Os mais de oito anos de fuga trouxeram pelo menos um benefício ao ex-promotor de Justiça Igor Ferreira da Silva: a prescrição da pena pelo aborto do bebê de sete meses que sua mulher, Patrícia Aggio Longo, esperava quando foi assassinada. Assim, a sua condenação total, de 20 anos e quatro meses, caiu para 18 anos. Em três anos, após cumprir um sexto da pena e caso tenha bom comportamento, o ex-promotor poderá pedir o benefício de cumprir a pena em regime semiaberto, o que lhe dará o direito de sair cinco vezes por ano da prisão para visitar a família em datas festivas.

Além dos dois anos e quatro meses por ter provocado o aborto ao matar sua mulher, o promotor havia sido condenado a 14 anos de prisão pelo homicídio. Em outro processo, ele foi condenado em 2003 a quatro anos de prisão por porte ilegal de arma – uma pistola foi achada em sua casa. A prescrição da pena do aborto foi em abril, depois de Igor passar oito anos foragido Esse era o tempo necessário previsto na lei para que essa pena perdesse a validade – a prescrição é o prazo que a Justiça tem para fazer valer uma condenação de acordo com o tamanho da punição. “A sociedade não vai receber bem isso”, afirmou a procuradora de Justiça Valderez Deusdedit Abbud. Ela disse que a única coisa que a surpreenderia nesse caso seria a “confissão de Igor”. “A acusação nunca teve nenhuma dúvida de sua culpa.”

Um dia depois de sua detenção, os detalhes sobre a prisão do ex-promotor Igor apontam que o misterioso telefonema ao plantão do 31º Distrito Policial, na Vila Carrão (zona leste), teria sido feito pelo procurado. Igor queria se entregar para um policial que não colocasse sua vida em risco. A escolha da delegada Adanzil Limonta se justificava pelo fato de ela ter trabalhado por anos na zona norte de São Paulo, onde a família de Igor mora – o pai, Henrique, é advogado.

A policial recebeu ontem à tarde um telefonema no 31º DP no qual uma voz masculina dizia que o ex-promotor estava na Rua Dentista Barreto. Ele estava foragido desde 2001, quando foi condenado pela morte da mulher, ocorrida em 4 de junho de 1998 em Atibaia, no interior. A delegada foi ao local. Abordou o homem e perguntou se era Igor. “Ele respondeu que sim e eu o prendi.”

Onze anos depois da tragédia, a família de Patrícia iniciou hoje uma ofensiva para “tentar limpar a imagem” da advogada. O empresário Eduardo Aggio Longo, de 33 anos, irmão de Patrícia, assumiu a tarefa de distribuir à imprensa os laudos de DNA que contestam o documento oficial feito pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, que apontou que Igor não era o pai da criança. “Ele era o pai do filho que a Patrícia esperava e queremos mostrar isso para resguardar a memória da minha irmã.”