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A matéria divulgada anteriormente continha uma incorreção na data de divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O indicador foi divulgado na sexta-feira, 10, e não neste domingo, 12. Segue a matéria corrigida.

O comportamento benigno da inflação brasileira em outubro confirmou para agentes do mercado que o Banco Central continuará seu plano de voo de diminuir a taxa Selic em 50 pontos-base nas próximas reuniões. E mais: a avaliação predominante é de que, se não fossem as incertezas externas e em torno da política fiscal, a autoridade monetária já estaria discutindo uma aceleração do ritmo de cortes a 75 pontos-base.

Essa análise surgiu em comentários de economistas do mercado ouvidos pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) após a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro na sexta-feira, 10. “O cenário de inflação segue bastante benigno, o Copom poderia acelerar os cortes a 75 pontos, não fosse o cenário externo e o fiscal”, disse em nota o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.

A percepção dos analistas é de que os dados de outubro mostram que a “segunda etapa da desinflação” que vem sendo citada pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, está acontecendo no ritmo antecipado pela autoridade monetária, ou até um pouco mais rápido. O alívio de métricas qualitativas acompanhadas pela autarquia, como a média dos núcleos e os serviços subjacentes, ampara a avaliação.

Nas contas do Banco BV, a média dos núcleos ficou em 0,26% em outubro, abaixo do que indicava o consenso do mercado (0,31%) – a terceira surpresa negativa consecutiva em leituras do IPCA. Já os serviços subjacentes subiram 0,19%, em linha com o esperado (0,18%). O índice cheio avançou 0,24%, menos do que indicava a mediana da pesquisa Projeções Broadcast (0,29%).

Em médias móveis trimestrais anualizadas e dessazonalizadas, usadas pelo mercado para acompanhar a tendência, a média dos núcleos e os serviços subjacentes já se aproximam de níveis compatíveis com as metas de inflação a partir de 2024. O economista da Garde Asset Luís Menon calcula que as métricas estão em 3,27% e 3,28%, respectivamente, apenas um pouco acima do centro do alvo do ano que vem, de 3%.

“É bem compatível com o cumprimento da meta”, disse Menon, que reiterou a expectativa de cortes sequenciais de 50 pontos-base na taxa Selic nas próximas reuniões do Copom e de redução dos juros a 9,5% no fim do ciclo de cortes.

Na mesma linha, a economista sênior da AZ Quest Mirella Hirakawa reforçou a expectativa de redução da taxa Selic a 9% no fim do ciclo. “Olhando para fatores domésticos, a função-reação do BC confirma que existe espaço para acelerar o corte de juros, mas, olhando o global, continua confirmando a perspectiva que o próprio BC trouxe, de cautela, serenidade e moderação”, afirmou.

Cautela

Os analistas consultados pelo Broadcast concordam que o comportamento benigno da inflação ao menos retira probabilidade da desaceleração no ritmo de cortes dos juros, a 0,25 ponto porcentual por reunião, mas que uma aceleração ainda está fora da mesa. Além das preocupações do BC com o cenário externo adverso, a “desancoragem gêmea” de expectativas fiscais e de inflação que vem sendo mencionada por Campos Neto também justifica a “cautela” da autoridade monetária.

Menos de 15 dias atrás, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva praticamente descartou a possibilidade de zerar o déficit primário em 2024, como vem sendo defendido pelo ministro Fernando Haddad. O chefe da Fazenda disse na quinta-feira que a meta para ele é “programática” e nem precisaria estar em lei para ser perseguida, mas parte do mercado trabalha com a ideia de que uma mudança para déficit próximo de 0,5% do PIB ainda é o mais provável.

Para o economista-chefe do Banco BMG, Flávio Serrano, o comportamento da inflação corrente é benigno, mas o BC ainda está mais preocupado com a desancoragem das expectativas de inflação do mercado. As medianas do relatório Focus para o IPCA de 2025 em diante continuam em 3,5% desde junho, quando o Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu manter as metas em 3%.

“Essa desancoragem é o maior desafio para o BC, porque faz com que haja um custo maior em termos de política monetária, porque você tem de compensar o desvio com mais juros”, disse Serrano. “Não está com cara de que essas expectativas vão cair, ainda mais se eventualmente mudarem a meta fiscal este ano, antes mesmo de tentarem cumprí-la.”

O economista considera “muito provável” a manutenção do ritmo de cortes em 50 pontos-base nas próximas reuniões do Copom, em dezembro e janeiro, e vê uma probabilidade relevante de manutenção também em março, lembrando da expectativa de desaceleração da economia. O BMG espera juros em 9,5% no fim do ciclo, mas alerta que o mercado de trabalho apertado e a incerteza em torno das expectativas são riscos.

“Eu diria que é mais fácil a Selic ficar acima de 10% do que abaixo de 9,5% e, se isso é verdade, não teria espaço para acelerar o ciclo de cortes. A janela para acelerar seria em dezembro ou janeiro, e essa janela passou, pensando em um ciclo que o mercado espera que vá até meados do ano que vem”, afirmou Serrano.