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Dólar. Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

O dólar acentuou bastante o ritmo de alta no mercado local ao longo da tarde desta quarta-feira, 9, com busca por posições cambiais defensivas. Isso ocorreu após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmar que iria aumentar tarifas de importação ao Brasil.

Com o mercado à vista já fechado, Trump anunciou tarifas de 50% a produtos brasileiros nesta quarta. Isso levou a uma disparada do dólar futuro para agosto, que atingiu o nível de R$ 5,63, em paralelo à deterioração dos demais ativos domésticos.

O dólar à vista, que registrou máxima a R$ 5,5034 na reta final dos negócios, encerrou a sessão em alta de 1,04%, a R$ 5,5024. Trata-se do maior valor de fechamento e acima do nível de R$ 5,50 pela primeira vez desde 25 de junho (R$ 5,5551). A liquidez foi contida em razão de feriado no estado de São Paulo.

Com a arrancada desta quarta, a divisa passa a acumular alta de 1,43% na semana e de 1,26% nos sete primeiros pregões de julho. Havia terminado o primeiro semestre com desvalorização de 12,07%. No ano, a moeda americana agora recua 10,97% em relação ao real.

“O dólar estava relativamente tranquilo até a declaração do Trump sobre o Brasil. Provavelmente, os EUA vão anunciar uma tarifa nova para nós”, afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt. Ele acrescenta que, até o momento da fala de Trump, a tese era de que o Brasil seria um dos países menos prejudicados pelo tarifaço. A alíquota chegava ao piso de 10% das chamadas tarifas recíprocas.

Repercussão da fala de Trump

Fontes ouvidas pela Broadcast afirmam que o governo brasileiro recebeu sem surpresa a fala de Trump, que já havia ameaçado nos últimos dias com taxação países dos Brics e seus aliados. Avalia-se que o momento é de colocar “os números na mesa” citando o déficit comercial do Brasil em relação aos EUA.

Além de sinalizar com imposição de tarifa maior ao Brasil, com a afirmação de que o país “não tem sido bom para os EUA”, Trump anunciou nesta quarta mais uma rodada de aumentos tarifários para uma série de países a partir de 1º de agosto, incluindo Argélia, Filipinas, Líbia e Iraque, entre outros.

Weigt, do Travelex, observa que os ruídos provados pelas tarifas levaram a uma interrupção da tendência de enfraquecimento global do dólar e de diversificação de portfólios, abrindo espaço para investidores embolsarem lucros obtidos com apostas em divisas emergentes. Por aqui, a taxa de câmbio desceu até R$ 5,40 na última quinta-feira, 3, nos menores níveis em mais de um ano.

“Está muito difícil romper os R$ 5,40 neste momento. O dólar havia caído em relação a todas as moedas e agora está voltando um pouco”, afirma Weigt, que vê possibilidade de a taxa de câmbio atingir R$ 5,55 antes de voltar cair e eventualmente ficar abaixo de R$ 5,40. “Cortes de juros pelo Federal Reserve ainda neste ano devem ajudar as divisas emergentes, principalmente quando ficar claro se os EUA vão mesmo aumentar as tarifas e em que nível elas vão ficar”.

Juros nos EUA

Apesar dos alertas em torno da incerteza e dos eventuais impactos inflacionários do tarifaço de Trump, a ata do encontro do Fed em junho, divulgada à tarde, não esfriou as apostas em cortes de juros nos EUA nos próximos meses. O documento revela que a maioria dos dirigentes do Fed julga que seria apropriado afrouxar a política monetária neste ano. Dois deles estão abertos a redução da taxa já neste mês.

Ferramenta de monitoramento do CME Group mostra que as chances de um corte de juros em setembro subiram levemente, para a casa de 70%. As apostas ainda se concentram em uma redução acumulada de 50 pontos-base da taxa básica americana neste ano.

A Pantheon Economics avalia que a ata mostra que o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) do Fed está “claramente dividido” em relação à trajetória da taxa de juros. A consultoria prevê que o enfraquecimento do mercado de trabalho dos EUA em julho e agosto vai abrir a porta para a retomada do ciclo de relaxamento monetário em setembro. “Continuamos prevendo flexibilizações de 25 pontos-base em cada uma das reuniões de setembro, outubro e dezembro”, afirma.