BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Mão aberta levantada, Juan Guaidó, 35, jurou encarregar-se do poder Executivo da Venezuela, às 13h44 da tarde (15h44 em Brasília), sendo aplaudido por manifestantes que foram às ruas nesta quarta-feira (23) para um grande protesto pedindo a saída do ditador Nicolás Maduro.


Centenas de milhares foram às ruas na capital Caracas e em outras cidades, segundo estimativas de agências de notícias.


No palco armado em Chacao, bairro de classe média alta no lado leste de Caracas, o presidente da Assembleia Nacional venezuelana afirmou: “Sabemos que isso vai ter consequências. Mas não vamos permitir que se desinfle esse movimento de esperança, que seguirá ainda por dias, semanas ou meses, e por isso peço a todos os venezuelanos que juremos como irmãos que não descansaremos até alcançar a liberdade”.


Logo depois do juramento de Guaidó, os Estados Unidos foram os primeiros a reconhecê-lo como presidente interino – no total, 13 países já o fizeram, inclusive o Brasil.


Já na praça O’Leary, onde se concentravam apoiadores do regime Maduro, Diosdado Cabello, homem forte do chavismo e presidente da Assembleia Nacional Constituinte, disse ao público que aqueles que tentam usurpar o poder serão “severamente castigados” e que as “forças imperialistas”, se quiserem entrar na Venezuela, “podem entrar, o problema é como elas irão sair”. A multidão aplaudiu.


Logo após a fala de Cabello, motocicletas de coletivos (milícias que apoiam o governo), do Exército e da Guarda Nacional saíram às ruas para dissolver os grupos de antichavistas. Atiravam balas de borracha e jogavam suas motos em direção à multidão, que começou a correr em retirada.


Jovens encapuzados respondiam aos ataques, com pedras, paus e o que podiam encontrar nas ruas.


Às 16h30 locais, Maduro saiu ao balcão do palácio de Miraflores, disse que seu país cortaria as relações com os EUA e ordenou que os diplomatas norte-americanos deixem o país em 72 horas. O ditador desautorizou Guaidó e voltou a afirmar que foi eleito de forma legítima pelas urnas, em maio, em pleito contestado pela oposição e pela comunidade internacional.


Maduro pediu que os militares mantenham a unidade e a disciplina. “Vamos triunfar sobre isso também, sairemos vitoriosos”, disse Maduro. Mais cedo, Guaidó havia oferecido anistia aos militares que se voltassem contra o ditador.


No palco em Caracas nesta quarta, Guaidó anunciou que, no próximo fim de semana, será apresentado o plano de anistia e o programa para a transição que se daria caso seja possível remover Maduro ou caso este renuncie.


Por volta das 11h locais (13h de Brasília), porém, o Tribunal Supremo de Justiça, ligado a Maduro, declarou que a Assembleia Nacional atacava a Constituição “ao tentar usurpar o poder do presidente”.


O Tribunal voltou a declarar que as atitudes do parlamento são nulas e que atentam contra a Constituição.


A data escolhida para as manifestações desta quarta, 23 de janeiro, é uma homenagem ao dia em que foi derrubada a ditadura de Pérez Jimenez (1953-1958).


Numa estratégia para dificultar a repressão, os atos foram realizados em distintos lugares da capital. As colunas começaram a marchar ao som do grito de guerra “sim, se pode”. Outra marcha ocorria na avenida Nueva Granada, com apoiadores de Maduro usando camisetas e bonés vermelhos. Alguns traziam imagens de Hugo Chávez.


As áreas por onde marchavam os manifestantes anti-Maduro estiveram extremamente vigiadas por oficiais armados. Vários deles foram interrogados por cidadãos: “Por que não vêm com a gente?”, ou “juntem-se a nós, vocês também são venezuelanos”.


Houve distúrbios na madrugada de quarta, antes dos protestos, quando quatro pessoas foram mortas em Catia, em El Junquito e na estrada que liga La Guaira a Caracas. Foram relatados episódios de repressão em Caracas, em locais em que predominam eleitores chavistas. Também se ouviram panelaços por toda a cidade durante o dia.


A repressão esteve presente por meio das Faes (Forças de Ações Especiais), do Conas (Comando Nacional Antiextorsão e Sequestro), da Polícia Nacional e da Guarda Nacional Bolivariana. O único morto identificado é um menor, o jovem Allixon Pizani, 16, que participava de uma manifestação com queima de pneus, em Catia.


Em San Felix, ao sul do país, foi incendiada uma estátua de Hugo Chávez. O busto apareceu horas depois, dependurado num poste da cidade.