O presidente Luiz InĂ¡cio Lula da Silva vai se reunir nesta segunda-feira, 17, com a oposiĂ§Ă£o e com o governo da Venezuela, segundo informou uma fonte do governo ao EstadĂ£o. O encontro acontecerĂ¡ durante a 3ª cĂºpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a UniĂ£o Europeia (UE), em Bruxelas, com participaĂ§Ă£o dos governo da ColĂ´mbia, da França e da Argentina.

O presidente Lula, bem como Emmanuel Macron, Alberto FernĂ¡ndez e Gustavo Petro se encontrarĂ£o com Gerardo Blyde, um dos principais negociadores da oposiĂ§Ă£o venezuelana com a ditadura de NicolĂ¡s Maduro e com quem Celso Amorim, assessor especial da presidĂªncia e ex-chanceler, se reuniu em março quando viajou de surpresa para Caracas.

O lĂ­deres tambĂ©m se sentarĂ£o Ă  mesa com Delcy RodrĂ­guez, vice-presidente e a mais alta represente do governo venezuelano na cĂºpula. Segundo a fonte, a intenĂ§Ă£o Ă© manter um diĂ¡logo democrĂ¡tico com os representantes venezuelanos em um contexto eleitoral que se aproxima.

A Venezuela terĂ¡ eleições presidenciais em 2024, porĂ©m, trĂªs dos principais candidatos da oposiĂ§Ă£o tiveram suas candidaturas inabilitadas. No fim de junho, a ditadura de Maduro tornou inelegĂ­vel por 15 anos MarĂ­a Corina Machado, uma das prĂ©-candidatas favoritas. Ela se junta a outros dois nomes importantes da oposiĂ§Ă£o que jĂ¡ haviam sido barrado da disputa eleitoral: Juan GuaidĂ³ e Henrique Capriles.

O governo Lula nĂ£o se pronunciou sobre a inabilitaĂ§Ă£o de MarĂ­a Corina Machado, mas disse ao EstadĂ£o na semana passada que vai manter a disposiĂ§Ă£o de diĂ¡logo de alto nĂ­vel com Maduro.

O tema da Venezuela nĂ£o constava na agenda oficial da cĂºpula, que ocorre nestas segunda e terça-feiras, mas jĂ¡ era uma possibilidade desde que o Parlamento Europeu aprovou uma condenaĂ§Ă£o Ă  suspensĂ£o “arbitrĂ¡ria e inconstitucional” de opositores de Maduro.

Em privado, diplomatas brasileiros admitiram que a inabilitaĂ§Ă£o eleitoral de Corina Machado complica o reconhecimento de que as eleições nacionais em 2024 serĂ£o livres, justas e transparentes. O prĂ³prio governo Lula vinha nos bastidores cobrando Maduro a garantir igualdade de condições aos concorrentes no ano que vem.

Em sua Ăºnica manifestaĂ§Ă£o sobre o caso, o presidente Lula disse que nĂ£o conhecia os detalhes do processo, em vez de sair em defesa do regime. Foi na Ăºltima reuniĂ£o de cĂºpula do Mercosul, em Puerto IguazĂº, na Argentina, quando Lula admitiu “problemas”, dias depois de afirmar que o conceito de democracia era “relativo” e que Caracas promovia mais eleições do que o Brasil.

O governo e a oposiĂ§Ă£o da Venezuela retomaram no ano passado as tentativas de diĂ¡logo no MĂ©xico com mediaĂ§Ă£o da Noruega. O Brasil nĂ£o atua no processo de diĂ¡logo. França, ColĂ´mbia e Argentina agiram para a retomada dos diĂ¡logos em novembro passado.

A vice-presidente venezuelana recebeu autorizaĂ§Ă£o para viajar Ă  capital da BĂ©lgica apesar de estar incluĂ­da na lista de sancionados do bloco europeu. Segundo autoridades diplomĂ¡ticas, a permissĂ£o de RodrĂ­guez permanecer no espaço europeu foi prorrogada para participar da cĂºpula, um precedente previsto no regulamento das sanções europeias.

RodrĂ­guez foi incluĂ­da na lista de autoridades venezuelanas sancionadas em junho de 2018 e, desde entĂ£o, estava proibida de entrar no espaço da UE. Sua inclusĂ£o, porĂ©m, foi motivada, segundo a UE, ao seu papel nas eleições presidenciais que aconteceram na Venezuela em maio daquele ano, nas quais NicolĂ¡s Maduro obteve um segundo mandato.

A reuniĂ£o de Lula com as duas partes ocorre dias depois de a Venezuela afirmar nĂ£o vai permitir entrada de observadores da UE nas eleições de 2024. “Nenhuma missĂ£o europeia de observaĂ§Ă£o volta aqui, nĂ£o voltam porque sĂ£o rudes, porque sĂ£o colonialistas”, afirmou o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, o chavista Jorge RodrĂ­guez.

ApĂ³s 15 anos, a UE enviou uma missĂ£o Ă  Venezuela em 2021 para acompanhar as eleições regionais, destacando melhorias na legislaĂ§Ă£o, mas tambĂ©m deficiĂªncias a serem superadas.