2 -Já passei mal por falta de comida, diz aluno que ocupa sede de escola técnica

Folhapress

ARTUR RODRIGUES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Passo das 7h20 até as 16h10 na escola. Já tive até hipoglicemia por falta de comida”, diz o estudante Paulo César Facchini Ribeiro, 16, sentado em uma cadeira em frente ao Centro Paula Souza, no centro da capital, na tarde desta sexta (29).
Estudante de nutrição da escola técnica Carlos de Campos, na região do Brás (cenrto de São Paulo), ele foi um dos primeiros a ocupar o local, onde funciona a administração da rede de escolas técnicas, subordinada ao governo Geraldo Alckmin (PSDB). Na tarde desta sexta, havia cerca de 250 alunos no prédio, segundo os jovens.
Eles cobram a construção de restaurantes estudantis nas Etecs (Escolas Técnicas Estaduais) ou o fornecimento de vale-refeição enquanto os espaços não ficarem prontos.
“Não tem sentido não fornecerem comida em escolas de período integral”, diz Ribeiro, morador de Guaianases (zona leste de SP).
Segundo ele, a direção da escola onde estuda se comprometeu a fornecer alimento nos próximos meses, mas trata-se de merenda seca. “O que eles darão e já dão em outras escolas tem 400 calorias – um suco, uma barra de cereais e um bolinho – não alimenta um estudante por duas horas.”
COMIDA ESTRAGA
Os estudantes afirmam que são obrigados a levar marmitas, mas, sem geladeira, muitas estragam. Os micro-ondas das unidades também não são suficientes para todos esquentarem os alimentos no período do almoço, dizem.
Além de estudantes das Etecs, participam da ocupação estudantes de escolas estaduais convencionais, muitas delas protagonistas dos protestos do ano passado contra fechamento de salas.
É o caso do estudante Luan Prado, 14, da escola Alves Cruz, em Pinheiros. Ele e outros afirmam ter vindo para dar apoio aos demais. Também há estudantes da escola Fernão Dias Paes Leme, na zona oeste, que virou símbolo das manifestações de 2015.
A ocupação no prédio começou na quinta (28) e coincidiu com a chegada da frente fria. “Para piorar, a escola ligou o ar condicionado no máximo. Teve quem ficou gripado. Estava muito frio de madrugada”, diz Prado, que pegou um cobertor emprestado, trazido por pais de outros alunos.
Pais e professores têm abastecido os alunos com mantimentos. Por enquanto, os alunos afirmam que se alimentam de bolachas e produtos que possam ser feitos no micro-ondas, por falta de fogão no prédio.
Um professor da escola Laís Amaral Vicente, no Jabaquara (zona sul), abordou a reportagem para afirmar que também há falta de alimentos nas unidades convencionais. “Na minha escola, acabou o gás há dois dias e não há como cozinhar”, diz.
OUTRO LADO
A assessoria de imprensa do Centro Paula Souza, em nota, informa que, hoje, 90% das unidades dão merenda aos alunos. “O Centro Paula Souza segue trabalhando para solucionar questões pontuais com a readequação da estrutura disponível em algumas unidades e a negociação com a Secretaria da Educação, responsável pelo orçamento, compra e distribuição de alimentos.”
O órgão, ligado ao governo estadual, afirmou que investiu em melhorias na estrutura das unidades, que incluem espaços para armazenamento e preparo de alimentos. A nota também afirma que a direção está disposta a conversar com os estudantes.
Leia a nota do Centro Paula Souza:
A Assessoria de Comunicação do Centro Paula Souza informa que a instituição investiu, apenas nos últimos dois anos, mais de R$ 250 milhões na ampliação e melhoria estrutural na sua rede de educação profissional. As melhorias incluem obras para o armazenamento e preparo da merenda. Hoje 90% das Etecs oferecem alimentação escolar. O Centro Paula Souza segue trabalhando para solucionar questões pontuais com a readequação da estrutura disponível em algumas unidades e a negociação com a Secretaria da Educação, responsável pelo orçamento, compra e distribuição de alimentos.
Na quinta-feira, alunos de Etecs, representantes de movimentos sociais e lideranças estudantis atuantes durante as ocupações das escolas da rede estadual participaram de uma manifestação na sede da instituição, no centro de São Paulo, onde passaram a noite e permanecem ao longo desta sexta-feira. A Superintendência do Centro Paula Souza recebeu um documento com reivindicações que incluem itens como merenda; “democratização”; “terceirização”, entre outros, e se dispôs a dialogar com uma comissão de alunos, mas eles se recusaram.
A diretora-superintendente da instituição, Laura Laganá, conversou pela manhã com os estudantes e reiterou a disposição em receber uma comissão formada por eles. Ela lembrou que eles não estão instalados em uma escola, mas em uma área administrativa, impedindo funcionários de trabalhar. Caso o acesso continue bloqueado, o fechamento da folha de pagamento vigente ficará prejudicado.