PHILLIPPE WATANABE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Produtores registrados no CAR (Cadastro Ambiental Rural) se sentem confortáveis em continuar desmatando e em não tomar atitudes com relação à recuperação de áreas que desmatadas em suas propriedades.
Essas foram as conclusões de um estudo publicado na revista científica “PNAS”. Foram utilizados dados de 49.669 propriedades dos Estados do Pará e Mato Grosso entre os anos de 2008 e 2013.
O CAR foi nacionalmente implementado como uma das principais ferramentas do Código Florestal de 2012. Pará e Mato Grosso começaram a alimentar os sistemas de registro de propriedade antes do novo código. O instrumento facilitaria o monitoramento e a exigência de recuperação de áreas de desmate.
“Não significa nada estar no CAR se o produtor não recebe os sinais necessários de que está sendo monitorado”, afirma Andrea Azevedo, uma das autoras do estudo e ex-diretora de políticas públicas do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
Andrea se refere a notificações e multas por áreas desmatadas, além de sinalizações de que o mercado não irá compactuar com ilegalidades.
Entre os produtores entrevistados para o estudo, 76% disseram que só tomariam atitudes em relação à restauração ambiental caso fossem obrigados pelo governo ou incentivados pela indústria.
Apenas 6% afirmaram tomar atitudes para restauração das áreas desmatadas. O Código Florestal diz que os produtores devem regenerar áreas dentro de suas propriedades.
“Não há ferramenta melhor [que o CAR], mas você precisa usar esse instrumento de maneira sistemática.”, diz Raoni Rajão, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais e autor do estudo.
A pesquisa mostra que financeiramente o cadastro no CAR é benéfico para os produtores, pois, sem o registro, o acesso a crédito é dificultado.
Contudo, realizado o cadastro, a opção mais confortável para o proprietário é não implementar as próximas medidas –parar de desmatar e recuperar a vegetação. “Do ponto de econômico, é muito arriscado para o proprietário individual caminhar em um processo de conformidaed com o Código Florestal”, diz Rajão.
Raimundo Deusdará, diretor geral do SFB (Serviço Florestal Brasileiro), responsável pelo CAR, classifica o estudo como simplista. Segundo ele, o CAR deve ser entendido como uma linha do tempo, e a regularização de produtores seria uma etapa futura.
Sobre o uso do CAR para controle do desmatamento, Deusdará afirma que já há ações em andamento: “O Ibama está usando essas informações na operação Controle Remoto.”
A operação fiscalizadora já foi realizada no Mato Grosso deve se expandir para os Estados do Acre, Rondônia e Pará.