O dólar fechou em queda de 0,51% nesta quarta-feira (20), cotado a R$ 5,471, em meio ao impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos. O movimento no câmbio contrastou com a véspera, quando a moeda fechou em alta de mais de 1% diante do imbróglio entre os dois países.
Nesse contexto, a Bolsa fechou em alta de 0,17%, a 134.666 pontos. A valorização tímida contrasta com a forte queda de mais de 2% de terça-feira (18). Tal como ocorreu na véspera, o setor bancário esteve novamente sob os holofotes.
O foco do mercado doméstico seguiu voltado à decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou que ordens judiciais e executivas de governos estrangeiros só têm validade no país se confirmadas pelo Supremo.
A decisão foi dada em ação sobre o rompimento da barragem de Mariana (MG). E não diz respeito diretamente à disputa entre Brasil e Estados Unidos. Na prática, porém, indica que o ministro Alexandre de Moraes, colega de corte de Dino, não pode sofrer as consequências da imposição da Lei Magnitsky, da qual foi alvo em julho pelo governo Donald Trump. A pessoa sancionada tem bens e ativos nos Estados Unidos congelados. E entidades financeiras de lá podem ficar proibidas de fazer operações em dólares com ela.
A medida incluiria o uso das bandeiras de cartões de crédito Mastercard e Visa, por exemplo. Os efeitos para as transações de Moraes em reais no Brasil estão sob análise dos bancos; o setor teme os efeitos da decisão de Dino.
Como sinalizou o magistrado, instituições financeiras do país podem receber punição se aplicarem sanções contra Alexandre de Moraes. Essa percepção fez o setor derreter na Bolsa na véspera, tendo perdido mais de R$ 41,3 bilhões em valor de mercado.
Brasileiros em dúvida
Pedro Moreira, sócio da One Investimentos, diz que os bancos brasileiros se encontram em dúvida sobre seguir a Magnitsky ou a decisão de Dino por temer sanções dos americanos. “O mercado começa a projetar cenários. Uma escalada na tensão poderia representar a perda de participação de bancos brasileiros no mercado internacional”, disse.
Após o derretimento na terça, a sessão desta quarta foi de recuperação. Santander liderou as altas do setor, em disparada de 2%, seguido por Banco do Brasil (0,5%), Bradesco (0,36%) e Itaú (0,16%),
Relator do julgamento em que o ex-presidente Jair Bolsonaro é réu por tentativa de golpe de Estado, Moraes está na mira do governo Trump desde o mês passado. O magistrado é acusado de determinar prisões de forma arbitrária e suprimir a liberdade de expressão.
Quando anunciou a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, Trump vinculou a ameaça à suposta “caça às bruxas” de que Bolsonaro seria vítima.
Entrave
Enquanto o governo brasileiro tenta negociar com os EUA, o mercado viu a decisão de Dino como um novo entrave às conversas, assim como uma possível razão para uma resposta mais dura do lado norte-americano. Investidores temem que a reação possa impactar bancos que não cumprirem as determinações das sanções.
“O dia vai ser pautado novamente pela decisão do ministro Flávio Dino, que repercutiu negativamente. Já havia incerteza fiscal e monetária no país, agora há uma incerteza jurídica, o que é muito negativo”, diz Lucélia Freitas, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
“O investidor acaba redobrando a cautela com essas incertezas e a situação acaba escalando a tensão entre o Brasil e o governo Trump.”