
A Carne de Onça, prato típico da culinária curitibana, agora é Patrimônio Gastronômico de Curitiba. A iguaria ganhou nesta terça, 20, o reconhecimento de Indicação Geográfica de Curitiba do INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).
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A resolução foi publicada na Revista da Propriedade Industrial. Segundo Sérgio Medeiros, presidente da Associação dos Amigos da Onça, que entrou com o processo junto ao INPI para obtenção da IG, a Indicação Geográfica vai além de um selo: é uma ferramenta estratégica que valoriza territórios, fortalece identidades culturais e impulsiona transformações econômicas.
A carne de onça remonta à década de 1940 e, para muitos, a origem do nome seria uma referência ao hálito forte deixado pela iguaria (o popular bafo de onça). O prato tem como base a broa de centeio – item curitibano também reconhecido com selo de IG –, coberta com carne moída bovina fresca, servida crua com cebola branca e cebolinha verde picadas, além de outros temperos e possíveis variações na apresentação.
“O turismo só ganha com selos de Indicação Gerográficas, pois são produtos feitos aqui no Paraná que são resconhecidos no mundo todo. São produtos que chamam a atenção de quem não conhece e desperta ainda garantia de qualidade a quem já conhece. Com isso, o Paraná só ganha dentro do turismo, especialmente pela sua rica gastronomia”,
disse Leonaldo Paranhos, secretário estadual do Turismo.
Solicitação do selo IG
Na etapa de elaboração de solicitação do reconhecimento de Indicação Geográfica, a Secretaria de Estado do Turismo (Setu-PR) participou do processo fundamentando e validando a delimitação do território da Carne de Onça de Onça de Curitiba, ao lado de outros órgãos e associações, como o Sebrae/PR.
Possuir o selo de Indicação Geográfica de Procedência certifica produtos ou serviços cujas características estão ligadas à sua origem territorial, valorizando a história, a cultura e a economia. É o que explica Irapuan Cortes, diretor-presidente do Viaje Paraná – órgão de promoção comercial do turismo no Estado.
“Falar sobre Indicação Geográfica é necessário, porque ela representa o senso de pertencimento regional e maior notoriedade para os municípios. Isso aconteceu com Antonina e suas balas de banana, por exemplo, agregando valor ao turismo da cidade por meio de uma produção típica. As IGs também ajudam a criar e consolida rotas turísticas ao redor do Paraná, criando novos fluxos no entorno desses produtos”, explicou.
Na avaliação de Sérgio Medeiros, “ninguém cria uma IG. Ela já existe. No caso da carne de onça desde os anos 40”. “A conquista da IG garante proteção ao esforço coletivo e a nossa cultura, sim a onça é nossa! Viva a onça! Viva Curitiba”, comemora Medeiros.
RECONHECIMENTO – Quem entrou com o pedido de reconhecimento do prato em novembro de 2023 foi a Associação dos Amigos da Onça (AAONÇA), que atua em diversas frentes de promoção e valorização da iguaria curitibana. Segundo a associação, mais de 200 bares e restaurantes curitibanos contam com o prato em seus cardápios atualmente.
“Nós esperamos um fortalecimento da carne de onça enquanto patrimônio cultural, porque o selo de IG é muito importante para valorizar o melhor que o Paraná tem em diversos aspectos. Esse título vai ficar para a nossa cidade para sempre. Paris tem as suas champagnes e Curitiba tem a sua carne de onça”, disse Sérgio Medeiros, presidente da AAONÇA.
Ele também explica que a iguaria gera um impacto positivo na economia local, porque impulsiona o turismo e promove a agricultura regional, criando uma demanda por ingredientes frescos e produtos locais, usados na preparação do prato.
Com o objetivo de destacar e valorizar o prato, a associação também promove desde 2014 o Festival de Carne de Onça, que conta com a participação de diversos bares e restaurantes curitibanos. Segundo os organizadores, a estimativa é de que 190 estabelecimentos já tenham participado das oito edições do evento.
IG e o Turismo
O Bar do Alemão, tradicional e turístico de Curitiba, no Centro Histórico da Capital, celebra em 2025 seus 46 anos. A carne de onça é servida no local de maneira tradicional desde que o estabelecimento abriu. É o que explica Jorge Tonatto, dono do Bar do Alemão.
“O prato é o segundo petisco mais pedido do bar, ele é um dos carros-chefes do nosso cardápio. O IG é uma conquista não apenas para o Bar do Alemão, mas para Curitiba e todo o Paraná, que agora podem se orgulhar de mais um produto irrigado com a cultura local sendo reconhecido. Os turistas já nos buscam por conta do submarino e da carne de onça, então, agora com o selo, certamente vamos captar ainda mais visitantes”
, disse.
Conheça a Carne de Onça
Com origens que remontam à década de 1940, a Carne de Onça é uma iguaria símbolo de Curitiba, feita com carne bovina crua sobre broa de centeio, temperada com cebola, cebolinha, azeite, sal e pimenta. Apesar do nome curioso — atribuído ora ao “bafo forte”, ora aos hábitos alimentares do felino — o prato não tem relação com a carne do animal.
O nascimento do prato se mistura à história do futebol paranaense, conta Sérgio Medeiros. Segundo ele, na década de quarenta havia em Curitiba um time de futebol chamado Britânia, cujo diretor era o Cristiano Schmidt.
O Schmidt tinha um bar chamado “Toca do Tatu”. Quando o Britânia ganhava, ele servida aos jogadores a carne crua sobre fatias de broa, cebola, cebolinha, sal e azeite. Um dia o Duia, goleiro do time, reclamou: “Poxa, Schmidt, você só serve essa carne aí, que nem onça come”. E aí surgiu a “carne de onça”.
Os clientes da Toca do Tatu começaram a pedir o prato e o Schmidt teve que colocar no cardápio. Logo outros bares da cidade começaram também a servir.
Receita oficial da carne de onça
Estão previstas, no Caderno de Especificações Técnicas da Indicação de Procedência do INPI, apenas três opções de preparo e modo de servir, de acordo com o que foi documentado pela Associação dos Amigos da Onça:
1.ª) colocação da carne sobre a fatia de broa coberta com cebola branca e cebolinha verde, regada com azeite e temperada toda a parte superior com sal e pimenta.
2.ª) preparação da carne misturada ao azeite, ao sal e à pimenta, apenas no momento de servir sobre a fatia de broa, para não interferir na coloração da carne. Incluída a cobertura com cebola branca e cebolinha verde e regada com azeite.
3.ª) preparação da carne misturada ao azeite, ao sal e à pimenta, apenas no momento de servir sobre a fatia de broa, para não interferir na coloração da carne. Os demais ingredientes, cebola branca, cebolinha verde e azeite, são disponibilizados separados para o cliente montar a seu gosto.
Desde 2014, o Festival de Carne de Onça, organizado pela Curitiba Honesta, celebra o prato em diversos bares da capital, movimentando o turismo e valorizando a produção local. Em 2016, o prato foi oficialmente declarado Patrimônio Cultural Imaterial de Curitiba, reforçando sua importância na identidade gastronômica da cidade.
IGs do Paraná
Com a carne de onça de Curitiba, o Paraná atinge a marca de 18 itens registrados e se mantém como o segundo estado brasileiro que mais detém esses reconhecimentos do órgão federal, atrás apenas de Minas Gerais, que possuí 21 chancelados.
Já estavam na lista de IG a aguardente de cana e cachaça de Morretes; a goiaba de Carlópolis; as uvas de Marialva; o barreado do Litoral; a bala de banana de Antonina; o melado de Capanema; o queijo da Colônia Witmarsum; o café do Norte Pioneiro; o mel da região Oeste; o mel de Ortigueira; a erva-mate de São Mateus do Sul; o morango do Norte Pioneiro; a camomila de Mandirituba; os vinhos de Bituruna; a broa de centeio de Curitiba e Região; a Cracóvia de Prudentópolis; e mais recentemente o urucum de Paranacity e Cruzeiro do Sul.
Há ainda outros produtos na luta pelo registro, com pedidos depositados no INPI. São eles as tortas de Carambeí; o mel de Prudentópolis; os queijos do Sudoeste do Paraná; o café de Mandaguari; o café da serra de Apucarana; o pão no bafo de Palmeira; a poncã de Cerro Azul; os ovinos e caprinos dos municípios que compõem a Cantuquiriguaçu, nos vales dos rios Cantu, Piquiri e Iguaçu; o ginseng de Querência do Norte e as ostras da região do Cabaraquara, no Litoral.