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Dois meses já se passaram da maior tragédia com barragens no Brasil e as respostas sobre como uma empresa pode ter deixado seus funcionários à mercê de um risco tão grande ainda não foram respondidas. Já são 216 mortes confirmadas, mas 91 pessoas ainda seguem desaparecidas. No momento, todos os 13 investigados pelo caso, entre funcionários da TÜV SÜD e da Vale, respondem pelo processo em liberdade.

Relembre o caso

No dia 25 de janeiro deste ano, cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos da mina Córrego do Feijão varreram as instalações da Vale no local e parte da cidade de Brumadinho, em Minas Gerais. O mar de lama foi causado pelo rompimento da barragem I da Vale.

Segundo a empresa, a barragem não recebia rejeitos desde 2015 e estava sendo monitorada. Havia cerca de 300 funcionários da Vale trabalhando no momento do rompimento, que aconteceu por volta do horário do almoço. Os locais mais atingidos foram o centro administrativo da empresa próximo à mina, onde centenas de funcionários almoçavam, a pousada Nova Estância, a poucos quilômetros do local, e o bairro Parque da Cachoeira.

Além das perdas humanos, o impacto ambiental da tragédia é inestimável. Após atingir o Rio Paraopeba, próximo ao local do rompimento, a lama chegou ao São Francisco, um dos maiores e mais importantes do país. Os resíduos, em sua maioria compostos por óxido de ferro, afetaram a qualidade da água, causando impactos na fauna da região. Também estima-se que a lama tenha destruído um total de 125 hectares de mata nos arredores de Brumadinho.

Tragédia repetida

O rompimento da barragem de Brumadinho aconteceu pouco mais de 3 anos depois de uma tragédia semelhante: a de Mariana, MG. Em novembro de 2015, uma barragem da empresa Samarco, que pertence à Vale, também se rompeu devastando o distrito de Bento Ribeiro.

Enquanto o número de vítimas em Mariana foi menor, com 19 mortes confirmadas, o impacto ambiental da barragem da Samarco é sentido até hoje. Foram cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos, que atingiram o Rio Doce, matando peixes e outros espécies marinhas pelo caminho. Biólogos calculam que o rio demorará cerca de 10 anos para se recuperar totalmente dos impactos.

As tragédias de Brumadinho e Mariana seguem em meio à impunidade. O processo envolvendo executivos da Samarco, Vale e BHP Billiton (também detentora da Samarco) tramita na Vara Federal de Ponte Nova, ainda sem data para o julgamento. Enquanto isso, todos os investigados seguem soltos e as empresas tratam o evento como um acidente, e não como crime.

Em Brumadinho, uma CPI foi aberta na Assembleia de Minas Gerais para investigar o caso. Em seu primeiro dia de depoimentos, o delegado Bruno Tasca, que cuida do caso, afirmou que já há indícios o suficiente para tratar o processo como homicídio doloso, quando se assume o risco de matar. Isso porque há documentos comprovando que a Vale sabia dos riscos da barragem se romper, e ainda assim manteve o escritório e as casas à jusante do rejeito desinformados.