
O dólar fechou em queda de 0,33% nesta sexta-feira (15), cotado a R$ 5,398, com os investidores atentos à reunião entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin.
O mercado também repercutiu dados econômicos dos Estados Unidos enquanto reajustava apostas para a política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano).
Já a Bolsa teve variação negativa de 0,01%, a 136.340 pontos, tendo uma série de balanços corporativos como norteadores do pregão. São exemplos o do Banco do Brasil, Marfrig e BRF.
Trump e Putin
Os presidentes Trump e Putin se encontram nesta tarde em Anchorage, no Alasca. Os dois líderes irão negociar o fim da guerra na Ucrânia, ainda que o líder ucraniano, Volodimir Zelenski, não tenha sido convidado para a reunião.
Essa será a primeira cúpula presencial entre os líderes das duas principais potências nucleares do mundo desde 2021, em meio a esforços diplomáticos para pôr fim ao conflito que já dura mais de três anos.
A bordo do Air Force One, Trump disse que caberá à Ucrânia decidir que território irá negociar para chegar a uma paz com a Rússia. Com a fala, ele busca tentar afastar de si a acusação de que irá definir o destino da Ucrânia a sós com Putin, sem a presença de Zelenski ou seus interessados aliados europeus, que temem que o apetite territorial do russo não se restrinja ao vizinho.
Energia
Para os mercados, uma eventual redução do risco geopolítico pode aliviar a pressão sobre preços de energia e commodities.
“Qualquer sinal de avanço nas negociações pode derrubar o petróleo no curto prazo, enquanto um fracasso tende a impulsionar a cotação e aumentar a volatilidade. Um eventual acordo que flexibilize sanções e aumente a oferta teria potencial de aliviar pressões inflacionárias globais, especialmente nos custos de energia e transporte, mas esse efeito dependeria da consistência política e operacional do entendimento e, por ora, o cenário mais provável ainda é de ganhos limitados e cautela por parte dos investidores”, avalia Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
Tarifaço
A expectativa em torno da cúpula -e dos possíveis efeitos na economia global- se somou nesta sessão a dados econômicos dos Estados Unidos, tendo o tarifaço de Trump como pano de fundo.
Os preços de produtos importados subiram inesperadamente em julho, a 0,4%, ante uma queda de 0,1% no mês anterior e contra a projeção de estabilidade de economistas consultados pela Reuters.
A leitura é mais um sinal de que as tarifas do presidente Donald Trump estão impactando os preços no país e, em breve, poderão alcançar os consumidores norte-americanos. Na véspera, números da inflação ao produtor acima do esperado já haviam apontado para esse cenário.
Varejo
Em outro relatório, as vendas no varejo dos Estados Unidos subiram de forma sólida em julho, impulsionadas pela forte demanda por veículos automotores e por promoções de varejistas. As vendas cresceram 0,5% no mês passado, após alta revisada para cima de 0,9% em junho.
Com os números em mãos, operadores passaram a reajustar suas apostas sobre a política monetária do Fed. Até quarta-feira, dados de emprego e de inflação ao consumidor em julho fizeram o mercado precificar totalmente a probabilidade de um corte de juros na reunião de setembro, com boa parte das apostas apontando para uma redução de 0,25 ponto percentual e uma pequena porcentagem para 0,5 ponto.
A inflação ao produtor apagou a possibilidade do corte maior, e os números desta sexta-feira fizeram as apostas em torno da redução de 0,25 ponto titubearem momentaneamente para 88% chance, segundo dados de LSEG. Minutos depois da divulgação, porém, os operadores voltaram a ver 93% de probabilidade do corte -mesmo patamar da véspera, mas ainda abaixo dos 100% observados nesta semana.
A perspectiva de mudança na política monetária do Fed afeta o dólar no exterior. Quanto menor a taxa de juros, menos atrativos ficam os rendimentos ligados à renda fixa dos Estados Unidos, desvalorizando o dólar.
“Apesar do fortalecimento ao longo de junho, não vemos mudanças nos fundamentos para o dólar, que deve continuar a enfraquecer globalmente. Uma política econômica mais errática nos EUA e atividade econômica resiliente no resto do mundo são fatores que reduzem a percepção sobre o excepcionalismo norte-americano”, disseram analistas do Itaú em relatório.
O índice DXY, que compara a moeda em relação a uma cesta de seis divisas fortes, caiu 0,39%, a 97,84 pontos.
A perspectiva de cortes de juros pelo Fed tem favorecido o real em sessões recentes devido à percepção de que, com a taxa Selic em patamar alto por tempo prolongado, o diferencial de juros entre Brasil e EUA permanecerá favorável para o lado brasileiro.
Por outro lado, o impasse tarifário entre os dois países ainda inspira cautela. Trump avaliou, na véspera, que o Brasil é “um dos piores países do planeta” e “um péssimo parceiro comercial”.
“O Brasil tem algumas leis muito ruins. Eles pegaram um presidente e o colocaram na prisão, ou estão tentando prendê-lo”, disse, em referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
As declarações escalam as tensões comerciais entre os dois países. O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue tentando negociar com Washington, mas não tem tido sucesso na empreitada.
Uma conversa entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, estava agendada para esta quarta-feira, mas foi desmarcada pelo lado norte-americano sem perspectiva de nova data.
Na quinta, o governo Lula apresentou um plano de contingência para assistir empresas afetadas pela tarifa de 50% a produtos brasileiros. O pacote, batizado de “Brasil Soberano”, foi apresentado na forma de uma MP (Medida Provisória e terá vigência imediata, mas precisará ser apreciado pelo Congresso Nacional em até 120 dias.
A MP cria uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para as companhias atingidas pelo tarifaço, bem como inclui o adiamento de impostos federais, maior ressarcimento de créditos tributários e uma reformulação nas garantias à exportação para facilitar a busca de novos mercados.
Ainda que julguem que o pacote é necessário para proteger o setor produtivo, agentes financeiros demonstram receios de que as medidas possam ter um impacto fiscal relevante ou servir como justificativa para que o governo abandone o compromisso com as metas para as contas públicas.
Na cena corporativa, balanços financeiros do 2º trimestre pautaram o pregão da Bolsa. Marfrig e BRF subiram 8,89% e 5,29%, respectivamente, na esteira de suas divulgações. Banco do Brasil avançou 3,37% mesmo após queda de 60% no lucro líquido -dado que já estava precificado pelo mercado.
Nos EUA, Nubank subiu 5% e JBS, 2,52%, também em reação aos balanços corporativos.