Franklin de Freitas – Estação-tubo

A crise do coronavírus e a decorrente recomendação de isolamento social têm impactado fortemente o transporte coletivo de Curitiba. Com uma queda da demanda estimada em até 78% na comparação com um dia útil antes da pandemia, as empresas que atuam na cidade acumulam prejuízo e agora os trabalhadores, como motoristas e cobradores de ônibus, já começam a sofrer por conta da situação, com suspensão de contratos, redução da jornada de trabalho (e dos salários) e até mesmo demissões.

De acordo com o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba (Setransp), o déficit no sistema de transporte soma R$ 47,5 milhões entre 16 de março, quando teve início a queda no número de passageiros, até o dia 12 de abril. Para comparação, do dia 1º a 15 de março o prejuízo das empresas teria sido de R$ 500 mil. Já no período pós confinamento, entre os dias 16 e 31 de março, o déficit chegou a R$ 27 milhões.

Diretor-executivo das Empresas de Ônibus de Curitiba, Luiz Alberto Lenz César afirma que as empresas estão suspendendo contratos de trabalho e também admite que já podem ter ocorrido demissões. “Mas por enquanto não é algo tão expressivo [as demissões], a princípio todos estão suspendendo contratos de trabalho, reduzindo a jornada dos funcionários”, diz ele.

O Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) confirma ainda sobre as suspensões de contratos e diz estar “acompanhando essas situações de perto”. Ainda segundo o sindicato dos trabalhadores, não há um número certo de trabalhadores impactados até agora ou mesmo quantas empresas estão adotando essas medidas.

“Mas é um bom porcentual de empresas, as maiores, principalmente. Sabemos que também existem situações em que a jornada está sendo reduzida, mas as situações que mais se destacam são as de suspensão do contrato mesmo”, disse o Sindimoc por meio de sua assessoria de imprensa.

Ainda segundo Lenz César, esse é o pior momento já enfrentado pelas empresas de transporte coletivo da cidade. “Nós tínhamos uma queda em vista da quantidade de passageiros que usavam ônibus e foram para os aplicativos, mas não era uma queda tão abrupta como essa. Estamos trabalhando com movimento de dia de sábado”, diz ele, afirmando ainda que as empresas temem o colapso do sistema em breve, se não houver recursos públicos para socorrê-las.

Prefeitura de Curitiba pode socorrer o sistema de transporte, mas por três meses

Na última semana a Prefeitura de Curitiba encaminhou à Câmara Municipal (CMC) um projeto de lei que institui o regime emergencial de operação e custeio do transporte coletivo de Curitiba em função da pandemia do novo coronavírus. O objetivo é reforçar medidas para o enfrentamento da pandemia, como adequação da frota de ônibus e cuidados de prevenção, além de assegurar o equilíbrio econômico financeiro do sistema de transporte durante o estado de emergência em saúde.

“O projeto de lei tem como foco evitar o colapso do sistema”, diz o presidente da Urbanização de Curitiba (Urbs), Ogeny Pedro Maia Neto. “Ao mesmo tempo em que tivemos uma queda expressiva no movimento de passageiros, temos que continuar a operar com folgas no sistema, com uma frota bem superior à demanda, para atender as recomendações de autoridades de saúde de evitar aglomerações nos ônibus e terminais. Isso pressiona os custos e, sem ajustes, o sistema pode ter sérios problemas”, acrescenta.

Com o regime de emergência, com duração de 90 dias, as concessionárias receberiam repasses para arcar com os custos de folha de pagamento, plano de saúde, seguro de vida, cesta básica, tributos, administrativos. Serão garantidos também recursos para que os veículos possam rodar, como combustível, lubrificantes, arla, rodagem, peças e acessórios e bateria. Ficam fora dessa conta, amortizações, investimentos e margem de remuneração.

Pagamento do vale que deveria ser depositado no dia 20 é adiado para maio

O Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba (Setransp) anunciou na última sexta-feira (17) que terá de pagar o adiantamento salarial, conhecido como vale e correspondente a 40% do salário, junto com a folha no quinto dia útil de maio, e não no dia 20 de abril. A medida, diz ainda o sindicato patronal, foi imposta a contragosto, por conta da falta de receitas, e foi acordada com o Sindimoc, sendo que os colaboradores já foram informados na última semana.

Ainda segundo o Setransp, o valor do valor poderá ser repassado antes aos colaboradores, mas desde que haja injeção de recursos extras no sistema, algo tratado pelas empresas como fundamental para reequilibrar o sistema neste momento.

“Neste caso, não temos como pensar em plano B, senão muita empresa vai fechar as portas. Acreditamos que tenha uma fonte emergencial por parte dos governos, acreditamos muito nisso. E durante esse período todo, as empresas estão se reinventando, porque o mundo, de uma forma geral, a vida das pessoas vai mudar drasticamente”, diz Luiz Alberto Lenz César.