Foi-se o tempo em que a boêmia curitibana adentrava a madrugada dançando, azarando e ‘enlouquecendo’. É que a noite, que já foi uma criança, cresceu. Agora, quer gastar menos e voltar para casa mais cedo, o que tem provocado uma verdadeira enxurrada das baladas para os bares da cidade, especialmente aqueles de rua.
De acordo com o Sindicato das Empresas de Gastronomia, Entretenimento e Similares do Município de Curitiba (SindiAbrabar), o movimento na noite curitibana, em comparação com os tempos áureos, pré-crise econômica, caiu entre 40 e 60%. Com renda mais baixa (das pessoas) e faturamento menor (das empresas), o setor tem tido de se reinventar.
As baladas foram as principais afetadas, a crise tem impactado muito. Até por isso notamos uma onda de bares de rua, que tem menos serviço, menos taxa. É só abrir a porta e o pessoal fica na rua. Como acaba saindo mais em conta, o povo migrou para isso, afirma Fabio Aguayo, presidente da Sindiabrabar.
Em Curitiba, um dos estabelecimentos de rua mais novos é o Circus Bar, que fica em frente a Praça do Gaúcho e foi inaugurado no final de julho. Tendo como carros-chefes os shots em seringas e as porções em cones, atrai um público cada vez maior, principalmente nas sextas e domingos, segundo afirma Renata Tensen, uma das sócias do bar.
Nosso conceito, que é o de bar de rua, é de praticar preço baixo e ter qualidade, até porque não vemos sentido em cobrar preço alto se não fornecemos muito conforto, como garçons, atendimento nas mesas. E esse estilo de bar está conquistando o público cada vez mais, diz Renata, apontando ainda a liberdade como um dos fatores primordiais para o sucesso do negócio. Eles gostam de vir, pegar o que querem e ir para rua. Então é uma junção dessa liberdade com preços mais baixos.
Baladas GLS ou alternativas vão muito bem, obrigado
Que as baladas e boates da cidade estão em baixa é um fato. Mas como para toda regra há uma exceção, mesmo nesse segmento há aquelas empresas que estão se sobressaindo e, com crise ou sem crise, seguem de vento em popa. São aquelas voltadas para o público LGBT ou alternativo.
As baladas para público LGBT ou alternativo que dá uma diferenciação. Os empreendimentos voltados para esse público ou para aqueles que querem conviver com eles é o que mais cresce em número de casas não só em Curitiba, mas no Brasil como um todo, aponta Fabio Aguayo, presidente da Sindiabrabar. Na Capital, a Avenida Manoel Ribas é uma prova disso, bem como a Alamenda Doutor Carlos de Carvalho.
A visão é corroborada ainda por JR Ferreira, proprietário da 92 Graus e um dos nomes mais conhecidos da boêmia curitibana. “Casas GLS estão bem frequentadas, é um nicho que pegou bem e vai com ou sem crise”.
Aplicativos de namoro ‘encurtaram’ busca por aventuras românticas
Segundo Fabio Aguayo, um dos principais motivos da migração para bares de rua estaria na tecnologia. É que as baladas e boates costumavam atrair pessoas que tinham como um de seus objetivos (talvez o principal) conseguir um encontro ou uma paquera. Com o surgimento dos aplicativos de encontro como o Tinder, porém, essa aventura romântica acabou encurtada.
Essa é a grande diferença. Encurtou as fases, eu diria. Hoje a pessoa já conversa pelo aplicativo e marca de se encontrar em algum bar. Não precisa ir mais na balada para encontrar as pessoas, explica Aguayo.
Menos dias de festas e preferência pelo happy hour
Se até pouco tempo era comum os baladeiros virarem a noite se divertindo, hoje a duração da festa está mais curta, bem como os dias de farra estão limitados, segundo afirmam Fabio Aguayo, presidente da SindiAbrabar, e Sergio Abter, proprietário do Quintal do Monge.
Nós tinhamos movimento forte na segunda, na terça, até quarta-feira. Agora voltou aquela coisa de cidade do interior, com movimento bom na terça, quinta, sexta e sábado. Anos atrás era de segunda a segunda, lamenta Aguayo.
Quando abri há quatro anos, tinha dia que saíamos 4 horas da manhã. Hoje estamos fechando bem mais cedo. O pessoal tem optado muito pelo happy hour, que tem muita promoção. Então eles estão chegando mais cedo, mas também saindo mais cedo. É uma tendência, complementa Sergio Apter.
Restou o sábado
Se num geral o movimento nas baladas e boates está em queda, por outro lado um dia da semana segue reservado para esse tipo de entretenimento: são os sábados. Não à toa, esse é um dos dias com menor movimento no Circus Bar. O movimento tem crescido todos os dias, com exceção do sábado. Nessa data, notamos que a galera vem, faz um esquenta, dá 21 hopras e começa a sair para a balada mesmo. Para nós, é um dos dias menos fortes, o pessoal prefere a balada mesmo, afirma Renata Tensen.
Questão do cigarro
Outro aspecto que precisa ser analisado nessa migração do público das baladas para bares de rua é a questão envolvendo o cigarro. É que no final de 2014 entrou em vigor uma lei nacional que proíbe o fumo em locais fechados, que extinguiu os fumódromos em ambientes coletivos. Como afirma a sócia do Circus Bar, a liberdade é um aspecto importante em favor dos bares de rua, e entre essas liberdades está aquela de poder fumar um cigarro.