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Dólar. Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

O dólar reverteu as perdas da manhã desta quarta-feira (1º) e fechou em leve alta. Nesse dia, o mercado repercutiu a paralisação parcial do governo dos Estados Unidos. Ao fim do pregão, a moeda avançou 0,10%, cotada a R$ 5,328, enquanto o Ibovespa caiu 0,56%, a 145.415 pontos.

O financiamento para agências federais dos Estados Unidos expirou na virada para quarta-feira, depois que o Senado rejeitou um projeto de lei de gastos temporários que teria mantido as operações até 21 de novembro.

Os democratas se opuseram à legislação devido à recusa dos republicanos em anexar uma prorrogação dos benefícios de saúde que irão expirar no final do ano para milhões de norte-americanos. Os republicanos dizem que essa questão deve receber tratamento separadamente.

Não há um caminho claro para sair do impasse. Essa é a 15ª paralisação (ou “shutdown”, em inglês) do governo desde 1981, e não se sabe quanto tempo ela poderá durar.

Para analistas independentes, a duração poderá ser maior do que a de paralisações passadas que também foram motivadas pelo orçamento. O presidente Donald Trump e autoridades da Casa Branca ameaçam punir democratas com cortes nos programas do governo e na folha de pagamento federal.

Ao menos na frente orçamentária, o que está em jogo é um montante de US$ 1,7 trilhão para operações de agências federais. Trata-se de um quarto do orçamento total de US$ 7 trilhões do governo.

Falta de verba

A princípio, os efeitos da falta de verba se darão na interrupção de atividades das agências. O relatório de emprego payroll esperado para sexta-feira, por exemplo, poderá não sair, tampouco os pedidos semanais de auxílio-desemprego de quinta-feira. Viagens aéreas podem atrasar, pesquisas científicas, suspensas, e até 750 mil funcionários federais correm risco de dispensa, custando US$ 400 milhões ao governo.

O problema principal para o mercado está na paralisação das agências estatísticas. Dados, sobretudo os de emprego e de inflação, servem como um termômetro da saúde econômica dos Estados Unidos. Norteiam as decisões de juros do Fed e, por consequência, as de investimento dos operadores.

O momento é especialmente sensível diante da cautela do Fed quanto ao ciclo de corte de juros, iniciado na reunião de setembro e cuja continuidade depende da evolução dos dados econômicos. A paralisação, segundo analistas, pode afetar tanto a qualidade quanto a pontualidade dos relatórios. Diminui a visibilidade sobre a economia e, portanto, aumentando a incerteza na tomada de decisões.

“Para os investidores, a não publicação do payroll em momento em que o Fed está em processo de corte de juros é preocupante”, diz o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, em comentário enviado a clientes.

Nesse sentido, o relatório de emprego ADP, publicado nesta quarta, é um dos poucos termômetros disponíveis para o mercado. “Teremos que nos contentar com ele, um relatório que não tem sido bem correlacionado com o dado oficial e que não mostra a taxa de desemprego”, diz Faria Júnior.

Setor privado dos EUA

O setor privado dos Estados Unidos fechou 32 mil postos de trabalho no mês passado, após um declínio de 3.000 em agosto. Economistas consultados pela Reuters previam abertura de 50 mil postos.

A surpresa negativa está levando o mercado a apostar que o Fed irá cortar os juros nas reuniões de outubro e dezembro. Com isso, pressionaria para baixo o dólar e os rendimentos dos treasuries, os títulos ligados ao Tesouro norte-americano. A cautela sobre as próximas divulgações, porém, está levando à fuga de ativos de risco, como o real e outras moedas de mercados emergentes.

“Se o shutdown perdurar por muito tempo (o último, por exemplo, durou 35 dias), podemos ver o Fed mais cauteloso, pois ele não teria nem os dados do payroll nem os dados de inflação do CPI, sendo obrigado a tomar a decisão de juros apenas com dados alternativos. Mas, dada a predileção do Fed em relação ao mandato de emprego, mesmo nesse cenário de shutdown prolongado, o corte em outubro se torna mais provável após o dado da ADP”, afirma André Valério, economista sênior do Inter.