SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A União Europeia revelou nesta quarta-feira (19) seu plano para a saída do Reino Unido do bloco caso os dois lados não consigam chegar a um acordo, enquanto entidades empresariais do país afirmaram que “observam horrorizadas” a possibilidade deste cenário se concretizar.  

A cem dias do “brexit”, que está marcado para 29 de março de 2019, Bruxelas e Londres passaram a intensificar o planejamento do que farão caso não exista acordo (hipótese chamada de “no deal”) já que o Parlamento britânico se recusa a aprovar o plano que foi negociado entre a primeira-ministra Theresa May e os outros líderes europeus. 

A votação do acordo estava programada para o último dia 11 no Parlamento, mas May teve que adiar o voto para 14 de janeiro para evitar uma derrota. A possibilidade dele ser aprovado, porém, continua baixa, já que tanto a oposição quanto parte da coalizão governista são contrários a ele.  

Caso de fato não ocorra o acordo, a UE preparou um plano de emergência de 14 pontos para atenuar os efeitos da separação, com medidas que poderiam durar de alguns meses a até dois anos. 

Mas o vice-presidente da Comissão Europeia (braço-executivo do bloco), Valdis Dombrovskis, disse que essas ações são apenas um “exercício de redução de danos” e “uma tentativa de transformar uma saída abrupta em um pouso suave”.

Segundo ele, independente do planejamento dos dois lados, em um cenário assim “não é possível replicar as vantagens de uma saída com acordo e, principalmente, não é possível manter os benefícios de se manter na UE”.

O plano do bloco estabelece uma série de medidas econômicas em “um número restrito de setores nos quais a falta de acordo seria uma fonte de importantes perturbações para os cidadãos e as empresas da UE”, afirmou a Comissão Europeia em nota. 

As ações seriam implementadas de maneira unilateral por Bruxelas e seus 27 membros imediatamente após a saída ocorrer e atingiriam em especial as áreas de serviços financeiros, transporte aéreo e alfandegária. 

As empresas aéreas britânicas, por exemplo, não poderão mais fazer rotas internas na UE, mas vão receber uma permissão temporária para realizarem voos que cheguem ou saiam em um país do bloco.

Bancos e o restante do setor financeiro do Reino Unido também terão sua atuação no continente bastante reduzida, podendo atuar apenas em algumas áreas por um período de tempo que deve variar entre um e dois anos. Os detalhes de como isso irá funcionar, porém, não foram divulgados. 

“Se o Acordo de Retirada não for ratificado, os operadores financeiros estabelecidos no Reino Unido perderão, a partir da data de saída [29 de março], o direito de prestar seus serviços nos países membros da UE”, disse o comunicado. 

Além disso, cidadãos britânicos não vão precisar de vistos para entrar no bloco, mas poderão ficar no máximo 90 dias seguidos —para períodos maiores, será necessário pedir autorização. 

A possibilidade de não haver um acordo fez as cinco principais entidades empresariais britânicas emitirem nesta quarta um comunicado conjunto no qual pedem ao governo que resolva a questão. 

As entidades, entre elas Câmaras de Comércio Britânicas e a Confederação da Indústria Britânica,  pediram aos parlamentares que “ao retornarem a seus distritos eleitorais durante o Natal, conversarem com suas comunidades empresariais locais. Assim, esperamos que eles escutem e lembrem que quando retornarem ao Parlamento, o futuro da nossa economia estará em suas mãos”, disse o comunicado.