A certidĂ£o de Ă³bito do ex-deputado federal Rubens Paiva foi oficialmente corrigida nesta semana, no CartĂ³rio da SĂ©, em SĂ£o Paulo. No novo documento, consta que a morte dele foi “violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguiĂ§Ă£o sistemĂ¡tica Ă  populaĂ§Ă£o identificada como dissidente polĂ­tica do regime ditatorial instaurado em 1964”. A alteraĂ§Ă£o atende a uma resoluĂ§Ă£o do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), aprovada em 13 de dezembro do ano passado.

A mudança do registro de Rubens Paiva ocorreu no dia do anĂºncio das trĂªs indicações ao Oscar de Ainda Estou Aqui, que aborda sua histĂ³ria. Ele desapareceu no dia 20 de janeiro de 1971. O filme narra o impacto de sua morte sobre a famĂ­lia, destacando a transformaĂ§Ă£o de Eunice em uma das principais ativistas de direitos humanos do PaĂ­s. A obra concorre nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Filme Estrangeiro.

Rubens Paiva durante a ditadura militar. Cinco ex-oficiais do ExĂ©rcito foram denunciados pelo MinistĂ©rio PĂºblico Federal (MPF) por quatro crimes no caso: homicĂ­dio, ocultaĂ§Ă£o de cadĂ¡ver, fraude processual e formaĂ§Ă£o de quadrilha.

A nova certidĂ£o reconhece a ComissĂ£o Especial sobre Mortos e Desaparecidos PolĂ­ticos como atestante da morte. O documento anterior, de 1996, emitido apĂ³s uma batalha judicial liderada por Eunice Paiva, mulher do ex-deputado, indicava apenas o desaparecimento do polĂ­tico, cassado em 1964.

A retificaĂ§Ă£o faz parte de um esforço mais amplo para corrigir as certidões de Ă³bito de 202 pessoas mortas durante a ditadura, conforme reconhecido pela ComissĂ£o Nacional da Verdade. Outros 232 desaparecidos terĂ£o seus registros emitidos, atestando oficialmente que foram vĂ­timas da violĂªncia do Estado. Ao todo, a comissĂ£o apontou 434 mortes e desaparecimentos no regime.

O MinistĂ©rio dos Direitos Humanos e da Cidadania informou que a comissĂ£o especial organizarĂ¡ cerimĂ´nias para entregar os documentos, incluindo pedidos de desculpas e homenagens Ă s famĂ­lias das vĂ­timas.

A resoluĂ§Ă£o do CNJ foi aprovada por unanimidade. LuĂ­s Roberto Barroso, presidente do conselho e do Supremo Tribunal Federal, afirmou que a medida representa “um acerto de contas legĂ­timo com o passado”. E ressaltou o impacto simbĂ³lico para famĂ­lias que ainda sofrem com a falta de um pedido formal de desculpas.

Processo parado

TrĂªs dos cinco ex-oficiais denunciados pelo MPF no caso, em 2014, jĂ¡ morreram. Como mostrou o EstadĂ£o, o processo ficou parado no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do STF, por trĂªs anos, de março de 2021 a novembro do ano passado, atĂ© duas semanas apĂ³s o lançamento do filme.

Cabe a Moraes analisar recurso do MPF contra decisĂ£o do Superior Tribunal de Justiça que trancou o processo que corria (STJ) contra os ex-oficiais no JudiciĂ¡rio fluminense.

As informações sĂ£o do jornal O Estado de S. Paulo.