Franklin de Freitas

O Tribunal do Júri de Curitiba decidiu no começo da madrugada desta quarta-feira (28 de abril) absolver Deyves Lourival Moreira de Silva Júnior, conhecido como Juninho, da acusação de homicídio qualificado por motivo fútil. Torcedor do Paraná Clube e integrante da torcida organizada Fúria Independente, Deyves era acusado de matar a tiros um torcedor do Coritiba, Lucas Siebre Gonçalves, que era também integrante de uma torcida organizada, a Império Alviverde.

O fato aconteceu em novembro de 2019, num dia em que a torcida paranista fazia uma festa na Line Eventos, no Xaxim. Na mesma data, porém, o Coxa jogava contra o Oeste, pela Série B do Campeonato Brasileiro, e torcedores alviverdes, que passavam de ônibus próximo do local do evento da Fúria Independente, resolveram tentar invadir o local, o que resultou num confronto entre integrantes do Comando Sul da Fúria e do Comando Pinheirinho da Império. Durante a confusão, tiros de arma de fogo foram disparados e Lucas acabou atingindo na cabeça, morrendo no dia 21/11, dois dias depois da briga, em um hospital da capital paranaense.

Segundo a acusação, que se baseava principalmente no testemunho de quatro torcedores do Coritiba, Deyves teria sido o autor dos disparos que mataram o torcedor coxa-branca. Os relatos indicavam a compleição física do réu e a roupa vestida por ele no dia dos fatos, o que convergia com a informação dada pelo policial militar Bruno Lage, que declarou que Dayves era o único torcedor vestindo camiseta azul e vermelha do Paraná (justamente a vestimenta que os torcedores do Coxa apontaram que o atirador usava, além de terem identificado o suspeito por meio de fotos).

A defesa, por sua vez, alegou que o paranista era inocente e que, na verdade, teria sido a própria torcida alviverde a responsável pela morte de Lucas. A argumentação foi de que membros da Fúria e da torcida Young Flu, do Fluminense, que também participava da festa, teriam feito disparos para o alto, para dispersar os torcedores do Coxa e evitar um confronto, já que os paranistas estavam em desvantagem numérica (cerca de 100 membros da Império contra 15 da Fúria). Segundo a defesa, neste momento alguém da torcida Império teria revidado os disparos, acertando o próprio aliado na nuca.

Ao longo de todo o julgamento, que teve início por volta de 8 horas da manhã, a defesa, liderada pelos advogados Jeffrey Chiquini da Costa e Claudio Dalledone Júnior, tratou de desqualificar a vítima e sua família, apresentando antecedentes criminais e os chamando de “bandidos”, até mesmo. Além disso, também foram apresentados episódios diversos de violência que tiveram participação da Imperio Alviverde nos últimos anos, de forma a reforçar a alegação de que o Comando Pinheirinho seria uma das torcidas mais perigosas do Brasil, segundo as palavras do Dr. Jeffrey. Outro “alvo” também foi o delegado responsável pelo inquérito que denunciou Deyves, o policial civil Clóvis Galvão, que à época dos fatos liderava a Delegacia Móvel de Atendimento a Futebol e Eventos (Demafe).

Agora, ainda resta um suspeito para ser julgado dentro do caso do homicídio de Lucas. Trata-se de um outro torcedor paranista, chamado Eloir, que já admitiu, inclusive, que estava armado no dia dos fatos. Seu julgamento, no entanto, ainda não tem data para acontecer.

‘Paratiba’ do lado de fora

Do lado de fora do Tribunal do Júri, manifestações forma feitas tanto em favor do réu como em favor da vítima, com a colocação de faixas nas cores vermelha e azul com os dizeres “Juninho inocente” e “Liberdade Juninho sua inocência será provada!” (sic) e outra faixa, na cor verde, onde se lia “Justiça para Lucas: nunca será só futebol”.