Foram 100 milhões de casos registrados no mundo somente no ano passado. Cerca de 3 bilhões de pessoas moram em regiões sujeitas ao contágio e 20 milhões de turistas passam anualmente por esses lugares. No Brasil, a cada ano o cenário se repete.

A dengue é uma das maiores epidemias mundiais e, por isso, alvo de institutos de pesquisa e corporações farmacêuticas de diversos países que buscam desenvolver uma vacina para o mal. No Brasil, o desafio foi tomado pelo Instituto Butantan, de São Paulo, e pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.

Em parceria com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, sigla em inglês), os trabalhos do Butantan estão mais adiantados. “Já estamos na fase das pesquisas clínicas com humanos e em dezembro deveremos ter planta piloto produzindo a vacina”, anunciou Luna, que espera ter, em 2010, uma planta definitiva instalada no instituto paulista.

O Butantan realizará em breve ensaios minuciosos em uma cidade no interior de São Paulo para testar a eficácia da vacina. “Necessitamos de dados precisos sobre o número de pessoas contaminadas, o que ainda não existe”, disse. Isso ocorre porque a maioria das pessoas que contrai a doença não desenvolve os sintomas. No estudo, os moradores da região que tiverem febre farão exame de sangue para saber se ela foi causada pela dengue.

Combate a quatro vírus ao mesmo tempo

A vacina da Fiocruz nasce com a técnica de clones infecciosos e tem como base o vírus da febre amarela. A técnica consiste em retirar um trecho do genoma do vírus da febre amarela e colocar no lugar o pedaço equivalente do vírus da dengue. O resultado é o chamado “genoma quimérico”.

O uso do vírus da febre amarela não vem por acaso. O instituto fluminense é o maior produtor mundial da vacina 17D para essa doença. Com isso, a Fiocruz pretende aproveitar o know how e a capacidade instalada para futura produção da nova vacina.

Mas combater a dengue no organismo humano não é fácil. Existem quatro tipos diferentes de vírus e, para ser eficaz, a vacina terá de ser tetravalente, ou seja, combater os quatro simultaneamente. “Para cada um desses tipos é preciso encontrar um equilíbrio entre atenuação do vírus (para que a pessoa não adoeça com o medicamento) e imunogenicidade (a “força” que a dose deve ter para imunizar)”, explicou Elena.

Segundo a pesquisadora, o trabalho ainda não encontrou resultados satisfatórios para a dengue do tipo 3. Mesmo assim, ela espera já em 2009 poder realizar os testes das primeiras formulações tetravalentes da vacina e, até 2012, dar início aos testes clínicos.

No Brasil, até agora foram registrados os tipos 1, 2 e 3 da dengue, mas, segundo os dois especialistas, é apenas uma questão de tempo para o tipo 4, que já foi encontrado na Colômbia e na Venezuela, chegar por aqui.

“A dengue sempre existiu, mas com o advento das embalagens plásticas, que servem de criadouro para o mosquito vetor Aedes aegypti, o difícil acesso à água potável e as más condições de saneamento dos aglomerados urbanos ela se disseminou pelo mundo a partir da década de 1970”, salientou Luna.

No Brasil, a epidemia chegou na década de 1980 com o tipo 1 e o tipo 2 na seguinte. No início desta década foram registrados os primeiros casos do tipo 3. Tudo indica que a epidemia deve se agravar com a chegada do tipo 4. Por isso, a importância da vacina. “Além disso, ter uma vacina não ajuda somente a saúde do país. É um trunfo importante na hora de transferir tecnologias e trocar conhecimento com outros países”, disse Elena.