Exército atuará na segurança pública do Rio

Folhapress

ITALO NOGUEIRA E LUIZA FRANCO
SÃO PAULO, SP E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O governo federal autorizou o uso das Forças Armadas para atuarem na segurança pública em todo o Estado do Rio de Janeiro. O decreto assinado pelo presidente Michel Temer prevê utilização da tropa até o fim do ano. Mas a expectativa é que a atuação permaneça até 2018.
O emprego dos militares será diferente das atuações anteriores no Rio, segundo o ministro da Defesa, Raul Jungmann. Não está previsto o uso constante das Forças Armadas no policiamento rotineiro do Estado, embora isso não seja descartado em determinadas situações.
“Antes [em mobilizações anteriores] eles ficavam patrulhando as ruas, ocupavam os morros. Eles não vão fazer nada disso. Vão apoiar determinadas ações curtas, embora sucessivas. Eles só serão empregados em apoio, porque a liderança do processo é policial, é da inteligência”, disse o ministro.
A autuação das Forças Armadas começou já na tarde desta sexta (28), em vias consideradas importantes da região metropolitana, como a Avenida Brasil, Linha Vermelha e praia de Copacabana. Este emprego inicial visa o reconhecimento do terreno de atuação e não tem prazo.
O reforço chega em meio a uma escalada de violência. O Estado registrou uma alta de 10% nas vítimas de homicídios neste semestre, em comparação com o mesmo período do ano passado. Alta mais expressiva ocorreu no número de mortos pela polícia em supostos confrontos: 45%.
Um conjunto de fatores contribui para a situação. De um lado, as forças de segurança estão fragilizadas pela crise econômica -o déficit estimado no orçamento é de R$ 21 bilhões. A política de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) ruiu -estudo da PM diz que houve 1.555 confrontos em lugares com UPP em 2016 contra 13 em 2011. Do outro, confrontos entre grupos criminosos também têm sido mais frequentes.
O governo federal anunciou a mobilização de 8.500 militares das Forças Armadas, 620 agentes da Força Nacional de Segurança e 380 da Polícia Rodoviária Federal. Esse contingente amplia em 14% o efetivo das forças de segurança no Estado -as polícias Militar e Civil têm 57,7 mil pessoas em seus quadros.
Jungmann afirmou que a mobilização dos militares “não dará resultado do dia para a noite”. “Nosso carro-chefe é inteligência. Essa operação visa chegar ao crime organizado”, disse o ministro.
Desde a década de 1990 as Forças Armadas são empregadas no Rio em momentos de crise ou em grandes eventos. A última ocorreu no Carnaval. Antes, ocuparam o Complexo da Maré e o morro da Providência -onde militares foram condenados por entregar um jovem a traficantes de facção rival.
O sociólogo Ignacio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, vê o emprego das Forças Armadas com maus olhos. “Toda vez que há uma crise chamamos o Exército para atuar. Já está claro que isso não resolve nada. Gera apenas uma ilusão de segurança. Se o governo federal quer colaborar, deveria dar recursos para que o Estado pague seus policiais.”
Já o antropólogo e ex-capitão do Bope Paulo Storani acha que a intervenção não terá impacto a longo prazo, mas é bem-vinda. “As Forças vêm atender uma demanda de que o Estado não está dando conta. A presença delas não vai solucionar o problema, mas pode ter impacto positivo em alguns indicadores. Ainda que seja temporário, é melhor do que nada.”