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WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Após dias de controvérsia e críticas, o presidente americano, Donald Trump, recuou e prometeu acabar com a separação de famílias na fronteira, que afastou mais de 2.300 crianças imigrantes de seus pais desde o mês passado.

Trump assinou uma ordem executiva (espécie de decreto presidencial) para manter as famílias unidas. O documento determina que elas fiquem em um mesmo centro de detenção, o que pode gerar contestação legal sobre a decisão.

O presidente disse que a separação de pais e crianças foi efeito colateral indesejado da política de tolerância zero contra a entrada de imigrantes ilegais nos EUA. Ele reiterou, no entanto, que será mantida a orientação de processar criminalmente os ilegais.

"Trata-se de manter as famílias unidas ao mesmo tempo em que temos uma fronteira muito forte, muito poderosa", disse o republicano.

Ele afirmou ter ficado entristecido com as cenas de separação das famílias repetidas continuamente pela mídia dos EUA nos últimos dias – para Trump, qualquer pessoa "com coração" reagiria de forma parecida.

A divulgação das histórias de crianças separadas dos pais e a difusão de imagens de adolescentes em centros de detenção com telas, grades e cobertores térmicos criaram uma crise grave para Trump e os congressistas republicanos a cinco meses das eleições legislativas no país.

A secretária de Segurança Doméstica, Kirstjen Nielsen, responsável pela aplicação da política de imigração, foi recebida aos gritos de "vergonha, vergonha" por um grupo que a esperava em um restaurante mexicano em Washington.

Ainda assim, a reviravolta chama atenção porque Trump coleciona polêmicas em uma ano e meio de mandata não costuma recuar diante de pressões externas -pelo contrário, ele muitas vezes dobra a aposta.

Segundo a agência de notícias Associated Press, a primeira-dama Melania Trump teve papel importante nessa mudança de rota. Ela, que nasceu na Eslovênia, teria deixado claro para o mandatário, já há algum tempo, que era necessário tomar medidas para reunir as famílias – fosse por meio de uma ação do presidente, fosse via Congresso.

O governo Trump vinha mantendo nas últimas semanas que estavam apenas seguindo a orientação legal ao separar as famílias e que cabia ao Congresso fazer mudanças na legislação.

Pelas novas práticas, os pais são processados criminalmente, o que não ocorria antes, e enviados a presídios federais. Já as crianças, que não podem ficar nesses estabelecimentos, vão parar em abrigos mantidos pelo governo.

Agora, porém, o governo mudou o discurso e, ainda que cobre mudanças pelo Congresso, vai discutir na Justiça uma decisão de 1997 que impede que crianças fiquem em centros de detenção de imigrantes por um período superior a 20 dias, mesmo que estejam com seus pais.

Como o republicano disse que não pretende retroceder na tolerância zero, a nova decisão cria incertezas.

A mais urgente é, se a Justiça não autorizar que as crianças passem mais de 20 dias nesses centros, o que acontecerá com elas? Uma possibilidade é que sejam afastadas dos pais como já acontece hoje. Outra, mais improvável neste momento, é que Trump recue novamente e não prenda os familiares antes de o caso ser analisado pela Justiça.

No caso das que já estão separadas (o governo de Michigan fala ter recebido bebês de três meses), o governo Trump já avisou que não está previsto o reencontro. Nesse grupo, estão ao menos 49 brasileiros, como revelou a Folha de S.Paulo.

Nesta quarta, o presidente voltou a afirmar que parte dos imigrantes usa as crianças como "passaportes" para chegarem aos EUA. "Há pessoas horríveis, em alguns casos, usando essas crianças como passaporte para chegar ao país".