
Quedas constantes e oscilações no fornecimento de energia elétrica no campo têm ameaçado os produtores rurais do Paraná. As interrupções frequentes comprometem a produtividade, causam prejuízos financeiros e operacionais e dificultam a modernização do setor. O cenário é apontado pelo Sistema FAEP, que tem cobrado a Companhia Paranaense de Energia (Copel) por soluções efetivas. A Copel, por sua vez, afirma que como já informou a FAEP em reunião, os problemas serão sanados em seis meses.
“A demanda por melhorias reflete a necessidade de alinhar o crescimento do setor agropecuário com condições básicas de funcionamento. Essa reivindicação é ainda mais pertinente em um momento em que o campo busca modernização e maior produtividade, exigindo energia de qualidade para sustentar tecnologias cada vez mais avançadas. A resolução desses problemas, portanto, não é apenas uma demanda dos agricultores, mas uma necessidade estratégica para o desenvolvimento econômico do Estado”, destaca o presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette.
Recentemente, no dia 28 de janeiro, no entanto, representantes da Copel estiveram na sede do Sistema FAEP para discutir estratégias e soluções que garantam energia de qualidade aos produtores rurais do Paraná. Na ocasião, relatos dos sindicatos rurais sobre os problemas enfrentados em suas regiões, compilados pelo Sistema FAEP, foram apesentados à Copel. Em resposta, a companhia assumiu o compromisso de solucionar os problemas de quedas e oscilações de energia em um prazo de até seis meses.
Copel reforça atendimento em área rural do Paraná com investimento recorde
A Copel afirma que, desde o início do ano, fez diversas reuniões com representantes do agronegócio paranaense para apresentar seu plano de investimentos para 2025, demonstrar o trabalho realizados em 2024 e nos anos anteriores na rede de energia e ouvir as demandas do setor.
Uma dessas reuniões aconteceu no dia 28 de janeiro na Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Sistema FAEP), em Curitiba. Pela Copel, participaram o diretor-geral da Copel Distribuição, Marco Villela, a diretora de Operação e Manutenção da Copel Distribuição, Karine Torres, e o diretor Comercial da Copel Distribuição, Julio Omori.
Na ocasião, a Copel apresentou seu plano de investimentos e atuação nas áreas de operação e manutenção e os integrantes de sindicatos rurais e do Sistema FAEP explicaram as necessidades específicas do campo na região Oeste do Paraná, com destaque para os fornecedores de proteína animal – frangos e peixes – e laticínios, que dependem do suprimento ininterrupto de energia.
Entre os encaminhamentos da reunião, organizada pelo presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette, a companhia assumiu o compromisso de avaliar todos os casos repassados pelos produtores rurais. Estas informações foram enviadas à Copel no dia 20 de fevereiro e as análises e eventuais necessidades de intervenções na rede de energia já estão sendo encaminhadas.
Obras no Oeste
Do total do investimento recorde da Copel em obras de distribuição de energia no Paraná neste ano, R$ 523,3 milhões serão destinados à região Oeste. São obras de alta tensão, que fortalecem as redes de transmissão, e melhorias na média tensão, para aprimorar a distribuição de energia nas áreas urbanas e rurais.
Deste total, R$ 210 milhões estão sendo investidos na implantação de duas novas subestações – São Miguel do Iguaçu, recentemente inaugurada, e Capitão Leônidas Marques –, na duplicação do fornecimento de energia de outras 12 unidades e em uma linha de distribuição em alta tensão entre Barão de Capanema e Capitão Leônidas Marques.
Os valores também consideram investimentos na ampliação da tecnologia da Rede Elétrica Inteligente, que substitui os medidores de energia convencionais por modelos digitais inteligentes, agilizando o reestabelecimento em caso de interrupções
Outras regiões
Para a região Noroeste do Paraná, a Copel tem investimentos de R$ 461,3 milhões previstos para este ano, em obras de Alta Tensão e Média Tensão para a melhoria da distribuição de energia. Seis novas subestações serão implantadas nos municípios de Cianorte, Campo Mourão, Santa Mônica, Brasilândia do Sul, Nova Londrina e São Pedro do Paraná, com investimentos que somam R$ 187 milhões.
Outras regiões que estão recebendo neste ano aportes em obras de distribuição de energia são: Centro-Sul (R$ 515,7 milhões), Leste (R$ 465,2 milhões), Norte (R$ 339,6 milhões) e Sudoeste (R$ 290,9 milhões).
Paraná Trifásico
O avanço do Programa Paraná Trifásico irá levar energia mais potente, eficiente e econômica, tanto para o pequeno agricultor como para grandes cooperativas e agroindústrias. As regiões Oeste e Sudoeste concentram o maior volume de obras, com 6.760 quilômetros já concluídos.
Esse pacote de investimentos de execução do plano de obras da Copel envolve ainda a expansão de redes, a compra e instalação de novos equipamentos, bem como o atendimento a novas demandas por energia.
Histórico de cobranças
O Sistema FAEP cobra providências em relação à crise energética no campo desde fevereiro de 2024. Na época, a entidade compilou os apontamentos enviados pelos sindicatos rurais, resumindo os problemas no fornecimento de energia e traçando um cenário da situação vivida pelos produtores. O diagnóstico resultou em um ofício encaminhado à Copel, ao governo do Paraná e a todos os deputados estaduais, exigindo soluções imediatas e reforçando a urgência do tema.
De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), no último quadrimestre de 2023 houve mais de 38 mil interrupções no fornecimento de energia, aumento de 23,6% em relação ao mesmo período de 2022. Além da frequência das quedas, o tempo médio de atendimento também piorou, subindo de 248 para 355 minutos, ou seja, quase seis horas de espera.
Outro problema apontado é o aumento expressivo do custo da energia no campo, que subiu 76,4% em cinco anos, enquanto a tarifa residencial teve reajuste de 45,1%. Com o fim dos subsídios, a tarifa rural se equiparou à urbana, mas a qualidade do serviço continua defasada. Em 2021, o produtor rural paranaense ficou, em média, 30 horas sem energia – mais de quatro vezes o tempo médio registrado nas cidades, de sete horas.
Além dos prejuízos financeiros e operacionais, produtores rurais criticaram a dificuldade de comunicação com a Copel. Os atendimentos por telefone são considerados excessivamente automatizados, dificultando o suporte. A demora no atendimento agrava ainda mais a insatisfação dos consumidores, que lidam diariamente com a instabilidade no fornecimento.
Em março de 2024, durante audiência pública na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), representantes do Sistema FAEP e de outras entidades cobraram soluções à Copel, que não compareceu. Na época, foram aprovados os seguintes encaminhamentos: denúncia à Aneel, com reunião em Brasília, sobre as sucessivas quedas de energia; envio de ofício ao Ministério Público do Paraná (MP-PR) e ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR) para fiscalizar a Copel; notificação ao Ministério Público Federal (MPF) para que cobre da Aneel providências urgentes sobre a situação; e reunião entre Copel, deputados, entidades do setor produtivo, entre outros envolvidos, intermediada pelo MP-PR, para discutir a situação e buscar soluções.
Setor produtivo exige medidas concretas
No dia 18 de março deste ano, o Bloco da Agricultura Familiar convocou uma reunião na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) para discutir as denúncias recebidas sobre a falta de energia elétrica no campo. O encontro reuniu diversas entidades do setor produtivo, incluindo o Sistema FAEP. Novamente, a Copel não enviou representantes.
Segundo os deputados estaduais, nas últimas semanas, mais de 60 mil toneladas de tilápia foram perdidas em Cascavel, na região Oeste, e 707 frangos morreram em apenas 10 minutos no município de Sulina, no Sudoeste, devido às interrupções de energia. Os parlamentares também destacaram que 28 mil pedidos de indenização foram encaminhados à Copel em 2023 por prejuízos causados pelas quedas de energia, mas apenas 7 mil foram atendidos.
Segundo o gerente do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP, Jefrey Albers, as constantes perdas por parte dos produtores rurais, que dependem da energia elétrica para manter suas atividades, especialmente na avicultura, suinocultura, piscicultura e pecuária de leite, podem impactar outros elos da cadeia produtiva. “A redução da produção e da oferta de produtos pode levar a um aumento nos preços para o consumidor final, conforme a lei da oferta e da demanda”, alerta.
Como resultado da reunião, um documento foi elaborado e encaminhado à Copel, exigindo um plano emergencial para os apagões; prazos máximos para restabelecimento da rede elétrica; revisão da estrutura operacional; garantia de transparência sobre a falta de materiais e problemas de infraestrutura; compensações financeiras para as quedas prolongadas de energia; isenção na fatura das famílias prejudicadas; abertura de canais mais ágeis de atendimento; e a criação de uma comissão na Alep para acompanhar o serviço público do fornecimento de energia elétrica no Paraná.
Deputados foram até a sede da empresa para cobrar explicações sobre a crise energética e os prejuízos ao setor agropecuário. Em resposta, a empresa se comprometeu a realizar a limpeza de 150 quilômetros de linhas de transmissão na região Sudoeste, com retirada e poda de galhos. Além disso, anunciou a produção de cartilhas e documentos para orientar os produtores sobre como acessar indenizações por prejuízos decorrentes das falhas no fornecimento de energia.