SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Eram 10h30 e a fila na entrada de uma das confeitarias mais badaladas de São Paulo, a Carlo’s Bakery, nos Jardins (zona oeste), dobrava a esquina com a rua Oscar Freire.
Centenas de pessoas com uma senha na mão aguardavam, embaixo de marquises e guarda-chuvas para fugir do sol, a vez para pegar um dos 465 pedaços do bolo em homenagem ao aniversário da cidade que a loja distribuiria aos visitantes. O que aconteceria logo depois do prefeito, Bruno Covas, cortar o doce.
Maria, 74, moradora de Santana (zona norte) foi a primeira a chegar, às 7h. Soube do evento pela filha, fã do programa Cake Boss, comandado pelo dono da rede de confeitarias, Buddy Valastro.
“Adoro doces e acordar cedo -levantei às 5h”, conta ela. A filha não acompanhou.
A cabeleireira Michelle Pereira, 34, saiu de Itapecerica da Serra com os dois filhos, de 7 meses e 13 anos, para participar do evento. “Vi pela internet e pensei: vamos lá para provar aquele bolo tão famoso”, diz. Considera o preço da confeitaria “salgado”, mas que, de vez em quando, “vale a pena”. “A gente trabalha, então merece comprar umas coisinhas diferentes.”
Os termômetros marcavam 24ºC e o calor incomodava o segurança do trabalho Max Wellington, 26, que acompanhava a namorada, a nutricionista Larissa da Silva, 23. Já estavam havia quase duas horas na fila. “Vim porque ela quis. Não aguento mais esperar”, disse.
Larissa levou um guarda-chuva para se proteger da chuva e do sol. Se Valastro representa um ídolo para ela, não podemos dizer o mesmo em relação a Covas. “Não o vi fazer nenhuma benfeitoria por enquanto”, afirmou.
O sol também desagradava a pedagoga Adhara Costa, 40, de Pirituba, que estava acompanhada do marido, Marcelo, 41, e das filhas de 12 e 19 anos. “Mas estou animado porque, se não tivesse esse evento, estaríamos na cama dormindo”, diz Marcelo.
O prefeito chegou pouco antes das 11h, acompanhado de 27 secretários e auxiliares. Cantou parabéns com Marcos Kherlakian, sócio de Valastro no Brasil, em meio a balões vermelhos em formato de coração, e foi conhecer a cozinha do estabelecimento, onde os cozinheiros o ensinaram a forma mais prática de comer cupcake: fazendo um sanduíche.
Ele conta que “foi convidado” para ir à confeitaria. “Já conhecia a loja, muito boa. Fizeram aqui um trabalho muito bonito”, disse, referindo-se ao bolo de chocolate com recheio de ganache, de cerca de 50 kg, com o slogan “I Love SP”.
Conhecido por seguir uma dieta rigorosa, Covas disse que seria um dos três bolos que comeria nesta sexta. “Já avisei ao meu médico, não tem dieta no aniversário de São Paulo. E ele disse ‘tudo bem, está dispensado'”, contou.
“Charmoso ele, viu? Bem bonito”, afirmou a confeiteira Raimunda Gomes, 48, que, junto com a irmã, Raimunda Maria, 53, tentava tirar uma selfie com o mandatário. As duas vieram de Mossoró, no Rio Grande do Norte, só para conhecer a loja. Chegaram às 9h30. “Já comemos um cupcake. Vamos nos inspirar nas receitas”, disse.
De lá, Covas seguiu para o Bexiga, onde desde 1986 paulistanos fazem um bolo gigante para comemorar o aniversário da cidade –já entrou no livro dos recordes Guinness como o maior bolo do mundo.
Foi a primeira vez em que um prefeito cantou parabéns e cortou o primeiro pedaço, diz a cineasta Thais Taverna, 36, neta de Walter Taverna, um dos criadores da tradição. O ex-prefeito Gilberto Kassab chegou a ensaiar aparecer, mas não chegou a sair do carro.
“Sabe como a gente conseguiu? A gente viu que ele ia no bolo dos americanos, no Cake Boss, e a gente ficou puto. Falamos, ‘como assim? Ele nunca veio aqui”, diz. “Entramos em contato com a prefeitura loucamente e dissemos que ele tinha que ir no bolo original, tradicional, e não americano. E ele veio.”
O bolo, hoje uma combinação de receitas trazidas por participantes, teve 90 metros.
Covas ficou no lugar por cerca de meia hora e, após cerca de 15 estudantes do movimento Passe Livre realizarem um protesto contra o aumento da tarifa dos ônibus, que subiu de R$ 4 para R$ 4,30, foi embora.
O ato causou uma pequena confusão e bate-boca entre manifestantes e participantes do evento. Não houve feridos. “Viemos dizer para o prefeito que não aceitamos essa tarifa absurda em um cenário de desemprego e baixos salários”, diz a estudante Sofia Sales, 21, uma das organizadoras.
Para outros, a festa, embalada por uma bateria formada por ex-integrantes da escola de samba Vai-Vai, continuava. Cerca de 2 mil pessoas participaram, segundo a organização.