Mentiras no trabalho: por que acontecem e 5 passos para reduzi-las

É um fenômeno que remonta às primeiras civilizações

Assessoria de Imprensa
virgilio marques mentira

Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria (Foto: Isaque Martins)

A mentira no ambiente de trabalho é um fenômeno tão antigo quanto as próprias instituições de trabalho. Historicamente, desde as primeiras organizações, a mentira tem desempenhado um papel intrigante nesse tipo de relação. É um fenômeno que remonta às primeiras civilizações e tem sido uma constante – embora indesejável – na interação humana.

Desde os tempos antigos, trabalhadores e empregadores têm se engajado em mentiras por diversos motivos: desde o simples medo de represálias, até o desejo de ganho pessoal. Este comportamento, embora muitas vezes visto como uma pequena transgressão, pode ter consequências significativas tanto para indivíduos quanto para organizações.

Mentir no trabalho significa fornecer informações falsas ou enganosas. Este ato pode variar desde pequenas omissões até fraudes elaboradas.

Historicamente, temos exemplos de mentiras que resultaram em desastres, como a manipulação de informações financeiras que levou à queda de grandes corporações.

Por outro lado, existem casos, em campanhas publicitárias, por exemplo, em que a “mentira criativa” resultou em sucessos de vendas extraordinários, embora tais práticas estejam cada vez mais sob escrutínio ético.

Razões por trás das mentiras

As mentiras geralmente surgem de um conflito entre os valores pessoais e os da empresa, do medo de represálias por parte da liderança ou da percepção de que certas exigências são absurdas. A pressão para atender a metas irreais muitas vezes leva os funcionários a alterarem relatórios ou informações. Este comportamento não só é prejudicial à saúde organizacional, mas também pode ter repercussões legais graves.

Em minha experiência, vi várias vezes mentiras acontecerem. Lembro-me de uma vez na qual fui deparado com uma meta impossível. Ao arguir como alcançá-la, recebi algumas palavras genéricas, como: “você tem que se dedicar, ver os desvios, colocar tecnologia. Se fizer isso, vamos bater a meta”. Depois de perceber que a insistência seria em vão, anuiu ao impossível objetivo e acabei, na minha percepção, mentindo para mim mesmo.

Outra vez, na mesma empresa cujo ambiente de trabalho não tinha espaço para o contraditório, comentei sobre a precariedade do refeitório. Fui sincero, dizendo (à contragosto da liderança intermediária) que os processos não estavam funcionando corretamente. O vice-presidente, fingindo-se surpreso por ouvir a verdade, chegou às 6 da manhã na empresa e verificou in loco que estava sendo enganado. Nesse momento, apesar da insubordinação, fiquei orgulhoso da minha atitude, pois mesmo sendo algo duro, fui sincero. É importante notar que só fiz isso porque já tinha pedido minha demissão. Afinal, se o valor da empresa é esconder as coisas complicadas e só mostrar para a liderança as coisas boas, não conseguirei trabalhar lá.

Outra causa comum de catástrofes e mentiras é o sistema de recompensas. Se as métricas que levam o time a ganhar o bônus for passível de fraude, fique tranquilo, ele será fraudado. Seja forjar vendas para dobrar comissões, seja reportar lucros para aumentar o preço das ações, ou coisas mais simples do tipo comissões forjadas. Tudo isso só é feito porque o comportamento da fraude foi incentivado. Nas primeiras vezes, por não conseguir apurar os desvios, os profissionais que mentiram acabaram sendo recompensados e, quando isso acontece, a avalanche só acaba quando o problema fica grande demais.

Empresas com baixas taxas de mentiras

Algumas organizações conseguiram criar ambientes onde a honestidade prevalece e as mentiras são raras. Empresas como Google e Zappos são conhecidas por suas culturas organizacionais transparentes e abertas. Nelas, práticas como feedback constante, canais abertos de comunicação e uma forte ênfase nos valores corporativos ajudam a criar um ambiente onde a mentira é desnecessária e desencorajada.

Melhores práticas para reduzir a mentira

Para diminuir a incidência de mentiras no local de trabalho, é essencial criar uma estrutura organizacional que promova a honestidade. Na minha percepção, isso inclui cinco pontos principais:

● Cultura de abertura e transparência: encorajar a comunicação honesta em todos os níveis da organização;

● Políticas claras e justas: estabelecer regras sobre conduta ética e assegurar que sejam aplicadas de forma justa e consistente;

● Canais de comunicação seguros: fornecer meios confidenciais para que os funcionários relatem condutas inapropriadas sem medo de represálias;

● Formação e sensibilização: realizar formações regulares sobre ética e integridade no trabalho;

● Liderança pelo exemplo: líderes e gerentes devem demonstrar integridade e honestidade em suas ações.

Encerrando esta análise, é crucial enfatizar a importância da honestidade na carreira. A mentira, embora possa oferecer ganhos de curto prazo, quase sempre leva a consequências negativas a longo prazo, prejudicando a reputação e a credibilidade do indivíduo.

A honestidade, por outro lado, constrói confiança e promove um ambiente de trabalho saudável e produtivo. Profissionais que cultivam a honestidade em suas carreiras estão mais propensos a alcançar sucesso sustentável e respeito duradouro em seus campos de atuação. A longo prazo, ela não apenas beneficia indivíduos, mas também fortalece a integridade e o sucesso das organizações.

Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.