Os juros futuros fecharam a quinta-feira em queda firme, refletindo a reprecificaĂ§Ă£o das apostas para esta reta final do ciclo de aperto da Selic e tambĂ©m a melhora do apetite pelo risco no exterior. Declarações de diretores do Banco Central (BC) hoje em Washington foram lidas como dovish, em linha com o que jĂ¡ havia dito ontem o titular da pasta de PolĂtica MonetĂ¡ria, Nilton David. A precificaĂ§Ă£o da curva mostra avanço da expectativa de alta de 0,25 ponto porcentual no Copom de maio e tambĂ©m das chances de manutenĂ§Ă£o da taxa bĂ¡sica em junho, com a curva jĂ¡ apontando Selic terminal a 14,75% e abaixo de 14,5% no fim do ano.
A taxa do contrato de DepĂ³sito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,600%, de 14,677% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 13,86% no fechamento, de 13,97% ontem, e a do DI para janeiro de 2029, de 13,60%, de 13,81%.
A queda das taxas atĂ© meados da manhĂ£ era tĂmida, amparada no recuo do dĂ³lar, limitada pela espera pela participaĂ§Ă£o do diretor de PolĂtica EconĂ´mica do BC, Diogo Guillen, em evento organizado pela XP em Washington, Ă s 12h30. O mercado queria saber se ele repetiria a linha adotada por Nilton David, que ontem sinalizou que o BC jĂ¡ vĂª efeitos da polĂtica monetĂ¡ria atuando na economia. Isso, na visĂ£o dos players, pode resultar em aĂ§Ă£o mais comedida no aperto monetĂ¡rio, tambĂ©m considerando as incertezas do cenĂ¡rio externo.
Guillen, visto como o grande “falcĂ£o” do colegiado, ratificou as expectativas, dizendo que a moderaĂ§Ă£o da atividade, como estĂ¡ no cenĂ¡rio-base da autarquia, Ă© importante para a convergĂªncia da inflaĂ§Ă£o em direĂ§Ă£o Ă meta. Ainda, reiterou a previsĂ£o de que o hiato do produto deve ser revertido, de positivo para negativo, em 18 meses. Conforme o diretor, a polĂtica monetĂ¡ria estĂ¡ funcionando, e em terreno contracionista vai trazer a inflaĂ§Ă£o de volta Ă meta de 3%. Ponderou, contudo, que nĂ£o estava dando guidance para a polĂtica monetĂ¡ria.
Ontem, Nilton havia dito que a atividade, conforme sugere o IBC-Br, excluindo a agropecuĂ¡ria, parece ter atingido um platĂ´ nos Ăºltimos seis meses, um sinal, assim, de que o aperto da polĂtica monetĂ¡ria estĂ¡ funcionando.
Para o gestor de renda fixa da Porto Asset, Gustavo Okuyama, o mercado leu a fala de Guillen como um endosso Ă reaĂ§Ă£o vista ontem Ă s declarações de Nilton David. “Se a leitura do mercado ontem estivesse equivocada, Guillen aproveitaria hoje para corrigir a rota, mas nĂ£o, seguiu na mesma linha. Depois ainda tivemos o Picchetti, que tambĂ©m nĂ£o fez nenhuma correĂ§Ă£o”, avalia. Em evento do ItaĂº em Washington, o diretor de Assuntos Internacionais, Paulo Pichhetti, citou que nĂ£o hĂ¡ dĂºvidas de que a Selic estĂ¡ num grau muito restritivo, embora nĂ£o se saiba se o nĂvel Ă© suficiente.
As apostas para Selic na curva a termo agora estĂ£o praticamente divididas entre altas de 0,50 e 0,25 ponto na reuniĂ£o de maio. A probabilidade de aumento de 0,50 passou de 64% ontem para 52%, enquanto a de 25 pontos subia de 36% para 48%. Para junho, a precificaĂ§Ă£o, agora Ă© de 60% de chance de alta de 25 pontos e 40% de manutenĂ§Ă£o. O pico projetado para a taxa bĂ¡sica era de 14,75% (14,95% ontem) e com nĂvel de 14,45% no fim de 2025, de 14,55% ontem. Os cĂ¡lculos sĂ£o do banco BMG. Esse quadro tambĂ©m Ă© endossado pelas opções digitais de Copom na B3.
Okuyama afirmou que o exterior tambĂ©m contribuiu para o fechamento das taxas. “A combinaĂ§Ă£o da alta do S&P com o recuo dos Treasuries Ă© sinal de ambiente propĂcio Ă tomada de risco, ajudando o dĂ³lar a testar os R$ 5,60, lembrando que daqui a duas semanas pode ser o cĂ¢mbio que vai entrar no modelo do BC”, disse, referindo-se Ă decisĂ£o do Copom em 7 de maio. O dĂ³lar Ă vista fechou abaixo de R$ 5,70, a R$ 5,6912, e a taxa da T-Note de dez anos chegava ao fim da tarde a 4,31%.