BRUMADINHO, MG (FOLHAPRESS) – Logo após as primeiras notícias do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, familiares de funcionários da mineradora e de moradores locais começaram uma ronda por hospitais em busca de informações sem hora para acabar.


Até a noite desta sexta-feira (25), sete mortes haviam sido confirmadas pela Prefeitura de Brumadinho.


Durante a tarde, o técnico em mecânica Marcos de Paula Rodrigues, 47, rezava para que seu filho, o engenheiro de produção Bruno Rocha Rodrigues, 26, não fosse um deles.


Marcos esteve no local da tragédia, mas não conseguiu nenhuma notícia sobre o filho.


Bruno estava havia dois anos na empresa e trabalhava numa sala ao lado do refeitório, uma das áreas atingidas pela lama. Marcos falou com o filho às 9h15 por um aplicativo de mensagens. Desde o rompimento da barragem, o celular de Bruno está desligado.


“Estou destruído. Peço a Deus que, numa hora dessas, pegue na mão do meu filho e diga que ele não vai morrer.”


A família de Fauller Douglas da Silva, 28, foi outra a percorrer os hospitais de Belo Horizonte. Sem qualquer tipo de notícia, os parentes foram a Brumadinho na tentativa de encontrá-lo. Fauller trabalha há dois anos na barragem da Vale como soldador.


O último contato que fez com a família foi às 12h20 desta sexta-feira por meio de um aplicativo de mensagens. Após o rompimento da barragem, a família tentou falar com ele, mas o celular estava desligado.


“Nós não sabemos ainda se ele estava no refeitório no momento do rompimento. Mas temos certeza de que vamos encontrá-lo com vida”, diz a auxiliar administrativa, Isabela Pimentel, 22, prima de Fauller.


Já Maria da Glória foi ao Hospital João 23, em Belo Horizonte, atrás de informações sobre o seu filho, Hebert Vilhena Santos. “Deus está no controle. Confio que vou encontrar meu filho com vida”, disse, muito emocionada.


Segundo ela, uma pessoa da Vale entrou em contato para avisar que seu filho estava no local do acidente.


Sem mais notícias, já que o telefone estava sem sinal, ela resolveu ir para o hospital à procura de informações.


Hebert presta serviço para a Vale na área de tecnologia da informação. Casado, ele tem um filho de 10 anos.


Em Brumadinho, um grupo de cerca de 35 pessoas buscava por parentes e amigos desaparecidos durante a tarde.


As famílias foram orientadas a concentrarem-se em uma quadra coberta no centro da cidade, ao lado do imóvel onde a Vale montou o seu escritório de crise.


Numa área ao lado da quadra, equipes da Vale e dos Bombeiros recolhiam nomes de possíveis desaparecidos.


A aposentada Efigênia Oliveira da Silva, com suas duas netas, buscava informações de um casal de amigos que moravam nas proximidades do Córrego do Feijão com duas filhas pequenas.


“Nos disseram para vir para cá, mas não nos dão nenhuma informação. Estamos aqui desesperados por alguma notícia, mas não nos dizem nada”, afirmou a aposentada.


Efigênia estava em um grupo de vizinhos, com dez pessoas, que buscavam por pelo menos 13 desaparecidos.


O biólogo Luiz Guilherme Fraga e Silva, 27, se salvou “por uns 30 segundos” de ser levado pelos rejeitos. Mineiro de Belo Horizonte, ele fazia um trabalho de campo em Brumadinho, tirando fotos da comunidade, quando viu um tsunami de lama vindo em direção à ponte onde estava.


“Saiu varrendo tudo e eu fui correndo para um trevo próximo. Vi todo mundo saindo gritando das casas e a lama levando os fios de postes de luz, tudo caindo”, conta.


A região toda próxima às barragens da Vale em Brumadinho tem em torno de mil moradores.


Entre os sobreviventes, a empresária mineira Natália Farina, 30, estava trabalhando no centro da cidade no momento em que as águas varreram as casas.


Ela diz que não houve alerta antes do rompimento por lá, e que a lama continuou descendo, enquanto a população buscava abrigo em partes altas da cidade.