Valendo-se da crise do Pix e com o mote do impeachment do presidente Luiz InĂ¡cio Lula da Silva, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) organizam uma manifestaĂ§Ă£o para o dia 16 de março como tentativa de mobilizar o Congresso Nacional a colocar a anistia aos presos do 8 de Janeiro na pauta.

Acendem as esperanças desse grupo, especialmente na CĂ¢mara dos Deputados, a declaraĂ§Ă£o do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB) que disse que a invasĂ£o Ă  sede dos TrĂªs Poderes daquele dia foi “grave”, mas “nĂ£o um golpe”.

O lĂ­der do PL na CĂ¢mara, SĂ³stenes Cavalcante (RJ) crĂª que os atos em março podem ajudar a trazer o apoio de parlamentares ligados ao CentrĂ£o Ă  anistia e fazer a proposiĂ§Ă£o voltar a tramitar. A expectativa, segundo ele, Ă© de ter atos em todas as capitais do Brasil. “Na prĂ³xima semana vou falar com os presidentes estaduais do PL e organizar”, diz.

Nesta sexta-feira, 7, Motta voltou a falar, como disse no ano passado, que hĂ¡ penas muito severas para algumas das pessoas julgadas pelo envolvimento no 8 de Janeiro e acendeu a esperança em bolsonaristas na CĂ¢mara ao negar a possibilidade do golpe.

“O que aconteceu nĂ£o pode ser admitido novamente, foi uma agressĂ£o Ă s instituições. Agora, querer dizer que foi um golpe… Golpe tem que ter um lĂ­der, uma pessoa estimulando, tem que ter apoio de outras instituições interessadas. E nĂ£o teve isso”, afirmou Motta.

LĂ­der da oposiĂ§Ă£o na Casa, Zucco (PL-RS) Ă© um dos empolgados com a declaraĂ§Ă£o do presidente da CĂ¢mara. “A questĂ£o da anistia, jĂ¡ nas declarações a gente vĂª que hĂ¡ o entendimento de se avançar na CĂ¢mara com Hugo Motta”, afirma.

Para petistas, o 8 de Janeiro foi uma tentativa de golpe. Lindbergh Farias (RJ), lĂ­der do partido na CĂ¢mara, argumenta que o ataque aos TrĂªs Poderes naquele dia fazia parte de um Ăºltimo esforço apĂ³s o plano que envolvia matar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, revelado pela PolĂ­cia Federal

“O 8 de Janeiro foi a Ăºltima tentativa”, diz Lindbergh. “O que eles queriam no 8 de Janeiro foi organizado e planejado. Eles queriam que Lula decretasse uma GLO.”

No ano passado, a anistia chegou a entrar na pauta da ComissĂ£o de ConstituiĂ§Ă£o e Justiça (CCJ) da CĂ¢mara, entĂ£o comandada pela bolsonarista Caroline de Toni (PL-SC). O texto era visto por especialistas como muito amplo e com brechas que poderiam favorecer Bolsonaro.

A proposta acabou freada apĂ³s o ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL) decretar a criaĂ§Ă£o de uma comissĂ£o especial para tratar do tema, levando a tramitaĂ§Ă£o a uma fase ainda anterior. A comissĂ£o sequer iniciou os trabalhos.

“O sistema de Justiça parece estar mais preocupado em dar um recado polĂ­tico do que em aplicar penas justas. O presidente da CĂ¢mara estĂ¡ certo ao questionar isso”, diz Rodrigo Valadares (UniĂ£o-SE), que foi relator da anistia na CCJ. “NĂ£o podemos permitir que brasileiros sejam perseguidos e punidos de forma desproporcional por meras conveniĂªncias ideolĂ³gicas.”

Outros bolsonaristas como Silvia WaiĂ£pi (PL-AP), Rodolfo Nogueira (PL-MS) e Sanderson (UniĂ£o-SE) veem espaço para anistia apĂ³s as declarações de Motta.

Atos vĂ£o pedir de impeachment de Lula a anistia a bolsonaristas

Sobre os atos do dia 16 de março, a data foi escolhida em razĂ£o do aniversĂ¡rio de seis anos da abertura do inquĂ©rito dos atos antidemocrĂ¡ticos pelo STF (ocorrido precisamente no dia 14/3), dia que tambĂ©m foi lembrado em 2024. No ano passado, a anistia ainda nĂ£o foi um tema mencionado por Bolsonaro em seu discurso.

O pedido de impeachment de Lula, catalisador da manifestaĂ§Ă£o, se embasa neste momento o bloqueio imposto pelo Tribunal de Contas da UniĂ£o (TCU) ao programa PĂ©-de-Meia, que estava operando Ă  margem das regras fiscais.

Motta, porĂ©m, jĂ¡ negou possibilidade de pautar o impeachment de Lula. “NĂ£o estĂ¡ no horizonte trazer instabilidade”, disse.