
Surgida na Europa e amplamente utilizada nos Estados Unidos, a prática do retrofit vem ganhando força no mercado imobiliário brasileiro, em especial no cotidiano de construtores, arquitetos e decoradores. Em tradução livre, o termo significa “colocar o antigo em boa forma”, com o sentido de renovação e atualização, sem perder as características do bem “retrofitado”. Não se trata simplesmente de uma reconstrução ou restauração: o efeito desejado é o renascimento daquele imóvel, dentro de um conceito de preservação histórica e de memória.
Com seus 331 anos, Curitiba é uma das cidades que convive com edifícios de várias décadas, ao lado de empreendimentos recém-lançados. Geralmente localizados na região central, esses prédios e apartamentos atraem um tipo específico de moradores e investidores, segundo especialistas do segmento.
É o que observa Paulo Roberto de Oliveira, diretor da Tantus Imóveis. “O perfil é variado, mas temos observado que a maioria é de homens maduros, que sabem o que procuram, dentro de um nicho ainda novo de mercado, que não tem tanta velocidade nas transações. Lembrando que a ideia do retrofit traz uma característica fundamental: ele não é um apartamento reformado, é um imóvel que passou por uma transformação”, explica.
Outro destaque de imóveis residenciais com retrofit são o tamanho das plantas. “Em geral, os apartamentos mais novos não têm pé direito alto, não têm peças amplas como os antigos. Um prédio novo oferece mais estrutura de lazer, por exemplo, que muita gente gosta. Mas o antigo privilegia a parte interna do apartamento. Tanto que nos antigos, a área privativa é quase igual à área total do imóvel. Hoje em dia, você vê um apartamento com área total de 200m² e privativa de 60m², porque somam outras áreas que contemplam a área total, mas às vezes o cliente nem usa”, detalha Fernando Galvão, gerente de vendas da Galvão Imobiliária e membro da diretoria da Rede Una Imóveis Conectados.

Pé direito alto e cômodos amplos são diferenciais dos apartamentos antigos.
Edifício de mais de 50 anos fica no bairro Cabral. Foto: Tantus Imóveis
Um exemplo é o edifício à venda pela Galvão na Alameda Dr. Carlos de Carvalho, próximo à Praça Osório, datado de 1994, com 12 andares e dois imóveis por andar. “Um apartamento antigo que tenha uma planta boa, com cômodos grandes, piso de taco ou parquet, que são muito bonitos, e ficam novos com tratamento… Quando se investe dinheiro num apartamento desses, com certeza se torna um ativo valioso. E muitas vezes o retrofit é feito apenas no apartamento, não no prédio todo, em edifícios de mais de 50 anos, por exemplo”, ressalta Fernando.
“E tem mais: se um dia esse cliente que reformou o apartamento resolver vendê-lo, vai receber o investimento de volta. Imóvel ‘retrofitado’ vale muito mais do que os demais apartamentos antigos do mesmo edifício”, aponta o especialista.
Nova modalidade
Dentro do conceito de atualização do retrofit, também estão inclusos a transformação, de quartos extras em closet, áreas de serviço em espaços para home office, abertura de cozinha para conceito aberto, entre outras adaptações. Considerando que existem basicamente duas modalidades de imóveis à venda (prontos e lançamentos), o “retrofitado” entra como uma terceira opção na ordem de valores: mais caro que o usado, mas pode ser mais barato que o lançamento.
“No Centro, na Rua Monsenhor Celso, tem um prédio que vamos avaliar em que o proprietário também está fazendo a retrofit para transformá-lo em residencial, para alugar ou vender. Nos últimos anos, temos visto uma desvalorização do Centro, com as pessoas buscando mais os bairros, que contam bastante estrutura e prédios comerciais em crescimento. Vemos isso no Cabral, Portão, Fazendinha, entre outros bairros. Isso se reflete, por exemplo, nos conjuntos comerciais que estão fechando na região central. Está mais difícil de alugar e vender. O retrofit acaba sendo uma opção para resgatar esses imóveis”, avalia Fernando.
Existem empresas especializadas em retrofit, já que vender um imóvel “retrofitado” requer conhecimento sobre esta modalidade de venda. “Sem dúvida, é uma opção para pessoas que querem unir o espaço dos imóveis antigos com a modernidade dos novos. Estamos trabalhando também com algumas unidades de clientes que estão entrando nesse mercado. É preciso estar atento pelo aspecto do condomínio, por exemplo, que precisa de um mínimo de infraestrutura básica. E vale sempre a lei de mercado: o preço do imóvel tem que caber no bolso do nosso cliente. O apartamento pode estar muito bonito, todo transformado, mas precisa ter um valor justo, senão o cliente vai procurar outra coisa”, enfatiza Paulo Roberto.