O ex-assessor da PresidĂªncia Filipe Martins, o general MĂ¡rio Fernandes e quatro outros militares apresentaram suas defesas ao Supremo Tribunal Federal (STF) no inquĂ©rito da tentativa de golpe de Estado apĂ³s as eleições de 2022. Os denunciados pela Procuradoria-Geral da RepĂºblica (PGR) alegam que nĂ£o tiveram acesso Ă Ăntegra dos autos e das provas coletadas pela PolĂcia Federal (PF) e se queixam do prazo estabelecido para a apresentaĂ§Ă£o das alegações prĂ©vias.
Os advogados dos denunciados tambĂ©m questionam a competĂªncia do Supremo para julgar o caso, alĂ©m de pleitearem o impedimento de ministros, inclusive do relator da aĂ§Ă£o, Alexandre de Moraes.
Para uma parte dos denunciados pela PGR, o prazo de apresentaĂ§Ă£o dos documentos se encerrou nesta quinta-feira, 6. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou sua defesa Ă Corte, alĂ©m do tenente-coronel Mauro Cid e do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Para outros, termina nesta sexta, 7.
MĂ¡rio Fernandes
A defesa do general MĂ¡rio Fernandes questiona a competĂªncia do STF para julgar o caso. Segundo os advogados do militar, Fernandes nĂ£o possui foro privilegiado e o processo deveria ser remetido Ă primeira instĂ¢ncia.
Os advogados tambĂ©m alegam cerceamento de defesa por falta de acesso aos autos, queixando-se do mĂ©todo como Fernandes, que estĂ¡ em prisĂ£o preventiva, foi notificado sobre a denĂºncia da PGR. Segundo os advogados, o general recebeu um pen drive para acessar os autos e, sem acesso a um computador, nĂ£o pĂ´de visualizĂ¡-los.
“ImpossĂvel construir com o requerente (MĂ¡rio Fernandes) a contra argumentaĂ§Ă£o Ă acusaĂ§Ă£o sem que ele possa ver com os prĂ³prios olhos os elementos de informações constantes dos autos eletrĂ´nicos”, disse a defesa do general.
Segundo as investigações, o entĂ£o secretĂ¡rio-executivo da Secretaria-Geral da PresidĂªncia Ă© o autor do plano de execuções de autoridades pĂºblicas batizado de “Punhal Verde e Amarelo”. O esboço criminoso previa assassinatos e sequestros do entĂ£o presidente eleito Luiz InĂ¡cio Lula da Silva (PT), do vice Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes.
Filipe Martins
A defesa de Filipe Martins afirma que nĂ£o houve tempo adequado para a apresentaĂ§Ă£o de defesa, alĂ©m de falta do acesso integral Ă s provas da PF. A alegaĂ§Ă£o Ă© de que, enquanto a PGR teve 83 dias para apresentar a denĂºncia, as defesas dispuseram de 15 dias para a formulaĂ§Ă£o das alegações iniciais.
Essa linha de argumentaĂ§Ă£o acompanha a adotada pela defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro e foi negada pela PGR nesta quarta-feira, 5. “O pretendido prazo idĂªntico ao perĂodo em que os autos permaneceram sob anĂ¡lise do parquet (PGR) igualmente nĂ£o encontra respaldo legal”, afirmou Paulo Gonet em seu parecer.
Os advogados do ex-assessor de Jair Bolsonaro queixam-se de “lawfare”, termo em inglĂªs para “perseguiĂ§Ă£o judicial”. Para definir o termo, os advogados citam uma obra assinada por Cristiano Zanin, ministro do STF que preside a Primeira Turma, onde o recebimento da denĂºncia da PGR serĂ¡ julgado. Se procedente, a aĂ§Ă£o penal tambĂ©m serĂ¡ julgada por Zanin e pelos demais membros do colegiado.
A defesa de Filipe Martins afirma que Moraes estĂ¡ com “pressa”. “O relator tem pressa, mas a sua pressa nĂ£o pode ser realizada Ă s custas do direito de defesa em um devido processo legal”, afirmou a peça da defesa.
Para a PGR, Filipe Martins foi responsĂ¡vel pelo apoio jurĂdico Ă ruptura institucional. Segundo a investigaĂ§Ă£o, ele foi o responsĂ¡vel pela elaboraĂ§Ă£o da “minuta golpista”.
Rafael Martins de Oliveira
Os advogados de Rafael Martins de Oliveira tambĂ©m se queixam de falta de acesso aos autos e de prazo escasso para a formulaĂ§Ă£o da defesa. AlĂ©m de questionar a competĂªncia do STF para julgar o caso com os mesmos argumentos apresentados por MĂ¡rio Fernandes, a defesa alega parcialidade do relator.
“O prĂ³prio ministro relator, em decisões pretĂ©ritas, reconheceu expressamente ‘sua condiĂ§Ă£o de vĂtima’ nos episĂ³dios sob apuraĂ§Ă£o. Tal situaĂ§Ă£o configura hipĂ³tese cristalina de impedimento, nos termos do art. 252, IV, do CĂ³digo de Processo Penal, que veda ao juiz exercer jurisdiĂ§Ă£o em processo no qual ele ‘for parte ou diretamente interessado’. Ora, ser vĂtima (ainda que em tese) de um delito Ă© ser parte diretamente interessada na apuraĂ§Ă£o e no resultado do processo penal respectivo”, disse a defesa.
Segundo a PGR, Rafael Martins de Oliveira participou da elaboraĂ§Ă£o do plano de golpe e, como parte do plano de execuções denominado “Punhal”, monitorou as ações de Alexandre de Moraes
FabrĂcio Moreira de Bastos
O coronel FabrĂcio Moreira de Bastos contesta a denĂºncia a PGR alegando ausĂªncia de provas e uma “imputaĂ§Ă£o genĂ©rica” dos supostos delitos, sem comprovaĂ§Ă£o do “nexo causal” dos fatos narrados.
AlĂ©m de questionar a competĂªncia do relator, a defesa de Bastos quer o impedimento de outros ministros da Primeira Turma por “manifesta parcialidade”.
Os advogados citam uma ocasiĂ£o em que o ministro FlĂ¡vio Dino referiu-se a Jair Bolsonaro como “diabo”. Quanto a Dias Toffoli e Cristiano Zanin, argumentam que “atuaram como advogados do ex-presidente Luiz InĂ¡cio Lula da Silva, opositor polĂtico declarado do ex-presidente Jair Bolsonaro”. Toffoli, na verdade, foi advogado do PT e, durante o segundo mandato presidencial de Lula, advogado-geral da UniĂ£o (AGU).
FabrĂcio, segundo a PF, Ă© um dos autores da carta aberta que buscava angariar apoio para o golpe entre oficiais das Forças Armadas. AlĂ©m disso, de acordo com a investigaĂ§Ă£o, foi responsĂ¡vel pelo agenciamento de “kids pretos” dispostos Ă intentona. Na Ă©poca dos fatos investigados, ele atuava no Centro de InteligĂªncia do ExĂ©rcito.
Rodrigo Bezerra de Azevedo
A defesa de Rodrigo Bezerra de Azevedo alega que nĂ£o foi comprovado o “vĂnculo associativo” do militar com fatos ilĂcitos e pede a revogaĂ§Ă£o de sua prisĂ£o preventiva.
Os advogados tambĂ©m argumentam que nĂ£o houve adesĂ£o concreta a um plano de ruptura institucional pois, apesar da existĂªncia dos atos preparatĂ³rios, nĂ£o houve execuĂ§Ă£o.
Giancarlo Gomes Rodrigues
Os advogados do subtenente Giancarlo Gomes Rodrigues afirmam que a denĂºncia da PGR nĂ£o individualizou as condutas dos implicados na tentativa de golpe.
Ao encontro das demais alegações apresentadas, a defesa afirmou que a denĂºncia nĂ£o impĂ´s “nexo causal” entre as ações de Gomes Rodrigues e os crimes alegados.
Ă€ Ă©poca dos fatos apurados, o militar trabalhava como servidor cedido Ă AgĂªncia Brasileira de InteligĂªncia (Abin) e estava sob o comando de Alexandre Ramagem, hoje deputado federal pelo PL do Rio. De acordo com a PF, Giancarlo atuou “em ações visando criar informações inverĂdicas relacionadas aos ministros do STF, LuĂs Roberto Barroso e Luiz Fux, com o objetivo de desacreditar o processo eleitoral”.