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DĂ³lar. Foto: Valter Campanato / AgĂªncia Brasil

ApĂ³s se aproximar de R$ 5,55 pela manhĂ£, o dĂ³lar caiu e fechou esta segunda-feira (23) em R$ 5,5032, queda de 0,39%. A moeda acumula desvalorizaĂ§Ă£o de 3,78% em junho em relaĂ§Ă£o ao real

O real se beneficiou da onda de enfraquecimento da moeda norte-americana no exterior, em meio Ă  diminuiĂ§Ă£o da percepĂ§Ă£o de risco nos mercados globais. O dĂ³lar, por sua vez, perdeu força ao longo da segunda etapa de negĂ³cios.

Ataques do IrĂ£ a bases dos Estados Unidos no Catar e no Iraque, no inĂ­cio da tarde, provocaram certo desconforto em um primeiro momento. Em seguida, contudo, os ativos de risco se recuperaram diante da avaliaĂ§Ă£o de que a ofensiva iraniana foi limitada. Um sinal de que TeerĂ£ nĂ£o deseja um confronto maior com os EUA. TambĂ©m houve reduĂ§Ă£o dos temores de bloqueio do estreito de Ormuz, por onde Ă© escoada cerca de 20% da produĂ§Ă£o global de petrĂ³leo.

NĂ£o por acaso, as cotações do petrĂ³leo mergulharam Ă  tarde. O contrato do tipo Brent para setembro chegou a superar US$ 81, fechando o dia em baixa de 6,67%, a US$ 70,52. TermĂ´metro do desempenho do dĂ³lar em relaĂ§Ă£o a uma cesta de seis divisas fortes, o Ă­ndice DXY, que tocou 99,421 pontos na mĂ¡xima, rondava os 98,400 pontos no fim do dia.

“O dĂ³lar oscilou hoje ao sabor das notĂ­cias em torno do conflito. A avaliaĂ§Ă£o dos analistas de que os ataques do IrĂ£ foram contidos e mais voltados para dar uma resposta Ă  populaĂ§Ă£o iraniana do que a causar grandes danos nas forças dos EUA trouxe a ideia de que nĂ£o deve haver uma grande escalada”, afirma o estrategista-chefe da EPS Investimentos, Luciano Rostagno.

AversĂ£o ao risco

A aversĂ£o ao risco vista no inĂ­cio do dia refletia os temores de uma agravamento do conflito no Oriente MĂ©dio. No fim de semana, houve ataques dos Estados Unidos a trĂªs instalações nucleares no IrĂ£. O Parlamento iraniano aprovou resoluĂ§Ă£o para fechamento do estreito de Ormuz. Contudo, a decisĂ£o cabe ao Conselho Supremo de Segurança Nacional e ao aiatolĂ¡ Ali Khamenei, lĂ­der supremo do paĂ­s. Em publicaĂ§Ă£o no X apĂ³s a retaliaĂ§Ă£o iraniana aos EUA, Khamenei afirmou que o paĂ­s nĂ£o agrediu ninguĂ©m. E nĂ£o aceitarĂ¡ “nenhum tipo de agressĂ£o, sob nenhuma circunstĂ¢ncia”.

Para o economista Vladimir Caramaschi, sĂ³cio-fundador da +Ideas Consultoria EconĂ´mica, os mercados iniciaram a semana reagindo com relativo “sangue frio” aos ataques dos EUA ao IrĂ£ e a seus possĂ­veis impactos nas cotações do petrĂ³leo.

“O motivo para isso Ă© o fato de que o fechamento do estreito traria uma sĂ©rie de consequĂªncias indesejĂ¡veis para o prĂ³prio IrĂ£. O paĂ­s atrairia a hostilidade de vĂ¡rios paĂ­ses na regiĂ£o. Ainda mais relevante, a medida atingiria de forma drĂ¡stica a economia da China”, afirma Caramaschi.

Sem picos de aversĂ£o ao risco no exterior, a perspectiva Ă© que o real possa atĂ© se apreciar mais nos prĂ³ximos dias e romper o piso de R$ 5,50 no fechamento, diante da expectativa de aumento do diferencial de juros interno e externo, que estimula as operações de carry trade.

Na quarta-feira, 18, o ComitĂª de PolĂ­tica MonetĂ¡ria (Copom) elevou a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual, para 15% ao ano, e sinalizou em seu comunicado a manutenĂ§Ă£o dos juros nos nĂ­veis atuais por “perĂ­odo bastante prolongado”.

Fed

LĂ¡ fora, investidores mantĂªm a aposta de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) vai reduzir a taxa bĂ¡sica de juros americana em 50 pontos-base neste ano. Contudo, o presidente do Banco Central (BC) americano, Jerome Powell, chegou a alertar para o impacto inflacionĂ¡rio do tarifaço de Trump.

Pela manhĂ£, a vice-presidente de SupervisĂ£o do Fed, Michelle Bowman, sinalizou que apoiaria um corte de juros jĂ¡ na prĂ³xima reuniĂ£o de polĂ­tica monetĂ¡ria do banco, em julho, se a inflaĂ§Ă£o continuar dando sinais de arrefecimento. Ă€ tarde, o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, disse que o BC americano pode cortar juros caso a “sujeira” das tarifas se dissipe.

Para Rostagno, da EPS Investimentos, sem um evento que provoque um “aumento mais sustentado da aversĂ£o ao risco”, o real pode continuar amparado pelo aumento do diferencial de juros interno e externo. Isso “favorece a entrada” de investidores estrangeiros na renda fixa local.

“AlĂ©m disso, temos no exterior um enfraquecimento do dĂ³lar, com a polĂ­tica bastante errĂ¡tica do governo Donald Trump. Se o cenĂ¡rio global nĂ£o se mostrar mais adverso, a taxa de cĂ¢mbio tende a se manter pelo menos nos nĂ­veis atuais”, afirma.

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