Uma verdade conveniente sobre o aquecimento global

Nadson Flesch*

No século XVI, Francis Bacon dizia que os princípios que hoje nos servem de base provêm de certo número de pequenas experiências, de um número extremamente reduzido de fatos familiares, de observações triviais. Em outras palavras, com isto ele queria dizer que a ciência não pode pretender um valor de verdade se não observar e não prezar pelo cuidado da estrita previsão dos fatos colhidos, que lhe servem de fundamento às teorias dos que a pretendem explicar.
 
A evidência do aquecimento global, segundo o IPCC, vem das medidas de temperatura de estações meteorológicas em todo o planeta desde 1860. Outras evidências vêm da cobertura de neve das montanhas e de áreas geladas, aumento do nível global dos mares, das precipitações, cobertura de nuvens, El Niño e outros eventos extremos de mau tempo.
 
Para o ser humano, de um modo geral, a experiência e o conhecimento em relação ao clima têm a mesma duração do período de tempo que dura a sua existência. O clima global tem ficado mais quente e mais frio nos últimos mil anos. Descobrir o grau de variação do clima passado e até mesmo nos tempos históricos é difícil de ser imaginado e calculado, assim como as causas que o ocasionaram. É sempre importante lembrar que os esfriamentos e os aquecimentos globais já ocorreram em outros períodos geológicos da Terra.
 
Jay Forrester foi um dos primeiros pesquisadores a modelar sistemas complexos por computador no século passado. Foi também o primeiro a ter noção da dificuldade de se administrar sistemas complexos. Modelos climáticos são sistemas com os mesmos problemas. De acordo com as variáveis consideradas, há oscilações em mais de cem por cento nas previsões de um para o outro. Os modelos climáticos devem ter alguma correlação com as variáveis usadas na astrologia dos signos do zodíaco. Não existe um modelo climático com previsões confiáveis; ainda assim, como acontece no zodíaco do dia-a-dia dos jornais e revistas, as previsões saem, invariavelmente.
 
A idéia do Protocolo de Kyoto, de tentar melhorar o clima no planeta, é algo mais do que justo e necessário. No entanto, de 1997 para cá, o que tem sido observado são iniciativas favorecendo mais o mercado do que o meio ambiente. A licença e o aval dado pelos famosos créditos de carbono, tão em moda atualmente, deu aos países chamados de desenvolvidos o direito de poluir, através de certificados negociáveis em bolsas de valores. Até aí tudo bem. Porém, da maneira como está se desenvolvendo, na prática, este mercado, deu-se a partida em um pequeno floco de neve que, no decorrer do tempo, irá ganhar a forma de uma gigantesca bola de neve. O mercado financeiro, infelizmente, não tem o poder de filtrar as emissões de gases de efeito estufa, oriundas da atividade produtiva humana. Tampouco tem o controle sobre as emissões de gases dos mais de mil vulcões ativos espalhados pelo planeta e, muito menos, sobre as radiações provenientes das tempestades solares que há tempos vêm castigando a Terra e que, de certa forma, também contribuem significativamente para o aquecimento do planeta.
 
De repente, de uma hora pra outra, surgem modelos estatísticos prevendo data, dia e hora para todas as possíveis tragédias oriundas do famigerado aquecimento global. Não culpo a mídia por divulgar tais previsões. Tampouco, da maneira como costumeiramente é feito, através de frases dignas de tablóides e do termo “imprensa marrom”. Porém, com relação às fontes de onde vêm a informação, dos ditos especialistas e de uma nova classe de especialistas, os achologistas, oriundos principalmente do meio político, estes sim terão que prestar contas mais adiante para todos através dos mesmos meios que usaram para formar opiniões.
 
Segundo Eduardo Prado de Mendonça, a opinião é um enredo, é uma estrutura teórica embrionária, que se forma inopinadamente no espírito humano diante de um fato. É necessário um grande esforço para que o homem se fixe estritamente ao que pode observar, numa ocorrência que lhe é dado conhecer. Em geral, faz sobre ela uma interpretação, liga-a a outros fatos, associa-a a alguma lembrança fixada em sua memória e, assim, forma imediatamente uma opinião; reage contra a apreensão isolada dos fatos e aspira por colocá-la imediatamente dentro de uma estrutura. Num depoimento, é sempre difícil o relato dos fatos, pois há um impulso incontrolável de manifestar sempre, ao lado dos fatos, uma opinião ou um juízo sobre eles.
 
A verdadeira tarefa da ciência é a de formular teorias que, efetivamente, correspondam à realidade. Saber, exatamente, quando se tem elementos suficientes para estabelecer teorias ou limitar-se estritamente a coligir uma série de fatos colhidos com precisão, mas, incapazes para sustentar uma teoria. Ou, no caso específico, tratado em parte neste artigo, um modelo climático confiável e suas respectivas previsões – ou por serem insuficientes ou porque falta ao cientista um princípio formal capaz de lhes dar uma unidade lógica.
 
Deve-se levar em conta a importância deste fato, pois até no terreno da própria ciência, que se esforça por adquirir um conhecimento preciso, esta tendência teorizante, própria à natureza humana ,tem feito com que o conhecimento científico fique submetido a constante correção, com vistas a corresponder estritamente a realidade dos fatos.
 
No campo da ciência, como no terreno das idéias diretrizes da vida humana, em geral, o problema cresce de complexidade. Na verdade, não faltam teorias. As teorias existem, dos mais diversos tipos para os mais diversos gostos. Toda a questão é a de saber se elas correspondem à realidade. De fato, o problema por excelência da ciência se põe neste ponto: existem ciências e Ciência. O que temos visto muito por aí a respeito de aquecimento global faz mais o primeiro tipo.
 
Também é justo reconhecer, com relação ao caso específico do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, que grande parte das distorções se devam às versões e mais versões dadas ao documento original pelos representantes políticos. Sinceramente, acredito que muitos dos representantes lá presentes não sabem ao certo por que estão lá, mas a formalidade se faz necessária. É comum socializarem-se as responsabilidades em prol do bem maior da humanidade.
 
Se colocarmos mal os problemas, não podemos esperar soluções corretas. Infelizmente, o homem é um animal que se alimenta de teorias e com uma grande propensão ao menor esforço. A história das crenças humanas é uma lição de advertência. Matamos milhares de seres humanos porque acreditávamos que tinham feito pacto com o demônio e se tornaram feiticeiros.
 
Essas estratégias antecipatórias, a respeito do aquecimento global, com desastres e catástrofes mundo afora, é um convite ao totalitarismo. E a própria história nos mostra que sempre no fim acabam favorecendo a elite social em detrimento da massa de pobres. Neste aspecto, Alston Chase disse que, quando a procura da verdade se confunde com interesses políticos, a procura do conhecimento se reduz à busca pelo poder.
 
Os relatórios ruins da ciência, mais cedo ou mais tarde, sempre pagam o seu preço. São necessários novos mecanismos para avaliar a regulamentação ambiental se quisermos nos livrar do padrão atual de “histeria e negligência”, com o qual, agressivamente, regulamos riscos menores e ignoramos os significativos.
 
Por exemplo, ao invés de se propor aumentos nas taxas de saneamento público no planeta inteiro, para fazer as pessoas entenderem o sentido de consciência e do uso racional da água, eu acredito que a falta de conhecimento e a ignorância, neste sentido, é bem melhor tratada com educação. O mesmo vale para o aspecto segurança. Não acredito nas fortunas bilionárias gastas anualmente com segurança, regulamentos desnecessários e inúteis. Além do mais, fazer entender o aquecimento global como um processo irreversível, cidades sendo invadidas pelo mar, o degelo da Antártida, florestas se transformando em savanas e desertos… Acredito que está mais para o estabelecimento de uma nova ordem política e econômica mundial. Infelizmente, a evidência é de que passamos tempo demais tratando com paliativos, temores falsos ou sem importância. A educação é a chave de tudo e a mola propulsora de todo este processo.  É nesse campo que os investimentos devem ser feitos.
 
Portanto, entendo que o esforço, no sentido de colocar o problema do aquecimento em termos reais e objetivos para as pessoas, exige honestidade de propósitos, sinceridade, espírito de dedicação, compromisso com a verdade antes de tudo, em lugar da luta cega pelos interesses imediatos. Já é possível perceber que existem outras agendas por detrás da agenda principal. É preciso estar atento. Os oportunistas e os financiadores parecem estar há tempos. E nunca é demais dizer e lembrar aos mais jovens e velhos que, numa área multidisciplinar como é o meio ambiente, onde a incerteza é a única certeza, buscar informação, ter paciência e perseverança é o melhor caminho. Sempre.

Nadson Flesch é auditor e consultor ambiental.*
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