Quem passava por um canteiro de obras no Brasil no início dos anos 1990 encontrava uma cena recorrente: pilhas de madeira cortada servindo de apoio para as lajes de concreto. O método cumpre até hoje sua função, mas com limitações.
Cada projeto exige novas peças, a montagem é mais demorada e parte significativa do material ainda acaba descartada ao fim da obra. Em 1995, um sistema criado pela ORPEC – Andaimes, Formas e Escoramentos começou a redesenhar esse cenário. Batizado de ECUB, ele inaugurou o uso de escoramentos metálicos em lajes nervuradas e levou mais produtividade, segurança e padronização para os canteiros.
Três décadas depois, os números comprovam o impacto do ECUB, que já foi utilizado em mais de dois milhões de metros quadrados de lajes nervuradas, área que equivaleria a 200 campos de futebol. Ao longo desse período, a substituição da madeira evitou o consumo estimado de 300 mil toneladas do recurso natural, além de acelerar processos e reduzir custos.
“Nos anos 1990, a construção civil ainda enxergava o escoramento apenas como um insumo de baixo custo. O ECUB mostrou que ele podia ser estratégico para ganhar produtividade e qualidade”, afirma Júlio Mouro, diretor da ORPEC.
Por que o escoramento metálico virou padrão
A laje é a estrutura de concreto que forma pisos e tetos em praticamente todos os edifícios. Quando o concreto é despejado, ele ainda está líquido e precisa de um apoio temporário até ser curado. Esse apoio é o escoramento. Durante décadas, a madeira foi o material mais usado por ser barato e de fácil manuseio, mas tem pouca durabilidade e exige alto descarte. O escoramento metálico trouxe uma lógica diferente, uma vez que as peças de aço são reguláveis em altura, podem ser reaproveitadas em diversas obras e oferecem maior capacidade de carga.
Dentro desse contexto está um tipo específico de laje, que é nervurada. Ela permite criar grandes vãos sem a necessidade de tantos pilares, sendo uma solução bastante usada em estacionamentos, shoppings e edifícios corporativos. Para moldar esse tipo de laje, utilizam-se cubetas plásticas que criam os espaços vazados no concreto e reduzem o volume de material. O desafio sempre foi sustentar essas fôrmas até que o concreto ganhasse resistência.
É justamente aí que o ECUB pode ser aplicado. “Ao unir escoras metálicas reutilizáveis e cubetas plásticas modulares, o sistema tornou o processo mais rápido, padronizado e preciso. A estabilidade do aço diminuiu riscos de falhas e o reaproveitamento das peças reduziu custos”, explica o diretor da ORPEC.
Os números da transformação
Em três décadas, o sistema ECUB esteve presente em hospitais, universidades, edifícios corporativos e estacionamentos subterrâneos, obras que exigem vãos amplos e soluções confiáveis. É essa diversidade de aplicações que ajuda a explicar os mais de dois milhões de metros quadrados de lajes nervuradas executados com o método.
Os ganhos, porém, vão além da escala. Ao permitir que o mesmo conjunto de escoras e cubetas seja utilizado em diferentes empreendimentos, o sistema encurtou prazos de execução e reduziu custos. A repetibilidade trouxe precisão aos processos e diminuiu a margem para erros. Em um setor onde cada dia de atraso pesa no orçamento, essa previsibilidade se converteu em vantagem competitiva.
“Produtividade e qualidade sempre pareceram objetivos em conflito, mas o escoramento metálico mostrou que é possível avançar nos dois pontos ao mesmo tempo”, reflete Júlio Mouro.
A nova geração: do ECUB ao ALUPEC
O pioneirismo do ECUB abriu caminho para novas soluções. Em 2025, a ORPEC lançou o ALUPEC, desenvolvido para lajes maciças e protendidas, que respondem pela maior parte dos empreendimentos residenciais e comerciais. Mais leve e de montagem simplificada, o sistema utiliza um cabeçote rebatível que permite retirar parte das fôrmas pouco tempo após a concretagem, o que acelera o reaproveitamento em outros pavimentos.
A convivência entre os dois sistemas mostra a evolução do setor. O ECUB mantém sua relevância em grandes vãos e lajes nervuradas, enquanto o ALUPEC atende à demanda por velocidade em pavimentos típicos. “Se o ECUB representou a virada para o escoramento metálico, o ALUPEC amplia essa lógica para um mercado ainda maior, que precisa de soluções rápidas e eficientes”, projeta Mouro.
Sessenta anos de história e um olhar para frente
O aniversário de 30 anos do ECUB coincide com os 60 anos da ORPEC. Fundada em 1965, a empresa participou de obras como Itaipu e o Gasoduto Bolívia-Brasil, mas foi ao apostar em escoramentos metálicos que consolidou sua imagem inovadora.
Primeiro, com a substituição gradual da madeira. Depois, com o desenvolvimento de sistemas para diferentes tipos de laje. Hoje, as discussões caminham para a digitalização e a automação dos processos. Ainda assim, soluções como o ECUB e o ALUPEC lembram que a inovação também nasce de ajustes práticos que transformam a rotina dos canteiros. “Olhar para trás mostra o quanto já transformamos. Olhar para frente mostra o tamanho da responsabilidade que temos”, afirma Mouro.