
O dólar fechou em alta de 0,36%, cotado a R$ 5,4338, nesta terça-feira (26). Investidores repercutiram dados da inflação brasileira e a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de demitir uma diretora do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA).
O Ibovespa caiu 0,21%, a 137.727 pontos, segundo dados preliminares. A movimentação do principal índice da Bolsa acompanha a queda de cerca de 2% das ações da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). A partir da noite de quarta-feira (27), a empresa passará a diminuir a pressão da água no encanamento de toda a região metropolitana de São Paulo por oito horas no período noturno devido à crise hídrica na região.
Assim como na véspera, o real operou na contramão de outras moedas. O DXY, índice que mede o desempenho da moeda norte-americana frente as mais importantes divisas do mundo, caía 0,22%, a 98 pontos, indicando a desvalorização internacional do dólar.
Demissão no Fed
Segundo analistas, a demissão de Lisa Cook, do Fed, gera incertezas sobre a autonomia da autoridade monetária americana. Ela é uma três diretoras do Fed com mandato que ultrapassa o período de governo de Trump. E foi uma das nove diretoras que votou pela manutenção da taxa de juros entre 4,25% e 4,5% na reunião realizada no fim de julho, decisão que irritou Trump.
A diretora do Fed afirmou que a sua demissão não tem amparo legal e que também não vai renunciar ao posto.
“É natural que isso tenha um efeito e um reflexo negativo. É algo que, de certa forma, fere a independência do Banco Central americano”, diz Fabricio Voigt, economista da gestora Aware Investments.
O S&P 400, principal índice acionário dos EUA, encerrou em alta de 0,4%. Juros mais baixos, como o defendido por Trump, beneficiam a renda variável e reduzem o custo de capital.
Segundo João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos, entretanto, o mercado brasileiro está receoso nesta terça com as notícias sobre a inflação e ofensiva de Trump sobre o Fed. “O investidor passa a ser mais cauteloso e investir em ativos de menor risco como o dólar, o que se reflete na cotação da moeda e da Bolsa”.
Na segunda (25), a moeda americana fechou em queda de 0,21%, a R$ 5,413, e o Ibovespa teve alta marginal de 0,04%, a 138.025 pontos. O índice DXY, por outro lado, subiu 0,75%.
IPCA-15
Na cena doméstica, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), considerado uma prévia do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), registrou deflação (queda) de 0,14% em agosto, a primeira em mais de dois anos.
Os dados foram divulgados nesta terça (26) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo a entidade, o resultado foi puxado pela queda nos preços da conta de luz, alimentos e gasolina.
Havia, entretanto, expectativa do mercado financeiro por uma redução ainda mais intensa. A mediana das projeções de analistas estava em 0,20%, de acordo com a agência Bloomberg.
“Os serviços voltaram a acelerar, com os subjacentes no limite superior das projeções e os itens intensivos em mão de obra devolvendo o alívio visto em julho. Os preços de industriais, excluindo automóveis novos, também vieram piores que o projetado. Assim, o dado interrompe a sequência recente de surpresas positivas para a inflação corrente. E pode reduzir o ímpeto das revisões baixistas nas projeções para 2025”, afirma Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.
Segundo Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, a deflação não é o suficiente para justificar um corte de juros do Banco Central. “Ainda é uma inflação com uma composição ruim. Isso reforça as apostas de que o Copom vai manter a Selic em 15% durante o segundo semestre. Favorece a perspectiva de rendimentos de títulos brasileiros”, diz.
Segundo analistas, o IPCA-15 elevou os juros futuros na sessão, especialmente os contratos de prazos mais curtos.
Segundo Luciana Rabelo, economista do Itaú, o IPCA-15 trouxe “surpresas altistas em energia elétrica residencial, cursos regulares, alimentação fora do domicílio e higiene pessoal”.
Tarifaço
O mercado também permanece atento às tentativas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de negociar a tarifa de 50% imposta por Washington sobre produtos brasileiros -que, por ora, não tem dado resultado.
Nesta terça, o presidente Lula voltou a se posicionar contra o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos com críticas ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e à falta de regulamentação das chamadas big techs.
“Ele [Trump] publicou de novo ontem às 21h uma nota dizendo que quem mexer nas big techs dele vai ter consequências”, disse Lula. “Disse que as big techs são patrimônios americanos e não quer que ninguém mexa. Isso pode ser verdade para ele, não para nós. Quem quiser entrar nesse 8 milhões de km² tem que prestar conta à nossa Constituição”, declarou.
Os canais de negociação entre os países continuam fechados e há um temor de que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) intensifique as tensões.
Integrantes do governo Lula (PT) e do STF (Supremo Tribunal Federal) consideram real a possibilidade de Trump aplicar novas sanções econômicas contra o Brasil. Pode haver outras restrições a autoridades do país com o julgamento de Bolsonaro, que começa em setembro.