
A perspectiva de uma redução das tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos trouxe alívio ao câmbio local nesta terça-feira (15). O dólar à vista encerrou a sessão em baixa de 0,47%, cotado a R$ 5,5581. No início da tarde, o dólar chegou a tocar R$ 5,60, mas trocou de sinal em seguida.
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A queda ocorreu com a perspectiva de uma eventual negociação em torno das tarifas de 50% que o presidente Donald Trump prometeu impor a produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. Parte do alívio se deu na esteira da declaração de Trump de que o ex-presidente Jair Bolsonaro não é seu amigo, mas sim um conhecido e um “homem bom”. A avaliação foi a de que o republicano baixou o tom e deixou a porta aberta para conversas com o governo brasileiro.
Operadores ressaltam que havia espaço para ajustes técnicos e realização de lucros, após uma sequência de quatro pregões seguidos de valorização do dólar. Nesse período, houve ganhos acumulados de 2,54%. Em julho, a moeda americana ainda apresenta alta de 2,28% em relação ao real.
Recuperação do real
Para o head da tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, a recuperação do real está relacionada a sinais reiterados de que o governo brasileiro não vai partir para o ataque em relação aos EUA nem promover uma retaliação imediata, optando pelo caminho da negociação.
“As declarações de Alckmin após encontro com setores atingidos vão nesse sentido. E as empresas americanas também podem fazer lobby contra as tarifas”, afirma Weigt, em referência à postura do vice-presidente Geraldo Alckmin, que lidera grupo interministerial responsável por interlocução com o setor produtivo. “O medo do mercado era que o governo Lula iria para o embate e retaliar”.
Alckmin afirmou à tarde que o prazo estabelecido pelos EUA para imposição de tarifas é “exíguo”. A proposta do empresariado seria de ter pelo menos 90 dias para discussão do tema. Alckmin disse que o presidente Lula pediu que os ministros ouvissem o setor produtivo no processo de negociação sobre as tarifas de Trump. O vice-presidente ponderou, porém, que a ideia do governo é trabalhar para resolver a questão até 31 de julho.
“A fala de Trump pode ter ajudado a aliviar um pouco o ambiente e tirar força do dólar. E o governo parece que também não está disposto a esticar a corda. Podemos ver se formar um clima melhor para as discussões sobre as tarifas”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo. Ele ressalta que o mercado de câmbio pode ter um estresse mais forte se o governo Lula “errar na mão” na resposta a Trump.
IOF
Por aqui, a reunião de conciliação entre governo e Congresso proposta pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal, sobre os decretos relacionados ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foi esvaziada.
Além da ausência do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em férias, os presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), enviaram representantes. Sem acordo entre as pares, conforme informado pelo STF no fim da tarde, o desenlace da questão ficará à cargo de Moraes.
A Warren Investimentos lembra que declaração de ontem do ministro da Casa Civil, Rui Costa, de que não havia plano B para o decreto do IOF “consolida a leitura” de que o governo Lula dobrou a “aposta na estratégia de confronto político e retórico” com o Congresso.
“O governo segue firme no discurso dos ‘Pobres vs Ricos’ , mesmo com os custos políticos em ascensão. O risco de contaminação das demais pautas econômicas é real e crescente”, afirma a Warren.