
O dólar apresentou queda firme nesta quarta-feira (6), acompanhando a onda de desvalorização global da moeda americana. Com mínima a R$ 5,4591, terminou a sessão em queda de 0,78%, a R$ 5,4632. Ficou abaixo do nível de R$ 5,50 pela primeira vez desde 8 de julho (R$ 5,4458).
Após encerrar julho com alta de 3,07%, o dólar apresenta perdas de 2,46% em relação ao real nos quatro primeiros pregões de agosto. No ano, a desvalorização acumulada é de 11,60%.
Esta quarta-feira foi marcada por apetite por bolsas e divisas emergentes. Isso ocorre em meio a crescentes apostas de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) a partir de setembro.
Com o ambiente externo favorável, o início da vigência das tarifas de 50% sobre parte das exportações brasileiras, cujos impactos parecem em boa parte já mapeados, ficou em segundo plano. À tarde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não pretende retaliar os Estados Unidos.
Lá fora, a guerra comercial ganhou um novo capítulo com a imposição pelos EUA de tarifas adicionais de 25% sobre importações indianas, em razão de compras de petróleo russo pela Índia. Os preços da commodity trocaram de sinal ao longo do pregão, encerrando em baixa de mais de 1%.
Ambiente favorece o real
A economista-chefe da BuysideBrazil, Andrea Damico, afirma que o real é favorecido hoje pelo ambiente internacional mais propício a ativos de risco, com queda generalizada do dólar. “Temos um movimento de ‘risk-on’, com bolsas e moedas emergentes subindo”, afirma Damico.
Entre divisas emergentes pares do real, destaque para o rand sul-africano, com ganhos de mais de 1%. Já o peso chileno andou na contramão e perdeu mais de 0,80%. O peso mexicano, por sua vez, teve desempenho similar ao da moeda brasileira.
Fed
Após dados fracos da geração de empregos em julho, divulgados na última sexta-feira, cresceram as apostas de que o Fed, sob ataque cerrado do presidente dos EUA, Donald Trump, pode iniciar um processo de cortes de juros em setembro e reduzir a taxa em mais de 50 pontos-base ainda neste ano.
Dois diretores do BC americano, Michelle Bowman e Christopher Waller, votaram no encontro de política monetária da instituição na semana passada a favor de uma redução da taxa básica de juros, que foi mantida na faixa entre 4,25% e 4,50%.
Pela manhã, o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, afirmou que pode ser apropriado começar a “ajustar a taxa de juros” no curto prazo. Estão previstos dois cortes ainda neste ano, dados os sinais de perda de fôlego da atividade. À tarde, a diretora do Fed Lisa Cook disse que o payroll de julho foi “preocupante”.
Cotado para a presidência do Fed com o fim do mandato de Jerome Powell, o diretor do Conselho Econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, disse que a “maior prioridade” de Donald Trump “é a independência” do Fed. “Mas os integrantes do comitê parecem estar votando de forma partidária, o que não deveria acontecer”, disse Hassett.
Apreciação do real
O diretor de pesquisa econômica do Banco Pine, Cristiano Oliveira, atribui o comportamento do câmbio ao tombo do dólar no exterior. Contudo, ele acredita que há espaço para continuidade da apreciação do real nos próximos meses.
“O mercado local permanece bastante atrativo para o investidor estrangeiro, seja por conta da confortável posição externa da economia brasileira, pela expectativa de maior crescimento do PIB e pela atratividade do carry trade, dado o alto patamar da taxa de juros”, disse.
À tarde, o Banco Central informou que o fluxo cambial na semana passada foi positivo em US$ 2,010 bilhões. Isso ocorreu graças à entrada líquida de US$ 3,616 bilhões pelo comércio exterior. Em julho, o fluxo total foi negativo em US$ 301 milhões, com saída líquida de US$ 9,247 bilhões pelo canal financeiro.
De janeiro a julho, o fluxo foi negativo em US$ 14,646 bilhões, o segundo resultado mais negativo da série histórica do Banco Central para os sete primeiros meses de cada ano. Ficou atrás apenas de 2020 (US$ 15,818 bilhões), no auge da pandemia da covid-19.
Oliveira, do Pine, lembra que julho foi o primeiro mês de 2025 com saída líquida de investidores estrangeiros da bolsa doméstica (R$ 6,372 bilhões). No ano, o saldo continua positivo em R$ 20,077 bilhões. “Acreditamos que o anúncio de tarifa de 50% sobre exportações brasileiras para os EUA foi o principal fator por trás da saída de dólares do país em julho”, afirma.