Caso me devolvam a pergunta, digo que depende. Se o cumprimento vier do outro, sim, claro, sem nem pestanejar. Ué, e se você nunca tiver visto aquela pessoa na sua frente? Quem me garante que não estudei com o cidadão no terceiro ano do ensino fundamental e não dei conta de adaptar meu olho aos efeitos do tempo? Pior, e se for a mãe de um amigo de minha filha do terceiro ano, do inglês, do piano de sabe-se lá onde? A secretária do dentista, a moça da padaria. Melhor não arriscar. Mas pode ser alguém que te confundiu com alguém. Pode. E aí é que o coitado merece um oi, um sorrisinho que seja. Já saiu de casa confundindo o povo, tudo de que menos precisa é tomar um fora. Fez menção de cumprimentar leva um olá, um bom dia, um movimento leve de cabeça.

Ah, então o segredo é esperar o rompante do outro? Não senhor. Tá na dúvida se conhece, vai logo tomando a iniciativa. E se a pessoa acordou péssima, achando que não faz a menor diferença no mundo e resolve testar logo com você. Já pensou? Olá, bom dia, movimento leve de cabeça. O depende fica por conta das certezas, sabe? Olha só. Vou para o trabalho todos os dias no mesmo horário. Somente uma quadra de casa até o consultório. De segunda à sexta, às 7h45, como se houvéssemos agendado uma reunião, encontro primeiro os dois frentistas do posto vizinho, depois o porteiro do próximo prédio, sempre molhando as plantas, a moça que varre a calçada do banco, maquiadíssima, um homem que passeia um labrador com focinheira (!), o porteiro do outro prédio e, por fim, o taxista que chega cedo no ponto. Todo mundo meio com sono, meio mal humorado, meio com cara de poucos amigos. E aí? É pra cumprimentar ou não?

Esses dias, cruzei com o homem do labrador no supermercado, bom dia, fez cara de interrogação. Com a moça do banco, fui mais feliz. Eu e ela na fila da farmácia, tentei um oi, ela devolveu um aceno. Henrique me contou, semana passada, que viu o William Bonner também na farmácia – elas ainda vão dominar o mundo – disse que embora todo mundo fingisse costume, sorriram de levinho quando ele finalizou as compras com um boa noite. Que engraçado, não? É nosso conhecido mesmo que nunca tenha nos visto. Bem, se a gente se encontrar por aí, eu e você que me lê agora, favor devolver meu oi distraído. Ainda não esqueci do fora do homem do labrador – focinheira nele! – e decerto ficaria chatiadíssima com o vácuo do Bonner. Boa semana queridos.

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