BC e os juros (Marcello Casal Jr/ABr)

Depois da alta da taxa de juros definida pelo ComitĂª de PolĂ­tica MonetĂ¡ria (Copom) na Ăºltima quarta-feira (18), o mercado financeiro tem duas conclusões se mostraram mais consensuais nas primeiras anĂ¡lises de economistas no pĂ³s-Copom.

A primeira Ă© de que, salvo uma grande surpresa nas prĂ³ximas semanas, o ciclo de alta dos juros chegou ao fim. A segunda estĂ¡ na tendĂªncia de a taxa seguir nos atuais 15% por um bom tempo, com pouca chance de corte dos juros ainda neste ano.

As apostas mais otimistas ao afrouxamento da polĂ­tica monetĂ¡ria estĂ£o hoje no primeiro trimestre de 2026, ou atĂ© mesmo em dezembro, no Ăºltimo encontro do Copom deste ano. PorĂ©m bancos que trabalham com este cenĂ¡rio, como o Citi e o Bradesco, demonstraram menos convicĂ§Ă£o apĂ³s a leitura de um comunicado em que o Copom, na visĂ£o dos analistas, deu sinalizações mais duras, ou hawkish no jargĂ£o do mercado.

AlĂ©m de subir os juros, algo que nĂ£o era esperado por todos, jĂ¡ que havia uma divisĂ£o clara nas expectativas, o comitĂª avisou que, para assegurar a convergĂªncia da inflaĂ§Ă£o Ă  meta, considera manter os juros altos por um perĂ­odo “bastante” prolongado.

Desde a reuniĂ£o anterior, finalizada em 7 de maio, a apreciaĂ§Ă£o do cĂ¢mbio deu um refresco Ă s previsões de inflaĂ§Ă£o do mercado, mas nĂ£o levou o Banco Central (BC) a mudar o seu cenĂ¡rio para o IPCA no horizonte relevante da polĂ­tica monetĂ¡ria. A projeĂ§Ă£o continua em inflaĂ§Ă£o de 3,6% no fim do ano que vem – ainda fora, portanto, do objetivo central de 3%.

Mesmo ao sinalizar que o ciclo de aperto de juros chegou ao fim, se tudo ficar mais ou menos dentro do esperado atĂ© a prĂ³xima reuniĂ£o, marcada para os dias 29 e 30 de julho, o colegiado tomou o cuidado de nĂ£o fechar completamente a porta, ponderando que pode mudar de ideia se for necessĂ¡rio. “O ComitĂª enfatiza que seguirĂ¡ vigilante, que os passos futuros da polĂ­tica monetĂ¡ria poderĂ£o ser ajustados e que nĂ£o hesitarĂ¡ em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, alerta o Copom em seu comunicado.

Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, o recado Ă© de que o trabalho para trazer a inflaĂ§Ă£o Ă  meta vai requerer manutenĂ§Ă£o da Selic em 15%, o nĂ­vel mais alto desde julho de 2006, por muitos meses. “Talvez algum inĂ­cio de corte no segundo trimestre ou ao longo do segundo semestre de 2026. É claro que se tivermos uma reancoragem das expectativas isso ajuda o trabalho do BC”, prevĂª Lima.

Em seu comentĂ¡rio, o Citi avalia que o ciclo de cortes dos juros pode começar apenas no segundo trimestre do ano que vem, embora o banco ainda nĂ£o tenha mudado a previsĂ£o de afrouxamento atĂ© março. “Vamos esperar a ata do encontro e o relatĂ³rio de polĂ­tica monetĂ¡ria do segundo trimestre [publicações do BC] antes de ajustar nosso cenĂ¡rio. Mas jĂ¡ indicamos de antemĂ£o que a probabilidade de o Copom cortar os juros no primeiro trimestre de 2026, que Ă© nossa previsĂ£o atual, diminuiu”, afirmou a instituiĂ§Ă£o.

O Bradesco, por sua vez, reafirmou a previsĂ£o de corte dos juros em dezembro, com a Selic terminando o ano em 14,5%. Os economistas do banco, porĂ©m, vĂ£o reavaliar o cenĂ¡rio nos prĂ³ximos dias.