Relatório põe casal na cena do crime e abusa do tom emocional

Agência Estado

Com adjetivos nada técnicos e um texto em tom emocional, a delegada Renata Pontes escreveu, no relatório que concluiu o inquérito policial sobre a morte da menina Isabella Nardoni, de 5 anos, que todos os indícios e provas colhidos de testemunhas e produzidos pelo Instituto de Criminalística (IC) e pelo Instituto Médico-Legal (IML), apontam apenas e tão somente para a seguinte cena: Isabella foi espancada pela madrasta, Anna Carolina Jatobá, e atirada da janela pelo pai, Alexandre Nardoni, no dia 29 de março.

A delegada afirma que o casal manteve a mentira de forma dissimulada, desprezando o bom senso de todos, para permanecer impune. “É certo e comprovado que ambos estavam juntos no apartamento e estavam sóbrios (…), ocorrendo que Isabella, já fragilizada e indefesa por duas fraturas, ter o seu pescoço apertado a ponto de sofrer asfixia. O pai da criança, ao invés de socorrê-la, deu continuidade à seqüência. (…) Há provas robustas de ter sido ele o autor da precipitação de Isabella através da rede de proteção da janela”, diz um trecho do documento de 42 páginas enviado para o Ministério Público Estadual na Quarta-feira.

A versão da polícia – “Anna Carolina e Alexandre voltavam de carro para o apartamento, no veículo Ford Ka, com os três filhos no banco traseiro, da seguinte forma acomodados, Isabella atrás do banco do motorista, Cauã na cadeirinha de transporte, no centro do banco e Pietro atrás do banco do passageiro. Alexandre dirigia o veículo e Anna Carolina estava no banco do passageiro dianteiro.

Durante o trajeto, Anna Carolina feriu a criança na testa, com um instrumento não identificado, o qual ela segurava na mão esquerda, ocorrendo de ela virar-se para trás e com o braço esquerdo alcançar o rosto de Isabella.

Houve sangramento desse ferimento, gotejando sangue no assoalho logo atrás do banco do motorista, na lateral esquerda do carrinho do bebê e um esfregaço de sangue na parte posterior do banco do motorista.

Depois, todos subiram juntos até o apartamento, estando o bebê Cauã no colo de Anna Carolina e Isabella no colo do pai, enquanto Pietro foi andando.

Neste local do apartamento no qual ela foi jogada, observou-se uma maior concentração de sangue, não visível a olho nu, posto que fora limpado, ao que tudo indica, com uma fralda de criança, revelando-se o sangue apenas através de reagente.

A fralda foi localizada dentro de um balde, já lavada, imersa na água, tratando-se da única peça lavada, no meio de tantas outras ali espalhadas no cesto e pelo chão da área de serviço, todas sujas.

Foram ouvidos por duas pessoas, gritos de criança, falando ‘papai, papai, papai, pára’. Considerando as lesões sofridas por Isabella, pode-se afirmar que ela não reunia condições físicas para gritar, sendo a voz ouvida, portanto, da criança Pietro.

Uma das testemunhas afirmou que o grito parecia de uma criança chamando pelo pai, com a certeza de ele poder ouvi-la, de modo que indica que foi nesse momento que Isabella estava sendo asfixiada, mediante esganadura, ocorrendo de Pietro tentar evitar, quando gritou pelo pai, a fim de ele interceder. Sendo assim, deduz-se que a pessoa que apertou fortemente com as mãos, o pescoço da vítima, foi Anna Carolina.

Embora o casal não tenha histórico de maus-tratos, nos inúmeros relatos acerca das constantes brigas, ficou inquestionável o descontrole emocional de ambos, sobretudo de Anna Carolina, que por qualquer razão passava a gritar, falar palavrões, quebrar objetos e, inclusive, ser capaz de jogar o próprio filho bebê sobre a cama, para ir agredir o marido.

O que é certo e comprovado é que ambos estavam juntos no apartamento, estavam sóbrios, além de serem pessoas esclarecidas, ocorrendo da criança Isabella, já fragilizada e indefesa por conta de duas fraturas, bem como lesões na boca, testa e vulva, ter o seu pescoço apertado por tempo considerável e de maneira forte, a ponto de sofrer asfixia.

Já apresentando o processo asfixo, o pai da criança, ao invés de socorrê-la, deu continuidade à seqüência de uma conduta inclassificável, pegando-a no colo, carregando-a da mesma forma que antes, até o quarto dos meninos, o que explica os gotejamentos de sangue no corredor, no chão do quarto e sobre os lençóis.

Há provas robustas de ter sido ele o autor da precipitação de Isabella, através da rede de proteção da janela, reveladas através das marcas do solado de seu chinelo sobre os lençóis e, também, das marcas observadas em sua camiseta, ocasionadas quando da pressão do seu corpo contra a tela de proteção, ao soltar o corpo da filha, do sexto andar, considerando o peso de 25 quilos que ele teve de segurar com ambos os braços, na parte externa da janela. Ao ser jogada pelo próprio pai, da janela do 6º andar do Edifício London, Isabella estava viva.”

Tempo – A polícia também tenta desmontar a versão do casal de não envolvimento com o crime usando o cronômetro. O carro de Alexandre foi desligado na garagem do prédio às 23h36m11s. O primeiro telefonema ao Copom, comunicando a queda da criança, ocorreu às 23h49m59s. Durante a ligação, feita por um vizinho do 1º andar, pôde-se ouvir a voz de Alexandre, já no térreo, aos gritos, o que desmente a versão do casal de que desceram juntos do apartamento após constatar a queda.

“Mesmo que eles admitissem terem mentido, quando afirmaram que desceram juntos, declarando que ela ficou fazendo os telefonemas, enquanto ele desceu para ver a filha, não há tempo suficiente para a criança cair, antes dos indiciados chegarem no sexto andar, fazer o que relataram ter feito, até constatar a queda.

A criança caiu por volta das 23h49m e às 23h49m59s Alexandre já estava lá embaixo, praticamente 1 minuto depois, tempo esse que ele diz que chegou no hall do seu andar; destrancou a porta; entrou no apartamento; foi até o quarto de Isabella; procurou por ela no quarto; constatou que a janela do quarto de seus filhos estava aberta; foi até a janela e olhou através da rede de proteção cortada que sua filha estava lá embaixo; entrou em desespero; foi até o elevador e lá ficou esperando-o chegar em seu andar, isso tudo com uma criança de três anos de idade no colo.”

Frieza – Além de descrever a frieza do casal para tentar esconder provas e tentar incriminar outras pessoas pelo crime, a delegada afirmou que o objetivo de Alexandre e Anna Carolina é ficarem impunes. “Mantiveram a mentira de forma dissimulada, desprezando o bom senso e discernimento de todos, mesmo que a eles não se nivelem, tentando, por derradeiro, desqualificar profissionais, desqualificar provas, e até as leia da física, para permanecerem impunes, alheios aos sentimento daqueles que verdadeiramente amaram Isabella; para poderem gozar da boa vida, sempre patrocinada pelo generoso e protetor pai e sogro, Antônio Nardoni, cujo dinheiro, é certo, nunca será o bastante para lhes comprar hombridade.”