Dólar fecha abaixo de R$ 5,50 com maior apetite ao risco no exterior

Estadão Conteúdo
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Dólar. Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

O dólar abriu a semana em queda firme no mercado local, alinhado à onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior. Com mínima a R$ 5,4856 na reta final, a moeda à vista encerrou a sessão desta segunda-feira (16) em queda de 1,00%, a R$ 5,4861. Trata-se do menor valor de fechamento desde 7 de outubro (R$ 5,4859).

Após o escorregão desta segunda-feira, a moeda americana passa a recuar 4,08% em junho, o que leva as perdas acumuladas no ano a 11,23%.

A perspectiva de que o confronto entre Israel e Irã possa não se estender e ficar circunscrito entre os dois países, sem envolvimento direto dos Estados Unidos, diminuiu a aversão ao risco no exterior, abrindo espaço para recuperação de mercados acionários e divisas emergentes.

Dados positivos

Operadores também citaram dois pontos favoráveis ao recuo do dólar. Primeiro, os dados positivos da economia chinesa no varejo e indústria. Segundo, o possível desenlace das decisões de política monetária no Brasil e nos EUA nesta quarta-feira (18), com manutenção de amplo diferencial de juros interno e externo. O real apresentou o melhor desempenho entre as divisas latino-americanas. Considerando as moedas mais líquidas, ficou atrás apenas do rublo russo e do novo shekel israelense.

 “O mercado parece estar tirando um pouco dos ativos os prêmios de risco relacionados à guerra entre Israel e Irã. É só olhar o preço do barril do petróleo voltando um pouco”, afirma o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima. “Além disso, os dados positivos da China acabam ajudando as moedas da América Latina, como o real.”

À tarde, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que o Irã precisa “negociar o mais rápido possível antes que seja tarde demais”. O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, disse que o país não busca intensificar o conflito, mas prometeu reagir a agressões israelenses. Já o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa’ar, disse que a ofensiva contra o Irã ainda não acabou.

Índice DXY

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY caía cerca de 0,05% no fim da tarde, abaixo dos 98,100 pontos, após mínima aos 97,685. A moeda americana ganhou força, contudo, em relação ao franco suíço e ao iene, o que sugere menor aversão ao risco. As cotações do petróleo recuaram, com o contrato do Brent para agosto encerrando em baixa de 1,35%, a US$ 73,23 o barril.

Entre os indicadores americanos, destaque para a queda do índice de atividade industrial Empire State, que mede as condições manufatureiras no Estado de Nova York, para -16, baixa bem superior a esperada (-5,5). Apesar das leituras benignas de inflação e de dados mostrando sinais de perda de fôlego da economia americana, a expectativa é que o Federal Reserve (Fed) não apenas anuncie manutenção da taxa básica de juros dos EUA nesta quarta-feira como reforce a postura cautelosa, indicando que não há pressa em mudar a política monetária.

Para Lima, da Western Asset, a percepção de que a desaceleração da economia americana não vai levar a uma recessão global, evitando assim um movimento de aversão ao risco, deixa investidores mais propensos a migrar investimentos dos EUA para ativos de outras regiões, o que favorece as divisas emergentes.

“O alto custo de carregamento, com os juros locais elevados, acaba potencializando esse efeito externo de queda do dólar no mercado local”, afirma Lima. Para ele, quem o Comitê de Política Monetária (Copom) deve deixar a taxa Selic inalterada em 14,75% ao ano na quarta-feira. “As expectativas de inflação estão desancoradas e nem é preciso dizer como anda o fiscal. Mas o Copom deve tentar comunicar a necessidade de deixar a taxa Selic alta por mais tempo para garantir a convergência da inflação para a meta.”

Quadro político

No quadro político, as atenções estão voltadas à votação ainda na Câmara dos Deputados do requerimento de urgência para apreciação de um projeto de decreto legislativo (PDL). O projetoque derruba o decreto do governo Lula que propõe aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Fontes ouvidas pelo Broadcast Político afirmaram que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), recebeu interlocutores do Planalto. Entre eles, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).