Um estudo inédito realizado pelo Departamento de Relações Institucionais e Governamentais da Faciap (Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná) aponta um grave risco à economia de parte do estado com a aplicação de novas tarifas sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, o tarifaço de Trump, que deverão entrar em vigor nesta quinta-feira (7). A medida, assinada em 30 de julho pelo presidente Donald Trump, elevará de 10% para 50% a tarifa de entrada para centenas de produtos.
O levantamento mostra que o Paraná é hoje o 7º maior exportador brasileiro para os EUA, com US$ 735 milhões em vendas no primeiro semestre de 2025. Quase 40% desse volume está concentrado no setor de madeira, especialmente nos municípios da região dos Campos Gerais, como Telêmaco Borba, Jaguariaíva, Ventania e Guarapuava. “Não se trata de uma crise generalizada, mas de um colapso localizado e setorial, com potencial de colocar em risco mais de 600 mil empregos. A região dos Campos Gerais está no epicentro e precisa de atenção urgente”, afirma Flávio Furlan, presidente da Faciap.
Flávio Furlan destaca ainda que o reflexo do desemprego causado pela perda de exportações vai muito além da indústria afetada: derruba o consumo, fragiliza o comércio local, aumenta a inadimplência e compromete a economia regional como um todo. Por isso, o impacto da sobretaxa dos EUA sobre o Paraná não é apenas industrial, é social e comunitário.
Madeira fora das isenções
Apesar das isenções tarifárias em 700 produtos anunciadas pelo governo americano, a produção madeireira paranaense não foi contemplada. Itens como compensado de pinus, molduras e madeira serrada, principais produtos da região, seguem taxados. As exceções incluem apenas madeira tropical e polpa de madeira, categorias diferentes das produzidas no Paraná. Isso impõe um desafio imediato às indústrias locais, aponta o relatório.
Impactos do Tarifaço de Trump
Enquanto o setor madeireiro segue vulnerável, outros segmentos foram beneficiados pelas isenções, como reatores nucleares, máquinas industriais, alguns alimentos industrializados como a polpa e o suco de laranja, castanhas e papel. A Região Metropolitana de Curitiba e o Norte do Paraná, com produção mais diversificada, devem enfrentar impactos menores com a medida dos EUA.
Volatilidade e instabilidade
O estudo também revela uma tendência de volatilidade crescente nas exportações paranaenses ao longo do semestre. O volume exportado bateu pico em março (US$ 146 milhões), caiu em maio (US$ 113 milhões) e apresentou leve recuperação em junho. A curva reforça os relatos de instabilidade vivenciados pelas empresas exportadoras, nos meses que antecederam o anúncio da sobretaxa. “Os exportadores anteciparam o envio de produtos aos EUA para se beneficiarem da taxa vigente”, afirma Aluizio Miguel Pinho Andreatta, diretor de Comércio Exterior da Faciap.
Faciap defende ação estratégica para Tarifaço de Trump
Diante do cenário, a Faciap defende uma estratégia dual: de um lado, ações emergenciais voltadas ao setor florestal e aos Campos Gerais; de outro, estímulo aos setores beneficiados. “É hora de agir com inteligência. O Paraná precisa de políticas públicas regionais e setoriais, como crédito emergencial, suspensão de tributos e incentivo à abertura de novos mercados. E as empresas precisam buscar inovação, redirecionamento e maior agregação de valor, além de buscar novos mercados”, reforça Aluizio Andreatta.