Franklin de Freitas – Henrique Vicente Dias Martins: ele perdeu o emprego e o sonho de se tornar militar corre risco

Os problemas decorrentes da crise do coronavírus atingiram fortemente os universitários do Paraná. De acordo com uma pesquisa feita no começo deste mês pelo Quero Bolsa, plataforma de vagas e bolsas de estudo no ensino superior, quase um quarto dos estudantes perderam emprego desde o início da pandemia. Se até março quase metade desses jovens estavam empregados, hoje já é menos de um quinto.

O levantamento do Quero Bolsa, que contou com a participação de 278 estudantes paranaenses — em todo o país foram 4.491 entrevistas com alunos de 406 instituições de ensino privadas — , revela que atualmente apenas 19,06% dos estudantes estão empregados. Outros 56,83%não tinham emprego mesmo antes da pandemia, além de 24% dos universitários terem perdido as vagas que ocupavam.

Tudo isso deve impactar fortemente sobre as instituições privadas, uma vez que 28,8% dos entrevistados dizem ter baixa chance de manter a mensalidade em dia, além de 41,4% dizer que a chance de evasão (trancamento do curso, por exemplo) é alta.

No último ano do curso de Direito da Universidade Positivo, Guilherme Souza Kiem conta que estagiou por um ano e sete meses na Paranaprevidência e que em março decidiu trocar de estágio, indo trabalhar num escritório de advocacia. Logo após suas duas primeiras semanas na empresa os funcionários passaram a atuar em home office e 15 dias depois viria a se encerrar seu ciclo.

“Trabalhei mais 2 semanas a distância, aí o dono me ligou e disse que perdeu 2 importantes contratos que mantinham o escritório e que por conta disso ele ia desligar minha chefe. Consequentemente, minha vaga não existia mais”, relata o estudante.

Para se manter e poder pagar a mensalidade do curso, o jovem diz que está fazendo “alguns bicos” para alguns advogados, mas admite que a situação está bem difícil, principalmente por não estar conseguindo encontrar outra colocação. No último mês ele diz que teve de parcelar a mensalidade da universidade e que agora está ainda pensando como fará para terminar o curso.

“Não abre mais vaga desde o começo de abril. O site da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) sempre disponibiliza vagas de estágio, em média duas por dia. Depois que começou a quarentena, não abriu mais vagas desde a primeira semana de abril e o CIEE também está sem nada”, relata o universitário. “Se antes já era difícil conseguir estágio em Direito por conta do tanto de estudante, agora está impossível”, desabafa.

‘Voltei à mesma rotina que tinha dois anos atrás. Não está nada fácil a vida’

Aos 19 anos, Henrique Vicente Dias Martins está estudando para ingressar na Polícia Militar (PM) ou no Exército ainda neste ano. Em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, começou a fazer um cursinho preparatório ao mesmo tempo em que deixou o quartel após prestar o serviço obrigatório. Ainda no começo do ano também conseguiu trabalho numa empresa da cidade, mas cerca de um mês e meio acabou sendo desligado.

“Em meados de abril falaram que não continuariam meu contrato por causa da pandemia. Agora estou mais na empresa do meu, que trabalha com artefatos de borracha, ajudando ele”, afirma Vicente. “Voltei para a mesma rotina que tinha dois anos atrás, de colégio-empresa-estudar de noite. Não está nada fácil a vida de desempregado por causa desse corona.”

Mesmo sem renda, o jovem está conseguindo, com a ajuda do pai, continuar os estudos. As provas que ele pretende fazer estão marcadas para junho e meados de setembro, mas ainda não há confirmação de se os exames serão realmente prestados nesses meses, já que tudo depende de como evoluirá a questão do coronavírus.

“Por enquanto ainda não estou procurando outro [emprego]. Ajudo meu pai há mais de cinco anos e como vi que essa crise está igual aquela que afetou o país na metade da década passada, não estou procurando nada porque não estão contratando”, diz o jovem, que lamenta também que, além do emprego, esteja perdendo as aulas presenciais. “No começo do ano as aulas eram presenciais, aí veio a pandemia e migrou para o online. Mas não é melhor que o presencial [a aula online]. Dá para entender o conteúdo, óbvio, mas não é a mesma qualidade da aula presencial”, lamenta.