O dólar ganhou força no mercado local ao longo da tarde e subiu nesta terça-feira (17), em meio ao aumento dos ganhos no exterior. Após registrar máxima a R$ 5,5076, a moeda à vista encerrou a sessão em alta de 0,20%, a R$ 5,4968. Na segunda-feira (16), a moeda havia recuado 1,00%, para o menor nível de fechamento desde 7 de outubro. Em junho, a divisa apresenta perdas de 3,89%, o que leva a desvalorização acumulada em 2025 a 11,06%.
Temores de que os Estados Unidos se envolvam diretamente na guerra entre Israel e Irã deflagraram uma onda de aversão ao risco. A possibilidade vem na esteira de declarações do presidente dos EUA, Donald Trump,
Investidores intensificaram na segunda etapa de negócios o movimento de saída de bolsas e divisas emergentes e buscaram abrigo no dólar e nos Treasuries. Termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY renovou máxima à tarde acima dos 98,800 pontos. Já em alta firme pela manhã, os preços do petróleo acentuaram os ganhos e fecharam com valorização de quase 5%.
O presidente norte-americano afirmou, em publicação na rede social Truth Social, que os EUA têm “controle total e completo dos céus no Irã”. Trump escreveu que o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, é um “alvo fácil”, mas que os EUA não vão “eliminá-lo (matar!) por enquanto”. A CNN informou que Trump está cada vez mais inclinado a usar recursos militares dos EUA para atacar instalações nucleares iranianas.
Perdas
O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, observa que o real, que chegou a se apreciar em boa parte do pregão, terminou o dia com perdas inferiores às de outras moedas. Isso inclui pares como o peso mexicano. “O real ainda se beneficia da percepção dos últimos dias de que o Banco Central possa promover uma alta da taxa Selic nesta semana, o que tornaria o diferencial de juros ainda mais favorável”, afirma Costa, em referência ao encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira.
De 48 casas ouvidas por Projeções Broadcast, 27 preveem que o Copom opte por deixar a taxa básica estacionada em 14,75%. Já outras 21 instituições apostam em elevação da Selic em 0,25 ponto porcentual, para 15% ao ano. A maioria dos analistas ouvidos pelo Broadcast afirma que, seja qual for a decisão, o comitê não vai decretar o fim do aperto monetário.
“Além dos desdobramentos do conflito no Oriente Médio, há um clima de cautela com a espera das decisões de política monetária aqui e nos EUA. Uma parcela do mercado acredita em alta de 0,25 ponto da Selic. Isso acaba favorecendo o ingresso de capital especulativo e favorece o real”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli.
Juros nos EUA
Nos EUA, a perspectiva é que o Federal Reserve anuncie na quarta-feira (18) manutenção da taxa básica de juros na faixa entre 4,25% e 4,50% e reitere que a política monetária está bem posicionada para lidar com as incertezas provocadas pela política comercial e migratória da administração Trump. Por ora, as apostas majoritárias são de que o BC americano inicie um processo de corte de juros em setembro. A redução total chegaria a 50 pontos-base neste ano.
Para Costa, da Monte Bravo, o Fed tende a revisar para cima a projeção de inflação e estimar uma piora pequena do mercado de trabalho – quadro que justificaria manutenção da taxa de juros, dado o duplo mandato do BC americano, que consiste em buscar a meta de inflação com o máximo emprego.
“O Fed pode optar por esperar mais um pouco e, eventualmente, conforme os dados evoluírem, fazer algum corte mais para o fim do ano”, afirma Costa. Ele ressalta que a apreciação do real em 2025 está intimamente ligada à depreciação global dólar, dado movimento de rotação global de carteiras. “Se não tivermos um Fed um pouco mais duro nem mais aversão ao risco com essa questão da guerra, a tendência é o dólar se enfraquecer ainda mais. Podemos ver a taxa de câmbio perto de R$ 5,40.”