O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 27, na casa de R$ 5,48. Pela manhã, a moeda operou em queda firme, com mínima a R$ 5,4600 (-0,70%), mas desacelerou o ritmo de baixa ao longo da tarde. No fim do pregão, o dólar à vista chegou a ter negociação em R$ 5,4829, queda de 0,29%. Na quinta-feira (26), houve uma queda mais brusca, de 1,02% em relação à quarta-feira (25)
Assim, o dólar termina a semana com perdas de 0,76%, o que eleva a desvalorização acumulada em junho a 4,14%. No ano, a moeda recua 11,28% em relação ao real, que apresenta o melhor desempenho entre divisas latino-americanas.
Operadores atribuíram a perda de fôlego do real, sobretudo, ao fortalecimento da moeda norte-americana no exterior. Também à alta das taxas dos Treasuries, após o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmar que encerrou as negociações comerciais com o Canadá.
Desconforto com Haddad
Houve também certo desconforto com declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista à GloboNews, em momento marcado por atritos entre o Congresso e o governo. Haddad descartou a possibilidade de alterar as metas fiscais. Não deu sinais de que o governo pretende cortar gastos. E disse que o clima político não colabora para um alívio no Orçamento. Afirmou ainda que o governo pode judicializar a derrubada do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pelos parlamentares.
A consultoria MCM 4intelligence afirma que, além do ambiente externo favorável, o real se beneficia do “significativo” diferencial de juros internos e externos, que sustenta as operações de carry trade.
Em evento pela manhã, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, afirmou que um debate sobre corte da taxa Selic ainda está muito distante dentro do Comitê de Política Monetária (Copom). Na semana passada, o Copom elevou a taxa de 14,75% para 15%
Parte da queda do dólar pela manhã deve-se à leva de indicadores divulgados nesta sexta-feira atestando moderação da inflação em um ambiente de atividade bastante saudável. A Pnad contínua do trimestre encerrado em maio mostrou queda da taxa de desemprego, ao passo que o IGP-M de junho apresentou deflação acima da esperada.
Percepção do risco
Para a MCM 4intelligence, parte do desempenho do real neste ano reflete uma “nítida melhora na percepção de risco do Brasil relativamente a outros mercados emergentes”. Além da menor exposição do país ao tarifaço de Trump, o Brasil tem um histórico de crescimento nos últimos anos. Isso “contrasta com fragilidades observadas em pares”.
A consultoria revisou para baixo a previsão de taxa de câmbio no fim do ano, de R$ 5,80 para R$ 5,70. Mas afirma que mantém visão cautelosa em torno do comportamento do real ao longo do segundo semestre.
“A fragilidade fiscal tem sido agravada pelo acirramento da disputa político-eleitoral antecipada, materializada na rejeição pelo Congresso das recentes medidas de ajuste tributário propostas pelo Executivo”, afirma a MCM 4intelligence. “Em meio à crise de popularidade do governo, esse cenário de confronto tende a persistir e potencialmente se intensificar. O resultado deve ser a perda parcial do vigor recente da moeda brasileira ao longo dos próximos meses.”