apropriado cada vez mais de charges e tiras, muitas vezes com tons humorísticos, para avaliar os conhecimentos em Língua Portuguesa, História, Geografia e Ciências. São desenhos que retratam desde as questões sócio-políticas de diferentes épocas a, até mesmo, um simples diálogo entre personagens, muitas vezes ironizando dados e fatos, mas que exigem do aluno um bom nível de conhecimentos gerais para solucionar as questões das provas. Para aproximar os alunos ainda mais das charges e tiras, no dia 16 de abril, o Curso Positivo proporcionou a seus alunos uma palestra com dois dos maiores cartunistas brasileiros, Dante Mendonça e Alberto Benett, para dar dicas de interpretação dos tipos de tiras e charges mais usadas nos vestibulares.

De acordo com o professor Paulo Bearzoti Filho, coordenador de Língua Portuguesa do Curso Positivo e um dos idealizadores da palestra, as charges e tiras ganharam espaço nas provas de vestibular ainda na década de 1980, no processo seletivo da Universidade de Campinas (Unicamp) – pioneira no uso deste tipo de linguagem como avaliação da Língua Portuguesa. No Paraná, porém, estas ilustrações foram aderidas 10 anos depois, em 1996, quando a Universidade Federal do Paraná reformulou a prova de Produção de Textos. Desde esse exame, as charges e, mais recentemente, as tiras de quadrinhos sempre têm estado presentes, seja nos testes da primeira fase, seja nas propostas de redação da segunda fase, lembra Bearzoti.

Na mesma época em que a UFPR aplicou tais ilustrações, outros grandes vestibulares do país também reformularam suas provas, iniciando o uso de charges e tiras, como: Fuvest, Vunesp, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal de Goiás dentre outras grandes instituições de curso superior e que estão na lista dos vestibulares mais concorridos do Brasil. Vale destacar também que o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) sempre cobrou tiras em quadrinhos, desde sua primeira edição, em 1998, ressalta o professor. 

Paulo Bearzoti também explica a diferença entre a utilização das charges e das tiras. Segundo ele, as charges, por fazerem parte do universo do Jornalismo, exploram as notícias do momento em que são produzidas. Por isso, há maior dificuldade em compreender charges que fazem referência a questões passadas, de contextos já não mais discutidos. Portanto, se o aluno quer obter o sucesso nas interpretações das charges, é necessário acompanhar os noticiários, fato ressaltado pelo cartunista Benett aos alunos do Curso Positivo. Já as tiras se utilizam mais de mecanismos linguísticos para produzir efeito de humor, como a ambiguidade, que dá duplo sentido à frase e ao contexto ali retratado. Porém, isto não é característica exclusiva das tiras, sendo que pode aparecer também nas charges.

Para o bom preparo dos alunos quanto à interpretação das ilustrações, segundo Bearzoti, os professores devem, primeiramente, analisar as características dos textos e de que forma são introduzidos na sociedade, seja pelo meio de circulação, seja pelo público alcançado, bem como sua aceitação e os efeitos produzidos nos leitores. A partir daí, fica mais fácil explicar as variáveis lingüísticas empregadas nas charges e tiras, uma vez que, por serem restritas humoristicamente falando, há situações bastante comuns entre estas.   Mostrando o que há de comum entre as várias situações, tornamos conscientes, para os alunos, os mecanismos gerais produtores de sentido nos vários gêneros e, com isso, nós os habilitamos para interpretar novos textos construídos de modo semelhante, explica o professor do Curso Positivo.

Sobre os cartunistas que mais aparecem nos vestibulares, Bearzoti atenta para os brasileiros Glauco e Angeli, ambos da equipe da revista Chiclete com banana; Henfil, Millôr Fernandes, Maurício de Sousa, Laerte, Chico Caruso, Fernando Gonsales, Adão Iturrusgarai, Luís Fernando Veríssimo e, mais recentemente, Benett.  Já na lista dos cartunistas internacionais, merecem destaque as tiras de Bill Watterson com os personagens Calvin e Haroldo; Dik Browne com o personagem Hagar; e o argentino Quino, com a personagem Mafalda, campeã no ranking dos personagens mais usados nas provas.

Para aqueles que almejam uma vaga na UFPR, faz-se importante uma atenção especial às criações de Benett, frequentemente utilizado no vestibular. Seu trabalho impressiona pela diversidade de estilos entre as tiras e as charges, pela alta produtividade e pela percepção sempre atenta do noticiário. Mas, sobretudo, penso que é o tom crítico de suas tiras, sempre questionadoras da massificação do pensamento, sempre críticas à intolerância e ao preconceito, que o fazem constar na UFPR, opina Bearzoti.

Para se dar bem na produção de textos da UFPR, o professor dá mais uma dica: mostrar que é um jovem que lê e pensa, deixando de lado a postura passiva e assumindo o tom crítico, são características que agradam a banca examinadora.