A cada dia, duas pessoas morrem vítimas de transtornos mentais e comportamentais no Paraná, em média. É o que revelam dados do Painel de Monitoramento da Mortalidade, do Ministério da Saúde, os quais apontam que entre 2014 e 2018 foram pelo menos 3.920 vidas ceifadas por problemas como depressão e transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas (como o álcool, fumo, alucinógenos e canabinóides, entre outros).

O número, contudo, deve subir consideravelmente, uma vez que os dados de 2017 e 2018 ainda são preliminares, o que significa que ainda há casos que precisam ser registrados no sistema. Por isso não é recomendável também o estabelecimento de comparativo entre diferentes anos.

De toda forma, o grande número de óbitos relacionados a questões de saúde mental chama a atenção. E janeiro é um mês bastante propício para esse tipo de discussão, uma vez que o primeiro mês do ano é também conhecido como Janeiro Branco, em referência à campanha mundial que, em sua sexta edição, defende uma cultura de Saúde Mental na humanidade e qualidade emocional de vida. Neste ano, o mote da campanha é “quem cuida da mente, cuida da vida”.

Depressão e uso de drogas
Entre as principais causas de morte relacionadas à transtornos mentais e comportamentais, o principal destaque fica com o uso de substâncias psicoativas, como álcool, fumo e outras drogas ilícitas. Nos cinco anos analisados, esse tipo de situação apareceu como responsável (em alguns casos junto com outras morbidades) por 3.180 mortes, o equivalente a 81,12% do total de registros.

Em seguida aparecem os transtornos de humor, como a depressão e o transtorno afetivo bipolar, que apareceu como causa de morte em 626 ocorrências (15,97% do total); e os casos de esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes, com um total de 232 mortes (5,92%).

Importante destacar, porém, que o número de mortes relacionadas à questões de saúde mental é provavelmente maior do que mostram as estatísticas oficiais, uma vez que é comum, no atestado de óbito, a doença mental não aparecer como causa associada de morte. Um exemplo disso são os suicídios, cujas taxas de óbito são muito superiores às de mortes associadas à depressão justamente por esse motivo.

Janeiro é alviverde, mas não tem nada a ver com futebol
Janeiro é um mês alviverde. E isso não tem relação com algum time de futebol, mas sim com o fato de que o primeiro mês do ano é marcado por duas campanhas de saúde importantes. Uma delas, já citada, é o Janeiro Branco, que trata da importância da Saúde Mental. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 9,3% da população brasileira têm algum transtorno de ansiedade e a depressão, que caminha para se tornar a doença mais incapacitante do mundo, afeta 5,8% da população. E isso para ficar em só dois exemplos.

Já a parte verde do mês é dedicada ao câncer de colo do útero, o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil. Só no Paraná, por exemplo, são estimados 820 novos casos em 2019. A prevenção mais efetiva está na vacinação contra o HPV para jovens e a realização do exame preventivo Papanicolau. Mesmo as mulheres vacinadas, inclusive, devem fazer o exame periodicamente a partir dos 25 anos.

Os dados são considerados alarmantes já que este tipo de câncer é facilmente prevenível e depende de políticas públicas eficientes de prevenção, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC), o cirurgião oncológico, Ricardo Antunes. “Esse alto índice de tumores do colo do útero está diretamente relacionado às condições sócio-econômicas da população. E à falta de campanhas efetivas de prevenção e detecção precoce da doença”, denuncia.

Suicídios em alta no Estado no País nos últimos anos
Outro problema frequentemente associado à transtornos mentais, principalmente à depressão, são os casos de suicídio. Entre 2014 e 2018, foram pelo menos 3.920 registros no Paraná, com uma média também de dois registros por dia. Já no Brasil inteiro, foram 54.735 casos de morte por lesão autoprovocada no período analisado, com a média de 30 mortes por dia (ou uma morte a cada 48 minutos).

Nos últimos anos, inclusive, tanto o estado como o país vem quebrando o recorde de suicídios ano a ano. Em 2016, o último ano com dados consolidados, foram 821 casos no Paraná e 12.674. No âmbito nacional, mesmo com os dados de 2017 sendo preliminares, os números já superam o do ano anterior. Esse aumento, segundo especialistas, estaria relacionado à queda da subnotificação e também à crescente do problema em decorrência de fatores externos, como o estresse.

Mortes relacionadas a transtornos mentais e comportamentais

Paraná
2018: 750
2017: 771
2016: 821
2015: 79
2014: 787
TOTAL: 3.920

Brasil
2018: 11.150
2017: 12.813
2016: 12.674
2015: 12.558
2014: 12.480
TOTAL: 61.675

Principais causas de morte – Paraná

Transtorno mentais orgânicos, inclusive os sintomáticos: 128

Transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de substância psicoativa: 3.180

Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes: 232

Transtornos do humor/afetivos: 626

Transtornos neuróticos, relacionados com o stress e somatoformes: 27

Síndromes comportamentais associadas a disfunções fisiológicas e a fatores físicos: 9

Transtornos da personalidade e do comportamento adulto: 1

Retardo mental: 39

Transtornos do desenvolvimento psicológico: 8

Transtornos do comportamento e emocionais que aparecem habitualmente durante a infância ou adolescência: 0

Transtorno mental não especificado: 2

Mortes por lesõs autoprovocadas intencionalmente

Paraná
2018: 727
2017: 763
2016: 760
2015: 716
2014: 620
TOTAL: 3.586

Brasil
2018: 9.532
2017: 11.939
2016: 11.433
2015: 11.178
2014: 10.653
TOTAL: 54.735