Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, começou sua carreira no tráfico como “vapor” (vendedor), ainda adolescente. Subiu na hierarquia do crime ao atingir a maioridade. Ele tinha 18 anos e prestava o serviço militar obrigatório, quando foi preso por roubar armas num depósito de material do Exército. Expulso da corporação, passou dois anos na cadeia. Voltou respeitado à Favela Beira-Mar, que lhe rendeu o apelido. Ganhou as bocas-de-fumo de um líder comunitário que queria se dedicar à venda de drogas em outra comunidade.
Isso ocorreu em 1986. Na década seguinte, Beira-Mar se firmaria como um dos principais atacadista do tráfico, dividindo o posto com Arnaldo Pinto de Medeiros, o Uê, seu maior inimigo. Mensalmente, trazia 500 quilos de cocaína para o Rio.
A primeira condenação foi pela Justiça de Cabo Frio, a 12 anos de prisão. Em junho de 1996 foi preso em Belo Horizonte com quatro quilos de cocaína. Recebeu nova condenação, por mais 12 anos. Foi condenado ainda a 19 anos de prisão em dezembro de 2006, por extorsão e associação para o tráfico. Responde a outros 30 processos.
Em 1996, antes de ser preso, fazia pré-vestibular em Betim, já havia comprado casa de veraneio e construído dois prédios em Guarapari (ES). Também mantinha cinco contas-correntes e 9 cadernetas de poupança com movimento de R$ 1,6 milhão em 1994 e 1995.
Beira-Mar fugiu em 1997. Refugiou-se na fazenda do traficante João Morel, que ficou conhecido como o “Rei da Maconha”, no Paraguai, fronteira com Mato Grosso do Sul. Cinco anos depois, Morel e seus dois filhos seriam assassinados a mando de Beira-Mar.
A temporada com “o Rei da Maconha” rendeu-lhe novos contatos. De lá, comandava seus negócios, cresceu como fornecedor de drogas e ganhou status de exportador. Enquanto crescia seu patrimônio, aumentavam também as extorsões policiais – em 1999, declarou numa entrevista que havia perdido – até aquela data – R$ 720 mil, cinco casas e dois carros em “mineiras”.
No ano 2000, surgem as primeiras informações de que Beira-Mar estava na Colômbia e tinha ligações com as Farc. Segundo as investigações, o traficante viaja entre Colômbia, Paraguai e Suriname para comprar armas para a guerrilha. Em troca, escoava parte da pasta de coca produzida na Colômbia.
No mesmo ano, a Justiça determinou o bloqueio de 36 contas-correntes e o seqüestro de 97 bens – entre os quais 12 carros, 15 empresas, 30 imóveis e quatro terrenos no Rio, Paraná Mato Grosso do Sul e Paraíba.
Em abril de 2001 foi preso pelo Exército colombiano, ferido no braço. Agências internacionais divulgaram que, em depoimento, o traficante havia confessado que comprava 200 toneladas de cocaína ao ano das Farc.
Beira-Mar foi extraditado e ficou preso no presídio de Segurança Máxima de Bangu 1, no Rio. Em 11 de setembro de 2002, comandou uma rebelião que deixou quatro mortos, entre eles seu arquiinimigo, o traficante Uê. Da cadeia, passou a ordenar ataques no Rio. Em 25 e 26 de fevereiro de 2003, 28 ônibus foram queimados, prédios públicos alvejados.
Foi colocado no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) e transferido para o Presídio de Presidente Bernardes. De lá, passou para a carceragem da Polícia Federal em Maceió, voltou a Presidente Bernardes e agora está no Presídio Federal de Segurança Máxima de Catanduva (Paraná).
Nos últimos anos, seus principais colaboradores e advogados foram presos. Paulo Cuzzuol transportava US$ 320 mil para o Paraguai em janeiro de 2004. Foi condenado a 8 anos de prisão. Lydio da Hora e Wellington Correia da Costa Júnior pretendiam subornar policiais federais com R$ 200 mil. Foram presos em novembro de 2004, mas estão em liberdade.