
A hidrocefalia de pressão normal, também chamada de hidrocefalia normobárica, é uma condição neurológica caracterizada pelo acúmulo excessivo de líquor (líquido cefalorraquidiano) no cérebro, mas sem aumento da pressão intracraniana. Mesmo sem essa elevação de pressão, o problema pode causar sintomas graves, como dificuldade para caminhar, perda cognitiva e incontinência urinária.
Esse tipo de hidrocefalia atinge principalmente pessoas com mais de 60 anos e, por isso, seus sintomas muitas vezes são confundidos com os efeitos naturais do envelhecimento. De acordo com especialistas, estima-se que cerca de 480 mil brasileiros possam ter essa condição.
Um dos sinais mais típicos é a chamada “marcha magnética”, quando a pessoa passa a arrastar os pés ou tem dificuldade para levantá-los do chão ao andar. Outros sintomas frequentes são a perda de memória, confusão mental e episódios de incontinência. Esses três sinais nem sempre aparecem juntos, o que pode dificultar ainda mais o diagnóstico.
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Segundo o neurologista Lucas Savelli, do Grupo Valsa Saúde, é fundamental estar atento a qualquer alteração nas capacidades motoras ou cognitivas. “A principal suspeita é clínica, por meio da observação dos sintomas. Mas o diagnóstico é confirmado com exames de imagem, como a ressonância magnética, que mostra o aumento dos ventrículos cerebrais”, explica. Outro exame importante é o TAP test, que consiste na retirada de uma pequena quantidade de líquor com uma agulha na região lombar. Se houver melhora temporária nos sintomas após o procedimento, confirma-se que o acúmulo de líquor está provocando o quadro.
De acordo com o neurocirurgião Fernando Gomes, professor da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do Grupo de Hidrodinâmica Cerebral do Hospital das Clínicas, a hidrocefalia de pressão normal pode ser idiopática (sem causa aparente), mas também pode surgir como consequência de outros problemas. “Um trauma craniano com sangramento, uma meningite ou até cirurgias neurológicas anteriores podem atrapalhar a drenagem do líquor e levar ao acúmulo”, afirma.
O tratamento é feito por meio de uma cirurgia chamada derivação ventrículo-peritoneal. Nela, implanta-se uma válvula no cérebro que permite drenar o líquor excedente para a cavidade abdominal. A tecnologia atual permite o uso de válvulas programáveis, que podem ser ajustadas mesmo após a cirurgia, garantindo maior controle sobre a quantidade de líquido drenado.
Apesar de ser considerada uma cirurgia de complexidade intermediária, a intervenção costuma ter bom prognóstico. “Quando diagnosticada a tempo e tratada adequadamente, há chances reais de o paciente recuperar as funções perdidas”, destaca Gomes. Por outro lado, sem tratamento, a condição pode causar perda da capacidade de locomoção, demência severa e incontinência, comprometendo drasticamente a qualidade de vida.
O alerta dos especialistas é claro: qualquer alteração nas funções motoras ou cognitivas em pessoas idosas deve ser investigada. A detecção precoce é essencial para garantir que a condição tenha um desfecho favorável.