FRANCO ADAILTON SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Um dos sobreviventes do naufrágio de uma lancha com cerca de cem pessoas a bordo na Grande Salvador relata ter sido coberto pela embarcação no acidente, que ocorreu sob chuva forte. Matheus Ramos, 23, conta que estava sentado mais próximo ao mar e que a lancha virou por cima dele. “Fui atingido no ombro esquerdo. Quando emergi, dei de cara com uma lona e tive que rasgá-la para poder respirar.” O pai do rapaz, o teólogo Marival Ramos, 51, havia pego uma lancha diferente, apenas meia hora antes da que o filho embarcou. Ao saber do acidente, correu para o terminal marítimo. “É um alívio muito grande vê-lo bem.” O técnico em informática Edvaldo Conceição, 31, embarcou na lancha que naufragou porque se atrasou em relação ao horário anterior. Ele ajudou a resgatar outras pessoas que se afogavam. “Algumas pessoas ainda ajudaram a resgatar, a colocar nos botes, mas infelizmente nem todos sobreviveram.” Já foram resgatados 22 corpos, levados ao Instituto Médico Legal. Entre os mortos, está uma criança de um ano. O sonoplasta Edvaldo Santos, 51, morador da ilha de Itaparica que faz o trajeto diariamente para trabalhar em Salvador conta que ventava forte e grandes ondas começaram a se chocar contra a lancha. “Uma primeira [onda] atingiu a embarcação, que ficou de lado e fez todos correrem pro lado oposto. Em seguida, uma segunda onda fez a embarcação virar”, conta ele. “Muita gente caiu no mar.” Para Edvaldo, a impressão é que a lancha estava muito lotada, acima da capacidade pelas condições do tempo. Ele também reclamou da demora no resgate. “Levaram duas horas para resgatar as pessoas. Absurdo, pois a lancha estava próxima do atracadouro.” Segundo a Astramab (Associação de Transportadores Marítimos da Bahia), entidade que reúne donos de embarcações, a lancha Cavalo Marinho 1 tinha capacidade pra 162 pessoas. A faxineira Morenita Santana, 34, também moradora da ilha, disse que não havia segurança na lancha. “Nenhuma. Quando a gente percebeu, a embarcação já tinha virado por cima da gente”, diz a mulher, que viaja para a capital todas as quintas para trabalhar. Ela diz não ter tido tempo suficiente para colocar o colete salva-vidas. Em Salvador, dezenas de pessoas ainda aguardam por notícias dos familiares, próximo ao terminal marítimo do bairro do Comércio. No local, várias ambulâncias do Samu e do corpo de bombeiros, além de veículos do departamento de polícia técnica.
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