Salvador, 23 (AE) – O operário Pedro Augusto Bastos de Souza, de 46 anos, trabalhava como encarregado de serviços de uma empresa do Pólo Petroquímico de Camaçari (BA), na Região Metropolitana de Salvador. Morava em casa própria, no município vizinho de Dias d’Ávila, possui carro, era casado pela segunda vez e tinha três filhos, dois do primeiro casamento e um do segundo. Segundo os vizinhos, Souza era sociável, divertido e fazia tudo pelos filhos.
O perfil amigável de Souza fez chocar a comunidade onde ele morava quando, na noite de quinta-feira, a polícia baiana anunciou que o operário confessou o assassinato, a pauladas, da mulher, Maria da Conceição da Cruz Rangel, de 34 anos, da sogra, Maria José da Cruz Rangel, de 60, da avó da mulher, Maria Celeste da Cruz, de 92, e da terceira filha, Ana Bárbara, de 11 meses. “Ninguém aqui nunca imaginou que ele pudesse fazer algo assim”, conta a comerciante Maria Edinete Matos, proprietária de um bar próximo da casa de Souza. “Ele tinha planos de se mudar daqui com a família em breve.”
A polícia descobriu os crimes e o autor quase por acaso, praticamente um mês depois de os assassinatos terem sido cometidos, em 25 de janeiro. As investigações começaram quando uma sobrinha de Souza, de 4 anos, foi vista sozinha na rua, bastante ferida, na madrugada entre os dias 25 e 26. Ela foi hospitalizada com uma fratura na mandíbula e lesões diversas pelo corpo – hoje está sob custódia no Juizado da Infância e da Juventude.
A localização da criança levou os policiais a encontrarem, no dia 27, dois corpos carbonizados, em um lixão do município de Candeias. Transportados para o Instituto Médico-Legal, os corpos da sogra e da avó da mulher de Souza só foram identificados na última segunda-feira, por outro filho de Maria José, que mora em São Paulo e aproveitou o feriado de carnaval para tentar ver a mãe – de quem não tinha notícias havia um mês.
A identificação fez com que o filho de Maria José prestasse queixa do desaparecimento da irmã e da sobrinha dele. Souza foi, então, chamado para depor. Afirmou que as familiares tinham avisado que iriam viajar (para Feira de Santana, a 110 quilômetros de Salvador) e que ainda não tinham retornado. “Nesse primeiro depoimento, porém, houve uma série de contradições”, afirma a delegada Patrícia Barreto, do Grupo Especial de Repressão a Crimes de Extermínio (Gerce).
Na noite de quinta-feira, chamado para prestar esclarecimentos pela segunda vez, Souza acabou confessando os crimes – e acrescentou que achava que a sobrinha de 4 anos que foi encontrada ferida tivesse morrido também durante a sessão de agressões. Ele não contou, porém, qual teria sido o motivo dos crimes.
Bebida – Hoje pela manhã, a delegada interrogou mais uma vez o operário, que contou um pouco mais sobre os assassinatos. “Ele disse que chegou em casa, na noite de 25 de janeiro, e começou a discutir com Maria da Conceição porque ela teria consumido bebidas alcoólicas – atitude com a qual ele não concordava”, afirma Patrícia. “A mulher dele, então, teria atirado o bebê no chão e a atitude teria feito ele dar uma pancada forte, com um pedaço de madeira ou uma barra de ferro, na mulher.”
Patrícia conta que, no relato, Souza teria dito que levou a mulher e o bebê desacordados para o quintal de casa e ateou fogo aos corpos. “O estado de carbonização foi tão grande que é provável que nunca saibamos se as vítimas morreram por trauma ou carbonizadas.”
O operário disse que, depois de o fogo apagar, resolveu juntar as ossadas restantes e jogar no Rio Joanes, que passa perto do local. Os ossos foram encontrados hoje à tarde. “Em nenhum momento ele mostrou remorso ou arrependimento pelos atos” conta a delegada. “Ainda não podemos dizer se ele goza das capacidades mentais plenas.”
Ainda no depoimento, Souza teria dito que, depois de matar a mulher e a filha, lembrou que receberia, em sua casa, a visita da sogra, da mãe dela e da sobrinha, que moram em Salvador e passariam uma temporada por lá. “Ele afirma que foi buscá-las na rodoviária e, depois, as levou direto para o lixão, onde foram mortas”, relata a delegada.
No fim da tarde de hoje, uma equipe do Grupo Especial de Repressão a Crimes de Extermínio (Gerce) voltou à casa de Souza para tentar encontrar as armas usadas nos crimes. Segundo a delegada, a nova versão do operário ainda tem falhas. “Vizinhos dizem ter visto a sogra com ele em casa, o que destrói a tese de que Souza teria levado as vítimas diretamente para o local dos assassinatos.”
O operário está detido na sede do Departamento de Polícia Interestadual (Polinter) em Salvador, com base em determinação de prisão temporária expedida pela Vara de Justiça de Candeias.