Quando o cineasta Daniel Ribeiro lançou seu primeiro filme, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, em 2014, poucos podiam imaginar o sucesso do longa – estourou a bolha e, mesmo sendo uma produĂ§Ă£o independente, ultrapassou a barreira do R$ 1 milhĂ£o com a histĂ³ria de um rapaz com deficiĂªncia visual descobrindo sua sexualidade com outro menino.

Dez anos depois, Ribeiro retorna aos cinemas com 13 Sentimentos, estreia desta quinta-feira, 13.

Desta vez, a histĂ³ria se concentra em JoĂ£o (Artur Volpi), um jovem rapaz que acabou de terminar seu relacionamento de anos e agora precisa se reencontrar. Tudo Ă© novo, nada mais Ă© igual. É nessa toada que 13 Sentimentos mostra o dia a dia de JoĂ£o, com a nova rotina, enquanto tenta se adaptar e encontrar um novo amor dentro do mundo LGBT+, trazendo particularidades e desafios para este novo momento de sua vida.

“Terminei um relacionamento de 10 anos em 2016 e passei pela fase de me reencontrar e entender como Ă© ser sozinho. Depois de um tempo, percebi como poderia fazer algo com isso”, diz Daniel. “É um filme sobre idealizaĂ§Ă£o. Sobre como idealizamos o passado, como idealizamos controlar o futuro, como queremos controlar as coisas.”

Dez anos depois

Na conversa com Ribeiro, Ă© difĂ­cil nĂ£o questionar: qual o motivo de levar tanto tempo para fazer um novo filme? O que aconteceu? “O Brasil aconteceu”, disse ele, rindo. “Vivi junto o que o Brasil viveu. O financiamento começou a ter problemas. Tudo parou, foi acabando.”

Quem gostou de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho tambĂ©m deve encontrar conforto na histĂ³ria de JoĂ£o. Os recortes sĂ£o bem diferentes – um fala da descoberta da sexualidade na adolescĂªncia, outro sobre a necessidade de se redescobrir na vida adulta -, mas ambos tratam o mundo dos relacionamentos com um certo ar de fĂ¡bula, beliscando a ingenuidade. É um respiro em um cinema que traz sempre histĂ³rias trĂ¡gicas da comunidade LGBT+.

No entanto, Daniel acredita que seu novo filme passa por um ar mais realista – algo que nĂ£o teve no anterior. “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho era um filme muito idealizado, principalmente na conversa sobre o amor. Na Ă©poca, achei que tinha feito um filme muito perfeito, que promete o grande amor para todos”, afirma. “Eu queria fazer um filme que brinque com isso, sem idealizar o mundo real e que precisamos encarar isso de frente”.

Assim, hĂ¡ um diĂ¡logo entre os filmes, ideias, entre sentimentos. E serĂ¡ que o sucesso do passado pressiona o Daniel Ribeiro de hoje? “Sim, coloca pressĂ£o”, resume. “Mas sei que nunca vou fazer exatamente o que fiz no filme anterior. Foi grande demais. Nenhum filme Ă© igual ao outro. Ou seja: tem a pressĂ£o e Hoje Eu Quero Voltar Sozinho jĂ¡ estĂ¡ feito. Mas aĂ­ falamos de novo de idealizaĂ§Ă£o: as pessoas que esperam um filme igual ao outro.”