Laboratório da Facop auxilia na capacitação de alunos da área de asseio (Franklin de Freitas)

As cozinhas estão cada vez mais funcionais e repletas de eletrodomésticos e utensílios mais compactos e modernos. Uma coisa, contudo, não mudou na maioria das residências: a presença do pano de prato, principalmente aqueles tradicionais, de algodão. O que muita gente não sabe, contudo, é que esses panos, se não utilizados adequadamente e higienizados e limpados da maneira correta, podem acabar se tornando um verdadeiro vilão nas cozinhas, carregando germes que podem causar doenças, como infecções alimentares.

Segundo o biólogo Mário Luís Pessôa Guedes, coordenador e professor dos cursos de limpeza profissional na Fundação de Asseio e Conservação, Serviços Especializados e Facilities (FACOP), o que acontece é que o pano de prato costuma permanecer úmido, o que facilita a retenção de gorduras e sujidades durante o seu uso e pode também acarretar na proliferação de bactérias, vírus e fungos. Quando isso acontece, há o risco de contaminação cruzada, ou seja, algo que antes não estava contaminado pode vir a ficar por causa de um pano de prato.

“Quando falamos em pano de prato, falamos de boas práticas de segurança alimentar. Está tudo muito linkado à higiene e manipulação de alimentos e à higiene do local de maneira geral”, em explica o especialista. “Esses panos de prato podem ser foco de proliferação de bactérias e assim a gente leva essas bactérias do pano de prato pra louça que a gente acabou de lavar justamente para remover essas bactérias, esses fungos ou a sujidade do local”, complementa.

A FACOP, inclusive, dispõe de um laboratório para análise microbiológica de panos de prato em Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). No local, alunos que estão fazendo capacitação na área de asseio e conservação (como o curso de limpeza profissional ou de limpeza de cozinha) conseguem visualizar como panos com defeito ou com uma higienização inadequada podem representar um risco.

“Um pano com algum tipo de defeito, como furos, pode não parecer sujo. Mas quando ampliamos isso no microscópio e olhamos no meio da fibra de algodão, vemos que como as fibras ficam um pouco maiores, acabam retendo sujidade. E retendo maior sujidade vai ter proliferação muito maior de bactérias, gerando essa possível fonte de contaminação. E aí a gente pode comparar com os panos de microfibra, que são de tecido sintético, que diminui o risco de contaminação e a proliferação de bactérias também”, aponta Guedes.

Ainda segundo o biólogo, a ideia é mostrar como é importante ter um pano de prato para se secar a louça, especificamente, e não para secar prato, secar as mãos, lavar a piá e segurar outros objetos da cozinha. “Quando você seca as mãos num pano de prato comum e, com esse pano de prato, seca outras louças, as bactérias, os fungos e vírus estão aí, transitando”, explica o biólogo, comentando ainda que um pano de prato contaminado pode carregar bactérias como salmonelose, a escherichia coli ou os staphylococcus aureus, que podem causar intoxicação alimentar.

“A pessoa pode ter vômito, diarreia, até casos mais graves, de desidratação ou até mesmo ficar acamada mesmo, ainda mais se a pessoa tiver comorbidades”, alerta.

Os erros mais comuns cometidos e como utilizar corretamente os materiais

Segundo Mário Guedes, o erro mais comum das pessoas é justamente ter um só pano na cozinha para fazer tudo, quando o correto é ter um pano para cada finalidade: um para secar a louça, outro para secar as mãos, outro para segurar panelas, e assim por diante. Além disso, também é importante garantir que esse pano esteja devidamente higienizado, limpo. E isso vale mesmo para panos novos, que devem ser higienizados antes de utilizados.

“Na parte da higienização dos panos, muita gente lava esses panos com roupas íntimas ou pano normal, o que também pode ser um problema. Orientamos fazer a higienização desses panos separadamente e corretamente, fazendo a desinfecção com hipoclorito, água sanitária, Qboa. Deixa de molho, conforme instrução do fabricante, e depois coloca na máquina de lavar-roupa normalmente”, diz Guedes, comentando ainda que os panos de microfibra, em vez dos de algodão, podem ser uma boa pedida. “Esses panos são fabricados com material sintético, então a probabilidade de proliferação de bactérias é menor e a durabilidade é maior, embora eles custem um pouco mais caro”.

Com relação à periodicidade para a higienização e limpeza dos panos de prato, não existe uma regra fixa, determinada. Em regiões mais úmidas, contudo, o pano de algodão pode demorar mais para secar depois de utilizado e o ideal aí é trocar o utensílio assim que úmido. “Uma vez por dia? Pode ser necessário. Numa casa maior pode ser duas vezes por dia. Mas, via de regra, num uso comum, trocar uma vez a cada dois, três dias, já é o suficiente para manter a integridade e higiene do local”, orienta o especialista.

Mercado aquecido
Desde que teve início a pandemia do novo coronavírus, que fez as pessoas aumentarem ainda mais os cuidados com a higiene, o mercado de asseio e conservação (assim como o da prestação de serviços em geral) vem muito aquecido, o que tem feito a procura pelos cursos da FACOP crescer, inclusive.

“O mercado de trabalho está aquecido no setor de serviços. Parte de limpeza profissional, copa, recepção e até a parte de segurança e de jardinagem também. E o mercado está requisitando os melhores profissionais, que são aqueles capacitados. Com isso, a procura vem aumentando a cada dia, uma vez que profissionais qualificados ganham mais e recebem mais ofertas”, aponta Mario Guedes, comentando que o curso de limpeza profissional da FACOP tem duração de 160 horas-aulas e é realizado aos sábados.

“Dura em torno de seis meses. Aulas de copa também, contemplando desde técnicas ao comportamental”, diz.